TORCH é um acrónimo médico que designa um grupo de infeções de origem parasitária, viral e bacterianas na gravidez que podem provocar anomalias graves e mesmo a morte fetal:
- T – Toxoplasmose;
- O = Outras (Chamydia trachomatis, gonorreia, sífilis e varicela);
- R = Rubéola;
- C = Citomegalovírus;
- H = Herpes simplex.
TORCH: Infeções na gravidez
Toxoplasmose
A toxoplasmose é uma infeção causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, parasita que se pode hospedar em vários seres vivos, como os humanos, mas que tem como hospedeiros principais os gatos e outros felinos.
A contaminação e passagem do parasita para os humanos faz-se através de alimentos contaminados ou em locais onde possam existir fezes de felinos.
Se a gestante não for imune, para além das medidas de prevenção, a toxoplasmose será rastreada a cada três meses durante a gravidez. Como a infeção não tem sintomas, o diagnóstico baseia-se no doseamento e evolução das imunoglobulinas G e M (IgG e IgM).
A toxoplasmose está associada a uma maior incidência de aborto espontâneo, morte fetal, anomalias fetais, restrição do crescimento fetal e parto pré-termo.
Outras
Chamydia trachomatis
A Chamydia trachomatis é a infeção de transmissão sexual mais comum a nível mundial. Trata-se de uma infeção bacteriana que afeta o útero e o colo do útero nas mulheres e, nos homens, a uretra (canal por onde passa a urina).
A infeção por Chamydia trachomatis pode provocar aborto espontâneo ou recorrente. Na gravidez pode estar na origem da rutura prematura de membranas, coriomnionite (inflamação das membranas fetais – amnio e córion), restrição do crescimento fetal e parto prematuro.
Gonorreia
A gonorreia é uma doença causada por uma bactéria – Neisseria gonorrhoeae – sendo a segunda doença sexualmente transmissíveis mais comum a nível mundial. À semelhança de outras doenças sexualmente transmissíveis pode não apresentar sintomas.
O corrimento vaginal ou do pénis e ardor ao urinar são alguns dos sintomas mais comuns. Se não for tratada, a gonorreia pode dar origem a doença inflamatória pélvica (DIP).
Na gravidez pode provocar aborto séptico, rutura prematura das membranas, restrição do crescimento fetal e parto prematuro.
Sífilis
A sífilis é uma doença de origem bacteriana de transmissão sexual. Com um período de incubação entre 10 a 90 dias, é uma doença que evolui de forma lenta.
Na gravidez, é causa de aborto espontâneo, morte fetal, parto pré-termo e infeção congénita do recém-nascido. O rastreio da sífilis é obrigatório na vigilância pré-natal (nos 3 trimestres da gravidez).
A gravidade da infeção do bebé depende de vários fatores como:
- Estádio da doença materna;
- A idade da gravidez (até às 15 semanas o risco é menor);
- O tratamento da gestante;
- Resposta imunológica do bebé.
O único tratamento eficaz é a penicilina. Se a grávida estiver infetada, o companheiro também deverá ser rastreado e tratado.
Varicela
É uma doença causada por um vírus chamado varicela zóster, um ADN vírus da família dos herpes vírus. A primeira vez que o vírus ataca a pessoa origina a varicela (infeção primária) após a qual, o vírus fica adormecido no corpo nos gânglios nervosos sensitivos.
A varicela é uma doença aguda, muito contagiosa, com um período de incubação entre 10 a 21 dias, com sintomas como febre e lesões cutâneas que mudam de aspeto ao longo dos dias.
As lesões no bebé em caso de infeção podem ser várias, com diferentes níveis de gravidade como anomalias gastrointestinais, atraso no desenvolvimento psicomotor, anomalias cardiovasculares, lesões oculares e neurológicas, microcefalia, hidrocefalia.
Rubéola
A rubéola é uma doença infeciosa benigna, epidémica, febril e eruptiva. É provocada por um vírus Paramyxovírus e caracteriza-se por lesões eruptivas de aspeto variável, mas que rapidamente se generalizam por todo o corpo, e tem um período de incubação que oscila entre os 14 e os 21 dias.
Confere imunidade permanente e a sua única complicação grave é poder provocar malformações congénitas no feto de mães que adoecem com rubéola durante os três primeiros meses de gravidez.
Citomegalovírus
O citomegalovírus ou vírus citomegálico humano (CMV) é um vírus da família dos herpes vírus transmissível por fluídos corporais contaminados – urina, fezes, secreções respiratórias e vaginais – e por via sexual.
Os sintomas podem ser confundidos com os de outras doenças como uma gripe ou uma infeção na garganta, nomeadamente febre, fadiga, gânglios inchados ou dores de garganta.
No recém-nascido, a doença manifesta-se como uma sépsis vírica, pneumonite, colite ou hepatite, afeção do sistema retículo endotelial e do sistema nervoso central.
De todos os vírus que podem afetar o feto, o citomegalovírus é o que mais frequentemente provoca atraso mental e constitui a primeira causa de surdez neurosensorial. É causa de microcefalia e paralisia cerebral.
Herpes simplex
O herpes simplex (HS) é um ADN vírus da família dos herpes vírus, apresentando dois subtipos:
- Herpes simplex 1 (HS1) – principal agente causal de herpes labial;
- Herpes simplex 2 (HS2) – principal agente causal do herpes genital, uma das infeções de transmissão sexual mais comum, transmissível por contacto direto.
A transmissão vertical mãe-filho pode ser intrauterina (5% dos casos), no período intraparto – que vai desde o início do trabalho de parto até à expulsão da placenta (85% dos casos) ou no pós-parto (10% dos casos).
A infeção intrauterina (durante a gestação) apresenta um prognóstico muito grave com microcefalia, hidranencefalia, coriorretinite e microftalmia, sendo a mortalidade muito elevada e as sequelas graves nos bebés que sobrevivem.