A toxoplasmose é uma doença causada por um parasita, Toxoplasma gondii, que infeta humanos. O primeiro contacto com este parasita dá-se, muitas vezes, durante a infância e adolescência. Em jovens e adultos saudáveis não traz consequências de relevo.
Quando ocorre pela primeira vez durante uma gravidez o parasita pode ser transmitido da mãe para o feto. Apesar de inofensivo para a mãe, pode trazer graves consequências para o feto, levando a toxoplasmose congénita.
A frequência desta transmissão aumenta com o aumento da idade gestacional, mas as sequelas mais graves ocorrem quanto mais cedo na gravidez ocorre a infeção.
Como ocorre a infeção?
Este parasita tem como hospedeiro definitivo os membros da família dos Felidae, como o gato doméstico. Durante uma infeção inicial o gato liberta o oocisto do parasita através das fezes durante um período de 1 a 3 semanas. Este oocisto, já nos solos ou águas, torna-se infecioso em 1 a 5 dias depois e permanece infecioso durante mais de 1 ano.
Outros animais como porcos, galinhas, cabras, etc, podem ficar infetados pela ingestão deste parasita através de solos ou águas contaminadas. Isto leva à contaminação da sua carne, que pode chegar à ingestão humana.
Assim, uma mãe pode ser infetada através da ingestão de produtos de animais/solos/águas contaminadas com as fezes de gato infetado. Algumas formas de ser infetada são através do consumo de:
- Carne crua ou pouco cozinhada
- Carne curada ou derivados de carne mal cozinhados
- Leite não pasteurizado
- Fruta e legumes de solos contaminados
- Ingestão de água contaminada
- Ostras cruas, mariscos ou mexilhões colhidos de água contaminada.
Que sintomas posso ter se ficar infetada com toxoplasmose?
Na maioria dos casos a infeção da mãe é assintomática. Alguns sintomas que pode ter são inespecíficos como febre, arrepios, dor de cabeça, mialgias, faringite, entre outros. O aumento de algum gânglio linfático é frequente, sendo usualmente a nível cervical bilateral e não doloroso.
Quero engravidar. Devo fazer o rastreio da toxoplasmose?
Em Portugal, na consulta pré-concecional, a mulher que pretende engravidar será orientada para realizar uma série de análises. Estas servem, entre outras coisas, para diagnóstico de algumas doenças e infeções que podem influenciar a gravidez e o normal desenvolvimento fetal. Entre estas análises encontra-se a da toxoplasmose. Da análise ficará a saber se já foi infetada e está imune ou não (correndo risco de ser infetada durante a gravidez).
Por norma é repetida a análise em cada trimestre de gravidez, caso a futura mãe não seja imune.
Apesar de em Portugal ser feito este rastreio, em alguns países da Europa este não é realizado de forma sistemática.
O que significa “não ser imune” à toxoplasmose?
Significa que nunca contactou com o parasita (o protozoário Toxoplasma gondii) que provoca a infeção.
E se durante a gravidez houver suspeita de infeção?
Como muitas vezes a mãe é assintomática, a suspeita de infeção pode dar-se porque as analises de rastreio em algum dos trimestres mostram infeção recente, ou porque o medico detetou alguma alteração na ecografia
Como tenho a certeza se a infeção é recente?
Existem dois tipos de anticorpos testados no caso da toxoplasmose: IgM e IgG.
Os anticorpos IgM aparecem tão cedo como 2 semanas após a infeção e podem permanecer positivos durante anos. Os anticorpos IgG têm um pico entre as 6 a 8 semanas de infeção e depois vão diminuindo, mas permanecem sempre positivos.
Como a infeção não tem sintomas, o diagnóstico baseia-se no doseamento e evolução das imunoglobulinas G e M (IgG e IgM) sendo possíveis quatro cenários:
- IgG- e IgM- : Não imune;
- IgG+ e IgM- : Imune, sem infeção recente;
- IgG- e IgM+ : Provável infeção aguda: repete IgG de 3/3 ou 4/4 semanas;
- IgG+ e IgM+ : Repete em 3/4 semanas: se IgG- trata-se de uma não imunidade; se IgG+ é uma provável infeção aguda.
Assim, o diagnostico de certeza de toxoplasmose recente, faz-se quando ambas as IgM e IgG passam de negativas numa anterior análise, para positivas.
E se estiver infetada?
Se o resultado do exame for positivo e estiver infetada com toxoplasmose, talvez faça um tratamento com antibióticos para reduzir o risco de transmissão da infeção para o bebé. A confirmação de infeção do bebé faz-se por colheita de liquido amniótico, através de amniocentese (após a 18ª semana de gestação), e análise do mesmo.
Como saber se o bebé foi infetado na gravidez?
Para saber se o bebé foi infectado é necessária a análise do liquído amniótico. Entretanto, nas ecografias da gravidez serão tiradas medidas e observadas as estruturas do bebé que podem ajudar a suspeitar de uma infeção fetal, como:
- Calcificações intracranianas ou hepáticas;
- Hidrocefalia (acumulação de líquido no cérebro);
- Microcefalia (diâmetro da cabeça abaixo da média para a idade gestacional);
- Hepatoesplenomegália (aumento do tamanho do fígado e do baço);
- Hidrâmnios (excesso de líquido amniótico).
Como afeta a toxoplasmose a saúde do bebé?
À medida que a idade gestacional aumenta o risco de infeção fetal aumenta, mas a gravidade da doença é menor.
Sem tratamento, uma grande parte dos fetos infetados no início da gestação morrem in útero ou no período neonatal, ou têm sequelas neurológicas ou oftalmológicas. Os infetados durante o 2º e 3º trimestre de gestação apresentam doença subclínica ou ligeira ao nascimento.
Existe diferentes tipos de apresentação de toxoplasmose congénita:
- Infeção subclínica e/ou Sequelas de uma infeção não diagnosticada que se deteta mais tarde da infância ou adolescência;
- A maioria dos bebés com toxoplasmose congénita tem uma infeção subclínica podendo ou não apresentar mais tarde alguma sequela. As sequelas são mais frequentemente oftalmológicas como corioretinite. Mas também podem existir alterações motoras ou cerebelosas, microcefalia, epilepsia, atraso cognitivo, perda auditiva e atraso do crescimento;
- Doença severa no período neonatal ou doença severa a moderada nos primeiros meses de vida.
Nos recém nascidos com sintomas, os achados mais frequentes são:
- Corioretinite
- Calcificações intracranianas
- Hidrocefalia
- Icterícia neonatal
- Trombocitopenia
- Anemia
- Febre
- Hepatoesplenomegalia (aumento do tamanho do fígado e baço)
- Linfadenopatia (aumento dos gânglios linfáticos)
- Pneumonite
- Rash
- Epilepsia
- Microftalmia
- Microcefalia
Prevenção da toxoplasmose
A prevenção é baseada na evicção das fontes de infeção.
Alimentação
- Evite ingerir águas não tratadas;
- Lave muito bem a fruta e legumes antes de os ingerir (principalmente se for ingerir crú ou com casca);
- Não coma carnes cruas ou mal passadas;
- A carne deve ser bem cozinhada ou ser previamente congelada (-12º pelo menos), o que mata os agentes da infeção;
- Higienize bem as facas e outros instrumentos (como o lavatório) que tenham contacto com a carne crua;
- Evite comer marisco cru, pois a água do mar pode ser contaminada por oocistos de T. gondii que sobrevivem;
- Não ingira leite ou queijo não pasteurizados;
- Lave muito bem as mãos depois de tocar em carne crua para evitar o contágio de outros alimentos.
Contacto com animais e meio ambiente
- Use luvas para fazer jardinagem;
- Lave bem as mãos após entrar em contacto com terra/solo, pois pode inadvertidamente colocar na boca;
- Evite o contacto com gatos que não sejam seus;
- Use luvas para limpar ou manusear a caixa de areia do gato e lave as mãos depois de o fazer. Peça a outra pessoa para cuidar da higiene da caixa de areia;
- Usar água a ferver para desinfetar a caixa de areia ou outros objetos do gato;
- Não alimente o seu gato com carnes cruas.
Evite viajar para locais onde a virulência do parasita é maior (como américa Central e do Sul). Evite também viagens para países em desenvolvimento com maior prevalência de toxoplasmose e, por isso, o maior risco de infeção.