Não há estrelas no céu, não há escuridão, não há noite. Não há silêncio, logo não há descanso! Podia ser assim o resumo da minha experiência no campismo sueco.
E a letra da conhecida canção do Rui Veloso parece feita para aqui. Isto tudo porque quis experimentar viver a natureza como os suecos a vivem.
Não há estrelas no céu
Bem perto da água, das árvores, dos pássaros. E qual o local ideal onde se pode ter isso tudo por quase nada? Um parque de campismo, claro. Pois, o que eu não sabia era que eles vivem isso tudo de uma forma muito “requintada”. Ou melhor, de uma forma muito “prevenida”.
Na verdade, quando entrei no parque de campimo Sunnano comecei por estranhar. É um parque muito agradável para famílias, mas não havia nenhuma tenda, eram só caravanas. Mas estava tão entusiasmada com o local lindíssimo, com a vista que teria do “meu quarto”, que nem sequer tentei entender o porquê daquela situação.
Voltei a estranhar novamente quando dois vizinhos do lado e o responsável do parque de campismo se ofereceram para me ajudar a montar a minha pequena tenda (o vento que entretanto se fazia sentir era bastante) mas na verdade eu tive de lhes explicar como se fazia, acho que eles não sabiam.
Tenda montada, fui tentar jantar. Perguntei à Kamilla, a responsável pelo parque (é gerido por um simpático casal), a que horas fechava o restaurante. “Oito ou nove, depende do tempo”.
Pois, novamente o tempo. Ora, resta acrescentar que fechado o restaurante não havia mais nada para fazer. Fui então dar uma volta à cidade mais próxima: Oregrund.
Quando regressei o parque estava completamente aberto. Não havia qualquer vedação a delimitar, apenas uma separação natural feita de árvores. Havia uma cancela mas estava aberta e a receção, juntamente com o restaurante tinha fechado perto das nove horas.
Eu entrei com o carro já passava das onze da noite e estacionei perto da minha tenda. Agora já sem vento. O céu estava claro como se fossem sete ou oito horas de uma noite de Verão em Portugal.
O vizinho de trás viu-me chegar e acenou-me. Eu acenei de volta e ele perguntou-me se eu era da Polónia, porque tinha visto o P na matrícula do carro. Respondi que não, que era de Portugal (pelo silêncio quase que acredito que ele não sabia de que país estava eu a falar). Eu aproveitei então para perguntar quando ía escurecer. “Não vai” disse ele. E eu fiquei fascinada. Ía ter a possibilidade de assistir a uma longa noite de Verão sueco.
Como os festejos da noite do Midsommar são sempre a uma sexta-feira, matematicamente falando, a noite mais longa pode não ser a da festa. E por isso algumas noites antes ou depois pode realmente ser a mais longa onde não chega a escurecer.
O que eu não podia saber é que apesar da interessante oportunidade, não estava de todo preparada para não poder descansar. Não pela luz mas pelo simples facto de como não escurece, os animais não distinguem a noite do dia e não param a sua atividade. Por isso toda a noite ouvi pássaros, cisnes, gaivotas e o que me pareceu a floresta toda a movimentar-se (que é como quem diz, a fazer imenso barulho).
Fiquei a saber mais tarde que se pode acampar durante 24 horas onde quisermos na Suécia. Não é preciso qualquer autorização, só encontrar um local e montar a tenda. Mas a verdade é que eu ainda não vi qualquer situação dessas desde que cheguei à Suécia e já cá percorri muitos quilómetros.
E agora já sei porque era a única tenda no parque de campismo onde fiquei. Sei agora também que era a única campista do Sul da Europa e a primeira portuguesa alguma vez por ali.
Hoje sei que os restantes viajantes usam as suas caravanas ou alugam as “cabanas” (pequenas casas de madeira) porque já sabem o que os espera. Agora já sei.
Joana Batista autora do blog Viajar em Família