A maternidade é a lição de vida maior. Ser mãe é a experiência mais da viva da humanidade. Conceber uma vida é o verdadeiro milagre da natureza humana. Só quando nos tornamos mães vivemos na plenitude o amor. Que transcende a força do ser mortal. O verdadeiro amor incondicional que nos faz querer viver para sempre, ter uma força sobre-humana.
Até conhecermos os prazeres e as dores da maternidade e da paternidade sabemos pouco da vida. Da matéria de que é feita. Não temos real consciência da nossa finitude.
Não sabemos relativizar verdadeiramente aquilo que é acessório. Julgamo-nos imortais e que os amores e desamores que já experienciámos eram muito fortes. Que nos tiravam o fôlego e nos faziam deixar tudo para trás para os perseguirmos.
Quando nos nasce um filho, nasce-nos uma esperança. Renasce-nos o sonho. Renasce-nos o que já sabíamos quando éramos mais pequenos. A certeza de que a vida é uma bênção. Que a sua magia está em cada oportunidade que nos é oferecida a cada manhã. Que o seu mistério nos relembra que, da mesma forma que não sabemos como cá chegamos, não conhecemos a data que consta no bilhete de regresso.
Um filho é uma pausa na rotina. De acharmos que os dias são iguais e se repetem. De nos esquecermos que somos mortais. Um filho é uma sentença de liberdade. A liberdade que só o amor mais puro traz. A coragem que só a completude do amor nos ampara.
Focamo-nos, desde cedo, em darmos a melhor educação ou a educação certa aos nossos filhos. E esquecemo-nos de olhar com atenção para o reboliço de emoções que a sua presença nas nossas vidas trouxe. Como que sentimos que o nosso coração ganhou pernas e seguiu o seu caminho fora de nós.
A reeducação que um filho nos traz é talvez a experiência mais especial da nossa vida. Não há escola como a maternidade ou paternidade.
Mikaela Övén, nos seus livros sobre parentalidade consciente, afirma que não há melhor curso de desenvolvimento pessoal. Intenso, diário, completo. Que, ao longo dos anos em que o nosso filho vai crescendo, nos dá ferramentas para crescermos também. Para nos tornarmos pessoas mais serenas e felizes. Que nos faz lidar com a nossa sombra, com as nossas frustrações e raiva. Com as nossas expectativas. Com a nossa paciência e capacidade de autocontrolo. Não há forma melhor e mais rápida de evoluirmos igual ao privilégio de viver todos os dias lado a lado com um mestre.
Um mestre que nos reensina a coragem. A ousadia. A persistência em não desistir do que quer. Seja gatinhar ou dar os primeiros passos. A genuinidade do sorriso. Quando uma criança sorri o sorriso é verdadeiro, não esconde nada nem tem segundas intenções. Quando não gosta de algo reage, chora, deita fora. Não tenta agradar os outros, prejudicando-se.
Uma criança é capaz de se entreter tempos a fio a abanar uma garrafa vazia com feijões dentro. Atrás de um gato ou a observar os peixes. Não vive a correr, faz a sua rotina matinal com calma. Demora a alimentar-se, demora a sair da cama, demora a lavar os dentes, demora, fica, usufrui. Não entende a nossa pressa, um disparate do mundo dos adultos! Relembra-nos a necessidade de abrandar, de desfrutar de um bom pequeno-almoço antes de seguirmos para o trabalho, de fazermos as coisas com mais calma, de pararmos. Afinal corremos tanto para quê e para onde?
Um filho chega-nos e vive no presente, abraça muito, diz-nos o que sente muitas vezes: “Estou feliz”, “Adoro-te, mamã”, “Adoro-te, papá”. Com pouca coisa é feliz. Desde que estejamos por perto, que abracemos e que brinquemos muito. E nós, se formos espertos, paramos e reaprendemos, mudamos e crescemos com eles. Na bênção que é estarmos juntos na caminhada.