Carina Pereira é mãe de Rodrigo e Miguel, e a autora de Go Baby, Go! Blog. É formada em gestão, mas assume que a sua “profissão” de mãe lhe toma grande parte do tempo. Foi desse tempo que passa com os filhos, que Carina criou o blog, que começou como um registo de vários momentos de Rodrigo e Miguel. Contudo, agora, partilha actividades que faz com os filhos e lugares que conhece em família, que influencia outras pessoas a fazer e conhecer.
Que palavra escolheria para se definir enquanto mãe?
Imperfeita, como todas as Mães, todos os seres humanos são. E não quero ser perfeita! Quero ser a Mãe que os meus Filhos precisam, aprender, saber ouvi-los, estar presente, descomplicar, saborear. Sei que erro todos os dias. E aprendi a aceitar que isso faz parte da minha construção enquanto Mãe.
O que mudou na vida com a chegada dos seus filhos?
Tudo! Esta é uma daquelas coisas que só depois de ser Mãe se compreende verdadeiramente. Mudou, sem dúvida, a perceção sobre o que é importante!
Sei que hoje sou uma pessoa diferente, com opiniões diferentes, com necessidades diferentes. E isso é uma coisa boa! Cresci imenso, enquanto ser humano, depois de ser Mãe.
As decisões deixaram de ser para dois e passaram, naturalmente a ser para 3, e depois para 4. Sem qualquer constrangimento.
E também mudou a noção sobre o que um Filho meu nunca fará ;).
Qual é para si o maior desafio na vida de uma mãe?
Aprender a saber ouvir o seu instinto. Eu andei algum tempo muito dividida entre aquilo que eu ouvia dizer que devia ser feito e aquilo que eu sentia que o meu bebé precisava (nesse aspeto o mais novo teve muito mais sorte). Aquelas coisas simples como o adormecer ao colo, o pegar nele mal ele pedia, ou dar-lhe de mamar quando ele queria, por exemplo. Ou outras, como o saber se ele tinha febre, mesmo antes de a medir. Ou quando algo o deixava desconfortável. Aos poucos fui percebendo que aquilo que eu tinha vontade de fazer não estava errado. Bem pelo contrário. Que aquele era o MEU Filho e que, realmente, eu sabia o que fazer.
Conte uma história caricata, que tenha marcado a sua maternidade até agora.
O meu Filho mais velho, que agora tem 6 anos, gosta de levar a sua “Joaninha” a passear. A Joaninha é, nas palavras dele, “uma bebé, de zero anos, que gosta muito de passear”. É uma boneca, que chora, ri e diz “Papá, Mamã”. Ora, acontece, com frequência, ele ser abordado por pessoas que não nos conhecem de lado nenhum, e lhe perguntam o que é que um rapaz faz com uma boneca. Ele, indiferente à estupefação de quem o aborda, explica com muita paciência, e com toda a naturalidade, que a bebé gosta muito de passear e que está a gostar muito de conhecer o sítio onde estamos. E segue com a brincadeira.
Eu, para não reforçar a pergunta descabida, não digo mais nada. Mas confesso que fico sempre cheia de vontade… Por vários motivos! Desde logo porque, se ele está com a Mãe, a brincar com uma boneca, é porque é suposto e não será uma desconhecida (sim, porque são sempre mulheres…) que deverá interferir. Depois, porque é urgente acabar com o preconceito de que há brinquedos de menina e de menino. Se é um brinquedo de criança, é para as crianças brincarem. Sejam meninos ou meninas. Quando toda a gente aceitar isto, tenho para mim que a desigualdade de género tem os dias contados!
Em que momento decidiu criar o blog “Go Baby, Go!”?
O blog surgiu para registar momentos, para eternizar gracinhas, para mais tarde recordar e lhes mostrar. Surgiu porque escrever era uma forma de processar e organizar todos os sentimentos que ser Mãe de primeira viagem trazem consigo. Eu sempre gostei de escrever, sempre me ajudou a refletir sobre o que me acontecia, e durante muito tempo, o blog foi um diário, quase pessoal. Com o passar do tempo fui percebendo o impacto que algumas coisas que escrevia tinha.
Quando, em 2015, lancei uma petição para o Alargamento da Licença Parental Inicial para os 6 meses, percebi que o blog podia, e devia, ter uma dimensão diferente, que podia deixar de ser apenas um diário pessoal, para se transformar em algo mais útil. Nessa fase eu já não sentia tanta necessidade de processar o que a maternidade me trouxe (lá está, já tinha aprendido em confiar no meu instinto) e vi que partilhar as atividades que fazíamos, os passeios que dávamos, as nossas experiências, ajudava outras Famílias a descomplicar o dia-a-dia, a ver que era mais fácil do que parecia fazer todas essas coisas. Aos poucos, o “Go Baby, Go!” foi-se transformando naquilo que é hoje.
Como descreveria o “Go Baby, Go!”, para quem não o conhece?
O blog pretende inspirar as Famílias a criar memórias felizes. Seja através da partilha de passeios e viagens (porque viajar com os mais pequenos não só é possível, como nos possibilita ver o Mundo, pelos olhos deles e isso é extraordinário), de atividades e ideias criativas, para fazer com as crianças (como sei que nem sempre é fácil pesquisar atividades e experiências giras para fazer com os nossos Filhos, partilho aquilo que fazemos, para dar uma ajuda a quem gostaria de o fazer, mas não tem tempo para procurar essas ideias), seja pela reflexão sobre as condições necessárias para que haja uma conciliação efetiva entre trabalho e família (onde se enquadra, por exemplo, a iniciativa legislativa do cidadão para o Alargamento da licença parental inicial, que é uma evolução da petição de que já vos falei, e para a qual estamos neste momento a recolher assinaturas aqui)
Uma coisa boa e uma coisa menos boa que o “Go Baby, Go!” tenha trazido.
É difícil escolher só uma coisa boa. Conhecer pessoas, que não teria conhecido de outra forma, é, sem dúvida, uma das minhas partes preferidas. Mas, uma das coisas que mais gosto é quando alguém me diz que fez uma atividade que viu no blog, ou que visitou um sítio que nós partilhámos. Fico com a sensação de dever cumprido, por ter, de facto, contribuído para que aquela Família tivesse passado bons momentos, junta.
A coisa menos boa, e como partilho tanto daquilo que fazemos, é nunca desligar o “chip” de tirar uma foto que possa usar para o “Go Baby, Go!”. Desde cedo decidimos que não queríamos expor os miúdos em demasia nas redes sociais, e a criação do blog não alterou isso. Ou seja, nem todas as fotos que tiramos (e somos uns autênticos foto-aholics) são partilháveis. Por isso, tenho sempre esse cuidado extra.
Que conselho gostaria de deixar a quem está prestes a ser mãe?
Confiem no vosso instinto, construam uma rede de apoio (daquelas que apoia mesmo e não dá apenas palpites), sejam tolerantes e empáticas com outras Mães, principalmente se tiverem uma opinião diferente da vossa, e aproveitem ao máximo cada momento, porque eles crescem tão depressa…
Obrigada Carina!