Já vivi em cidades grandes, como Londres ou Doha, já vivi em cidades pequenas e agora mudei da cidade para o campo.
Não! Estou óptima do meu juízo! Não! Não sou hippie!
Depois de verbalizar que iríamos viver para o meio do campo (sem vizinhos), e as avós começarem a agir como se fossemos emigrar para a Austrália (são 20km da cidade), o espaço temporal foi curto. Já a adivinhar que o melhor é lançar a bomba e nem esperar pelos estilhaços. É fugir logo!
Inscrevemos o miúdo no infantário da aldeia. E começamos a ler artigos altamente técnicos e úteis, com títulos a prometer aniquilar a minha ansiedade: 12 dicas para lidar com a mudança de escola do seu filho; Como ajudar seu filho a se adaptar na nova escola; Escola nova: mudei o meu filho de colégio, e agora?; e por aí fora… Como se as crianças fossem todas iguais e os pais também.
Não se passou nada. Nem uma birrinha de primeiro dia! Ao fim de 2 dias, eu é que lhe perguntava: Como se chama esta senhora?
Sabem como são os infantários na aldeia? Pequenos no interior, gigantes no exterior, com árvores, caixa de areia, relva, baloiço. São acolhedores, promovem actividades como nunca vi na cidade: É dia do bombeiro? Os bombeiros entram com o camião dentro do parque. É dia dos correios? Vão colocar as cartas para a família, no marco do correio, no outro lado da rua. Piqueniques, pequenos passeios a pé, ao mercado, à olaria, etc. Horrível para os miúdos!
Mudamos para o campo, não porque a cidade nos cansa, mas porque o campo tem mais virtudes, caracter e simplicidade. E um ritmo, característico que faz com que toda a gente conduza a 20km/h e pare no meio da estrada para colocar a conversa em dia com a vizinha, por minutos intermináveis. Respira fundo!
Sentíamos o apelo pela Natureza. Uma vida em que o miúdo pudesse calçar umas galochas e brincar com a terra, quando lhe apetecesse. Com uma pá e um balde, brinca a tarde inteira. Uma vida, em que vou de bicicleta comprar pão ao centro, e volto em 15 minutos.
A vida segue uma ordem natural, e eu sinto agora que nunca poderia ser feliz noutro lado.
No campo sente-se o tempo. Sente-se o tempo meteorológico com mais intensidade (esteja frio ou calor), e sente-se o tempo da vida, mais contemplador. Gostamos de acordar aqui, com muita luz e um chão imenso de madeira.
Há bichos!! Há pássaros, sapos, mosquitos, aranhas, raposas, e uma série deles que nem sabemos o que são… O miúdo não tem medo deles, encarou-os mais pacificamente do que eu.
Trocamos espaço interior de um apartamento grande com janelas que isolam do barulho, para uma pequena casa térrea onde o vento assobia nas frestas. Mas temos lareira! Sim cheira a fumo de vez em quando! E então?
Na cidade a chuva incomoda. Fugimos dela, stressados andamos de parque subterrâneo, em parque subterrâneo. No campo a chuva faz falta, as nossas plantas agradecem, e nós também. Não há ninguém, verdade? Podemos ir à rua de galochas e oleado, sem medo de parecer parolo.
Dizem-nos que vamos ter saudades de sair de casa só fechando a porta à chave, de estar perto das lojas e restaurantes, museus… Piada!! Quem é que vai ao museu da própria cidade?!
A parte que gosto mais?
Toda a gente adora cá vir. Dizem mil vezes que jamais moravam isolados, mas reconhecem que este lugar é um pedacinho do céu, que nós estamos em comum com a natureza e que é muito bom estar aqui connosco.
Não vou trocar isto por uma cidade. Prezo o tempo que ganhei, o ar puro, as árvores de fruto, as novas rotinas, tudo é mais barato e mais saboroso.
Saber apreciar estas pequenas (muito grandes) coisas da vida, vem com a idade. Eu já morei em grandes cidades cosmopolitas, lembram-se? Para descobrir este lado, é preciso ter vivido no outro!