Foto: Rita Franco de Sousa
Rita Franco de Sousa era psicóloga educacional e o seu trabalho incidia na avaliação e intervenção psicopedagógica em crianças com dificuldades específicas de aprendizagem. Além disso, dava formações e sessões de orientação profissional. Tudo mudou quando, na gravidez do seu primeiro filho, Simão, pôs as mãos à obra e dedicou parte do seu tempo livre à conceção de produtos de puericultura, criando posteriormente a sua marca, “Pulguinhas”.
Rita conciliou o trabalho de psicóloga com o da sua própria empresa até ao nascimento do terceiro filho, Lourenço, em 2012. Atualmente, mãe de quatro rapazes (Simão, Mateus, Lourenço e Estêvão), Rita Franco de Sousa conta-nos em entrevista o seu percurso profissional e deixa alguns conselhos para mães ou futuras mães empreendedoras que pretendam lançar os seus próprios negócios.
Como e quando surgiu o projeto Pulguinhas?
Conceber as peças, pensando no design e na função, aliado à futura condição de mamã [estava grávida de Simão, o primeiro filho] foi a mistura especial que fez nascer a Pulguinhas em 2006.
Quando, em 2009, engravidei novamente (do Mateus) mais ideias foram surgindo. Começaram também a surgir pedidos de amigos que queriam ter no enxoval dos seus bebés as peças Pulguinhas.
Em 2010, com todo o apoio que já tinha, lancei a página no Facebook. A partir daí, o apoio de amigos e desconhecidos cresceu, tendo chegado a marca a vários cantos do país (atualmente já vai além fronteiras). De repente, tinha uma rede de mamãs e de famílias que encontravam nas peças Pulguinhas que eu estava a criar, as soluções úteis e os mimos que queriam também para os seus bebés.
O hobby da Pulguinhas foi progressivamente ganhando mais espaço e força no meu dia a dia até que, em 2012, com a chegada do Lourenço, percebi que tinha de rever o meu foco. Tinha três filhos, uma carreira já de 10 anos como psicóloga educacional, e tinha simultaneamente um projeto muito especial que me dava muito prazer e a verdade é que não tinha tempo para tudo. A escolha foi o resultado de uma reflexão profunda e foi uma decisão difícil de tomar, mas no final de contas acabei por perceber que o melhor para mim e para a minha família era abdicar da psicologia e fazer do hobby profissão.
Afirma, na biografia do seu site, que “quando nasce um bebé podemos sentir que nos faltam braços para a doce dimensão da tarefa. Sabemos que é algo de muito precioso que precisa de nós e do nosso amor, sempre”. Posto isto, qual é exatamente o objetivo da marca?
Sendo mãe de 4 rapazes, o Simão, que tem quase 14 anos, o Mateus, de 10, o Lourenço, com 7, e o Estêvão, de 2 anos, sei bem o que é querer esticar os braços de forma a conseguir fazer tudo [as tarefas rotineiras do dia a dia]. As tarefas multiplicam-se e a mãe já não se divide mais. Foi por causa desta experiência – pela qual todas as mães passam, tenham elas um ou quatro filhos – que percebi que os artigos que me faltavam não podiam ser só queridos ou fofinhos. O que eu precisava era de peças que tornassem a minha vida mais fácil e que me permitissem dar resposta a tudo o que precisava. Para poder sair de casa e amamentar sem me sentir constrangida em qualquer lugar inventei o avental de amamentação. Para poder estar mais à vontade na hora de dar o banho sem ter de apanhar uma molha e andar atrás da toalha, criei o avental que se transforma apenas com um só “botão” e para poder continuar a fazer um dia a dia de trabalho e tarefas domésticas sem depender de carrinhos ou dos dois braços ocupados, criei 3 modelos de Slings (porta-bebés). Por isso, a missão e o objetivo principal da Pulguinhas é mesmo facilitar a vida aos pais e encher de mimo os dias dos bebés.
Que lacunas pretende a marca preencher no que respeita às necessidades dos pais?
Sabemos que a falta de tempo é uma das maiores questões dos nossos dias. Não podemos falhar com o trabalho e tarefas diárias, mas ao mesmo tempo recusamos abdicar de ter tempo de qualidade com os nossos bebés. Por isso, o que procuramos é criar artigos que permitam o multi-tasking e simplifiquem a vida das famílias. Se queremos dar colo e responder a um email, isso não é o fim do mundo. Além disso, também queremos que as peças que se compram quando nasce um bebé sejam tão práticas, tenham um estilo versátil, que vai para além do boneco infantil, e garantam qualidade de excelência para que se mantenham a uso durante vários anos.
Quais as principais dificuldades com que se deparou ao criar a sua própria marca?
Tudo o que vale a pena é difícil. Foi preciso fazer escolhas e ao longo do meu percurso foram sempre aparecendo desafios: investimentos com que não se contava; um ou outro bug na construção de novas funcionalidades da loja online; as deslocações para avaliar materiais; as mudanças de armazéns (e de casa também!) e as “horas fora de horas” que se consomem quando se tem negócio próprio. Portanto, à medida que estes desafios iam surgindo fui aprendendo a lidar com eles. Umas vezes melhor, outras a aprender, mas sempre com a certeza de que o que não tem remédio, remediado está… e para tudo o resto conto com uma família maravilhosa e uma equipa incrível que me dá muita força.
A Pulguinhas tem uma linha com mais de 60 artigos 100% portugueses.
Que tipo de artigos tem ao dispor dos pais e qual a razão pela qual decidiram apostar na conceção e produção exclusivamente portuguesas?
Ao longo da história da Pulguinhas fui conhecendo cada vez mais profissionais excelentes a quem reconheço não apenas o talento como também o seu empenho para que nada falhe. Todos participam na criação/idealização de novas peças que a coleção vai crescendo, sendo que há sempre “os eleitos” como é o caso dos três modelos de slings, os conjuntos de malas para maternidade ou as almofadas de amamentação. E em equipa que ganha não se mexe. Além disso acredito que as empresas portuguesas são capazes de criar o melhor ao nível de design funcional e apelativo e devemos apoiar o que é nosso, sobretudo ao nível do empreendimento local.
Além da comercialização de produtos para todo o seio familiar, a Pulguinhas conta ainda com um blog no qual são abordados tópicos sobre a gravidez e a infância, como a amamentação e cólicas no bebé.
Quando decidem avançar para a criação do blog e por que razão?
Desde o início que fomos recebendo dúvidas, nossas (da equipa Pulguinhas) enquanto mães e pais e também de outras famílias Pulguinhas. Ao mesmo tempo, descobrimos uma rede cada vez maior de especialistas com projetos muito interessantes e úteis na área da maternidade e infância que apenas precisavam de um “palco” para expor e divulgar as suas ideias. Daí às entrevistas foi um “pulinho” e agora fazemos também lives com AMA (ask me anything[, “pergunta-me qualquer coisa” em português]) no perfil de Instagram da Pulguinhas, por exemplo, onde as nossas plataformas ficam ao serviço dos pais (que ficam mais informados) e dos especialistas (que comunicam os seus projetos). Depois, publicamos tudo no blog para que fique sempre disponível.
No decorrer deste processo, existiu algum momento em que duvidou se seria este “o caminho”?
As dúvidas serão sempre uma constante, mas cada vez que me questiono, olho para trás e percebo o quanto já percorremos. Não posso deixar de me sentir orgulhosa e mais segura. Tudo o que vivemos trouxe-nos até aqui.
Dez anos depois do lançamento da marca, o que sente relativamente ao caminho até aqui traçado?
Sinto-me muito sortuda e muito grata por poder unir todas as minhas paixões – da costura, aos bebés, passando pela fotografia, etc. – no meu trabalho diário e por ter a grande família com que sempre sonhei. É muito trabalho, mas não queria que fosse de nenhuma outra forma.
Contando com inúmeras parcerias, participação em alguns workshops e podcasts, como é gerida uma carreira profissional e ainda a árdua tarefa de mãe de quatro filhos e a de mulher?
São dias muito compridos (que, nesta fase de confinamento e desconfinamento, com a escola em casa ficam ainda maiores), mas basicamente passa por conciliar tudo, recorrendo ao multi-tasking, confiando na equipa que tenho e a tentar focar-me sempre no essencial: tempo de qualidade, prazos e compromissos (que não podem falhar). Tudo o resto é bónus.
Por fim, que conselhos daria às mulheres que pretendem ser mães (ou já o são) e querem criar o seu próprio negócio?
Que invistam na criação do que desejam porque ninguém o vai fazer por elas e não vai aparecer a “altura perfeita”. Todos os momentos são bons para se começar a fazer o que se gosta e, com passos maiores ou mais seguros, o que importa é saber que todas as grandes viagens começam com um só passo.