Trabalhar em casa é uma opção de muitas mães nos dias de hoje. Com o trabalho remoto a proliferar em muitas áreas de negócio, basta a qualquer pessoa ter um computador, acesso à internet, um telemóvel, e pode administrar várias áreas da sua vida ao mesmo tempo.
Portanto, sem horários rígidos impostos pelo patrão, sem tempo e dinheiro gasto em combustível e deslocações, sem ter de trabalhar com pessoas com as quais não se identifica, sem ter de preparar a sua lancheira, sem ter de correr para o infantário já de noite com as costas carregadas de culpa e sem necessitar de ter a roupa sempre impecável.
A ideia de ter liberdade é bastante agradável, e muitas pessoas fazem esta opção.
Para uma mãe, a ideia é especialmente cor-de-rosa porque nos permite cuidar do lar e da família “como deve ser”. Mas… cuidar do lar e da família é, em si, um trabalho exigente e a tempo inteiro.
Pode a opção de trabalhar em casa tornar-se num pesadelo?
A resposta é sim.
Achamos que somos organizadas, temos tudo controlado: lancheiras, fardas, refeições, compras, etc. Mas, trabalhar em casa eleva a organização para outro patamar.
Se acham que são organizadas, a vossa confiança vai levar um abanão!
Eu trabalhei 17 anos na mesma empresa, tinha horário e geria a minha vida pessoal em redor desse horário. Achava que andava constantemente à pressa, a vida corria e eu sentia culpa. Com o apoio do meu marido, despedi-me e vim para casa, confiante que era mais fácil do que ir todos os dias para o emprego.
Errado!
Acordava cedo para fazer pequenos-almoços, quando às 08h40 a casa ficava vazia, olhava em volta e começava a arrumar: loiça, migalhas no chão, camas desfeitas, brinquedos espalhados, toalhas no WC… 09h30 sentava-me no computador, revia as tarefas, e lembrava-me de qualquer coisa: roupa para colocar a lavar, lista de compras, regar plantas, lavar alpendre, etc. Levantava-me e ia fazer, perdendo a manhã quase por completo.
Hora do almoço. Estamos em casa, faz sentido almoçarmos juntos. Quem faz? A mãe que está em casa, pois claro.
Seguindo-se novamente a loiça, as migalhas e nova tentativa de prosseguir com o trabalho.
São 15h30, daqui a um bocadinho tenho de me vestir para ir ao infantário, o miúdo quer voltar para casa cedo, e foi para isso mesmo que decidi trabalhar em casa: para lhe dar toda a atenção.
E assim, os dias tornam-se em semanas, o trabalho a que nos propusemos começa a acumular e a frustração começa a ter início. Começamos a ter o computador ligado dia e noite, e a sentar na cadeira em bocados de tempo intermitentes, e pouco rentáveis. Se o trabalho é criativo, e a concentração é necessária, vamos entrar numa espiral de protelação que, além de não nos pagar as contas, ainda nos dá muito stress.
Trabalhar em casa é possível. É bastante agradável. Permite autonomia e qualidade de vida. Mas, é mesmo preciso ter uma boa capacidade organizacional (não aquela que tínhamos na nossa vida anterior!), e a mentalização de que não é mais fácil, nem menos trabalhoso.
Se não têm essa capacidade de organização espectacular, como eu não tinha, aqui ficam umas dicas preciosas:
- Ter horário para levantar. Mesmo que o nosso marido seja prático, e sozinho trate de toda a logística matinal, não ficar a dormir é a chave para começar bem o dia. Ficar a dormir além de nos fazer perder a manhã, ainda nos dá a sensação de pouca energia.
- Vestir roupa para o seu trabalho. Sim é verdade que não precisa de calçar os saltos altos ou a farda, mas andar de pijama e pantufas dias seguidos é deprimente e desmotivador. Opte por uma roupa prática, mas sem perder o hábito de se arranjar de manhã. O nosso marido também agradece!
- Preparar uma boa área de trabalho. Uma boa cadeira, apoio para os pés, secretária (não use a mesa da sala ou da cozinha!), para que sinta que aquele é o seu local de trabalho. Ter o material de trabalho espalhado pela casa tem dois efeitos nefastos: a casa está sempre desarrumada, e está constantemente a olhar para o trabalho e a relembrar tarefas, o que não é nada bom. Também evita mãos rechonchudas cheias de chocolate a passear no seu computador e nas folhas de apontamentos. Na sua secretária ninguém mexe.
- Organizar as contas. Se antigamente o seu ordenado vinha para a sua conta num dia certo mensalmente, talvez agora seja incerto, e ter tudo a convergir para a mesma conta pode ser um desastre. O melhor é ter duas contas separadas, ou um simples ficheiro Excel para controlar os pagamentos.
Sermos o nosso próprio patrão traz muitas responsabilidades e é necessário estabelecer objetivos e prazos. Deixamos de ter subsídio de férias e de Natal, e temos de pensar como vamos colmatar este dinheiro extra que entrava no orçamento todos os anos.
- Fazer pausas. Pausas verdadeiras, e não pausas para ir estender a roupa na corda. Há tendência para trabalhar mais horas de seguida, pois não tem interrupção da hora do almoço. Também é tendência pegar numa sanduíche e comer em frente ao computador, ou saltar refeições. O que eu acho que funciona bem, é fazer uma pausa para almoço de preferência com companhia, sair para fazer algumas tarefas/compras, mas com hora para terminar e regressar ao trabalho.
- Obrigar-se a ter o fim-de-semana livre. Não vai ser fácil! Mas é muito importante que o faça, para haver uma pausa…
- Cuidar bem da saúde. Deixamos de perder tempo em deslocações, mas para onde foi esse tempo? Para não sentir que pura e simplesmente desapareceu, invista em exercício físico. As suas costas agradecem.
- Sair para trabalhar. Tem liberdade para tudo, até para, se lhe apetecer, sair para trabalhar. Pode ser numa cafetaria confortável, numa esplanada junto ao mar ou num espaço de coworking, onde pode conviver com outras pessoas na mesma situação, fazer colegas e ter um ambiente de trabalho, que pode vir a sentir falta com o passar do tempo. Os espaços de coworking são especialmente bons para estabelecer ligações empresariais, preencher aquele costume de beber um café e conversar com um colega de trabalho.
- Redes sociais em modo offline. Se trabalha com redes socias, desligue os chats e as notificações quando não precisar, e ligue apenas em intervalos de tempo para actualizações. Se não trabalha com redes sociais, não ligue, pois vai com certeza ficar entretido um bom tempo, mais tarde pode ligar e ver todas as mensagens e posts de familiares e amigos.
- Aproveitar a vida. Ter o trabalho em casa leva a que ele nos persiga o dia inteiro, porque só dependemos de nós próprios e há sempre tarefas a fazer. A acumular com todas as tarefas da casa. É preciso determinar uma hora para terminar o trabalho e relembrar dos motivos que nos fizeram tomar esta opção: usufruir do tempo livre de qualidade com a nossa família.
E agora que já tem as dicas certas para começar a trabalhar em casa, leia os testemunhos de mulheres que deixaram os seus trabalhos e criaram o seu negócio aqui: Mães empreendedoras