Um estudo científico realizado na província de Ontário, no Canadá, revela que existe uma maior probabilidade do desenvolvimento de problemas de saúde mentais em crianças que sofrem agressões físicas. Especialmente, casos de perturbações não psicóticas.
Os dados que permitiram estas conclusões foram recolhidos entre 2006 e 2014. Comparam 21.948 crianças que nunca tinham sofrido agressões, com 5487 que passaram pelo sistema e tinham sido vítimas de maus-tratos físicos. Mais de um terço destes últimos casos (38.6%) tinham um diagnóstico de doença mental, enquanto no primeiro grupo apenas 23,4% padecia dessas perturbações.
O estudo, cujos resultados foram publicados pela prestigiada JAMA Network Open, este mês, também concluiu que no primeiro ano após a agressão, esse risco é três vezes maior, o que indicar os benefícios de uma intervenção clínica atempada. Tiveram como base registos de crianças até aos 13 anos de idade que passaram pelos serviços de urgência, ou que foram mesmo hospitalizadas, devido a agressões. Estima-se que o número real agressões físicas em crianças seja superior ao relatado, já que muitos casos não chegam ao sistema de saúde.
Entre as doenças mentais registadas, verificaram-se sobretudo transtornos não psicóticos, mas também psicóticos, transtornos pelo uso de estupefacientes, défice de atenção/hiperatividade, automutilação intencional e outros. Em Portugal, casos de violência doméstica contra menores de 16 anos têm aumentado, segundo os números divulgados pelo Relatório Anual de Segurança Interna. Se em 2021 foram registados 5769 casos, esse número aumentou para 8330 em 2022.
No final do ano passado, um outro estudo do Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento da Universidade Lusófona, focado em vítimas de violência doméstica, revela que quase duas em cada dez crianças vítimas revelam tendência para cometer crimes ou atividades criminosas na escola.
25 de agosto 2023