Últimos dados indicam que cerca de 60% dos estudantes portugueses foram vítimas de ciberbullying durante a pandemia. As principais vítimas são rapazes, jovens de famílias com menos rendimentos e estudantes homossexuais.
Os números divulgados são resultado da baliza temporal entre março e maio. A partir do momento em que as escolas encerraram e os alunos foram enviados para casa, uma equipa de investigadores do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, iniciou um estudo, de modo a perceber o impacto do bullying online durante as condições impostas pela pandemia de Covid-19.
O objetivo deste trabalho foi perceber se o bullying digital ou online iria aumentar durante o período de confinamento. De facto, chegou-se à conclusão que sim, mais de 60% dos estudantes inquiridos (61,4% em termos mais exatos), admitiu ter sido vítima deste tipo de agressão.
As principais vítimas do ciberbullying
Rapazes, jovens de famílias com menos rendimentos e estudantes homossexuais são os grupos mais afetados. O inquérito nacional contou com a participação de 485 alunos dos ensinos básico, secundário e superior, de todo o país.
O ciberbullying, o chamado “fenómeno sem rosto”, expõe as crianças e jovens ao lado mais negro da internet. À Agência Lusa, Raquel António, investigadora que liderou a equipa de trabalho do ISCTE, contou que as vítimas assumiram “sentimentos de tristeza, sentirem-se mais irritados ou nervosos”.
O inquérito, e consequentemente o estudo, esteve focado sobretudo na baliza temporal entre os meses de março e maio. Concluiu que as situações de bullying aumentaram durante o confinamento: 59% dos alunos que participaram na investigação sentiram que existiram mais mensagens com conteúdos prejudiciais e violentos entre março e maio de 2020.
O estudo, denominado “Cyberbullying em Portugal durante a pandemia do Covid-19”, assinala também que nove em cada dez dos alunos admitiu ter observado casos de bullying online, mas apenas metade interviu para travar a situação.
Um quarto das crianças e jovens que participou no estudo admitiu ter feito bullying a alguém, revelando que o fizeram por diversão, vingança e necessidade de afirmação. Destes, somente 16% admitiu culpa por realizar este tipo de agressões.
Em declarações, a investigadora Raquel António concluiu que o ensino à distância deixou muitas crianças “mais vulneráveis e expostas a serem vítimas de cyberbullying”.
Salienta ainda que são necessárias medidas mais eficazes no combate a estas situações: “É necessária uma cultura de promoção de empatia e de denuncia de conteúdo abusivo para prevenir situações de bullying online.”
16 de setembro 2020