Cerca de uma em cada três crianças e adolescentes em Portugal, são afetados pela depressão. Destes, quase 19% têm sintomas moderados ou graves, e 10% correm risco elevado por terem ideação suicida. Estes dados foram apurados num estudo conduzido pela Escola superior de Enfermagem de Coimbra, em 2020. Portugal está num patamar superior à media dos países analisados pela Organização Muncial de Saúde (OMS).
Nas regiões do Alentejo e do Algarve, o problema está mais acentuado. No Algarve, alguns especialistas atribuem a responsabilidade ao trabalho sazonal e à falta de estabilidade para as gerações mais jovens e para os pais de muitas crianças.
Pedro Dias, pedopsiquiatra no Hospital de Faro, refere que “mais ainda do que as políticas de saúde, é fundamental olhar para a legislação laboral. São muitos os pais que têm um, dois ou mesmo três empregos para poderem sustentar a família. Ora, isso não lhes permite estar com os filhos, o que tem óbvias consequências para o bem-estar mental das crianças”.
Ao Jornal de Notícias, Maria do Carmo, diretora do serviço de Psiquiatria do Hospital de Portimão refere que o desemprego é alavanca para a depressão, que afeta a família inteira. A especialista aponta também as principais fraquezas da região algarvia: fraca capacidade de resposta nos cuidados continuados, falta de estruturas para aplicar terapêuticas ocupacionais, falta de residências para acolher os doentes, falta de recursos humanos entre outras.
A pandemia agravou ainda mais esta situação na região. “Fatores ambientais tão importantes como a adversidade social, os conflitos familiares e o isolamento psicossocial causado pela pouca densidade populacional da região podem ter aumentado substancialmente, e com eles os estados depressivos”, refere, também ao JN, Pedro Dias. Os especialistas referem que as crianças estão muito sozinhas e que é necessário distribuir os recursos do Plano de Recuperação e Resiliência também por estas áreas.
13 de outubro 2021