Um estudo da Universidade de Coimbra analisou o papel de equipamentos eletrónicos na vida das crianças, em especial os problemas de saúde relacionados com o uso excessivo de ecrãs. Além dos problemas relacionados com a qualidade do sono, o estudo concluiu que a presença destes equipamentos é mais visível em famílias mais desfavorecidas. com maior impacto negativo no sono das crianças.
A investigação, realizada por uma equipa do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), foi publicado na revista científica Sleep Medicine.
Embora os equipamentos eletrónicos sejam mais comuns nos domicílios com maior estatuto socioeconómico, o impacto negativo dos mesmos é mais visível nas casas das famílias mais desfavorecidas, por estas terem menos conhecimentos acerca dos problemas de saúde associados ao uso excessivo dos dispositivos.
Além disso, este grupo de famílias tem menos tempo para supervisionar os seus filhos, assim como inscrevê-los em atividades extracurriculares.
O objetivo principal do estudo era identificar a disponibilidade de equipamentos como televisões, computadores, tablets, telemóveis e outros, no quarto das crianças. Essa disponibilidade, ou mais fácil acesso, está ligada à respetiva condição socioeconómica da família, com o objetivo de analisar as associações entre essa disponibilidade e o tempo de ecrã e o sono das crianças nos dias de semana e ao fim-de-semana.
A amostra consistiu em 8430 crianças, com idades compreendidas entre os 3 e os 10 anos, inscritas em escolas públicas e privadas no Porto, Coimbra e Lisboa.
Outra das conclusões definidas neste estudo é a de que os equipamentos eletrónicos nos quartos das crianças, diminuem o tempo de sono das crianças, independentemente da idade e sexo da criança e até do nível de equipamento.
À Agência Lusa, Daniela Rodrigues, primeira autora do artigo, disse que o tempo despendido frente ao ecrã é sempre mais elevado em crianças de famílias de menor posição socioeconómica. A investigadora da Universidade de Coimbra acrescenta que a presença de um equipamento no quarto da criança não está relacionado com uma maior disponibilidade do mesmo em casa, nem com uma maior disponibilidade financeira.
No entanto, deixou o alerta de que são necessárias estratégias eficazes para diminuir o acesso aos equipamentos eletrónicos na hora de dormir. A pandemia não ajudou, devido à maior quantidade de tempo passado em casa, em dependência dos dispositivos. O estudo refere ainda que a televisão é o principal fator dos efeitos negativos, mas os equipamentos móveis podem começar a ter um impacto maior no sono.
9 de junho 2021