O instinto maternal aparenta ser semelhante em todos os mamíferos, desde os ratos até ao homem.
Surpreendido? Afirmo isto porque ao navegar pelos arquivos da Visão, reli a história trágica da orca que transportou a sua cria morta durante 17 dias. Isto foi no verão de 2018. A orca Tahlequah, também conhecida como J53, fez o luto mais longo conhecido. Durante os 17 dias que transportou a sua cria, a orca percorreu cerca de 1000 milhas.
Instinto maternal… numa orca?
Com o enorme esforço que esta orca fez durante o seu luto, acabou por se negligenciar a si própria. Isto porque o luto tornou-se naquele período no enfoque daquela mãe.
A história trágica da Orca Tahlequah causou, na altura, empatia e tristeza globalmente.
O que teria motivado a orca a fazer aquele trajeto tão longo e durante tantos dias, com o cadáver da sua cria, a qual tinha morrido pouco tempo após a ter dado à luz?
Terá sido a não aceitação da morte da sua cria? Terá sido aquela a sua forma de fazer o luto? Afinal, a orca Tahlequah tinha transportado a sua cria durante 18 meses antes do seu nascimento. Durante o longo período de gestação terão sido desenvolvidos laços com a cria.
Provavelmente poderíamos dizer que foi o instinto maternal. Instinto e, na verdade, amor maternal.
O luto da orca Tahlequah constitui um exemplo da semelhança, entre as espécies, dos comportamentos e instintos maternais que levam aos laços estabelecidos entre mães e bebés.
Instinto maternal nos mamíferos: um facto confirmado pela ciência
O instinto maternal, efetivamente, parece ser semelhante em todos os mamíferos. Mais, a ciência confirma esta teoria, através dos resultados de vários estudos conduzidos um pouco por todo o lado. Vamos citar três especialistas.
Na altura da comovente história da J53, Lori Marino, especialista em inteligência de mamíferos marinhos e fundadora e diretora executiva do Kimmela Center for Animal Advocacy e ainda fundadora e presidente do Whale Sanctuary Project, comentou, junto do jornal norte-americano Seattle Times que o luto da orca Tahlequah foi um exemplo de como os instintos maternais e comportamentos maternais aparentam ser muito semelhantes entre as espécies.
O luto dos mamíferos apresenta muitas semelhanças entre as espécies
“Acho que é o que estamos a observar; ela está afeiçoada e da mesma forma como quando alguém morre nas nossas próprias vidas, ela está a negligenciar-se a si própria porque precede a tudo”, afirmou.
Ainda no mesmo artigo do jornal norte-americano, Barbara King, docente de antropologia, defendeu o mesmo conceito pois já testemunhou comportamentos semelhantes. Esta especialista documenta, desde há anos, o luto de girafas. golfinhos, gorilas e macacos.
Para Barbara King, o caso da orca J35 não é, pois, diferente já que o animal não agiu de forma normal em termos de cuidados próprios.
As reações dos humanos foram abundantes e expressas de formas diferentes. Tanto os poemas, desenhos, comentários, frases poéticas, etc, revelam compaixão e empatia para com o luto da orca Tahlequah.
Porquê? Provavelmente porque todos nós nos revemos no sofrimento daquela mãe ao perder a sua cria. Todos nós temos comportamentos semelhantes perante o luto.
Baleias, ratos e humanos têm comportamentos maternais muito semelhantes
Dayu Lin, investigadora na Langone Health da Universidade de Nova Iorque, EUA, explicou que a evolução preservou a bioquímica na maioria dos mamíferos.
Neste contexto, a especialista indicou ainda que tal pode explicar a razão pela qual tanto as baleias, os ratos e os humanos parecem demonstrar comportamentos maternais muito semelhantes.
As conclusões de um estudo no qual Dayu Lin esteve envolvida explicam este fenómeno. Isto deve-se, pois, ao facto de o instinto de uma mãe quando agarra as crias que saem da sua beira está relacionado com sinais específicos emitidos por certos neurónios de proteger os bebés dos perigos.
E que fazem as mães quando o seu bebé chora ou se encontra em perigo? Regra geral, reagem de imediato. Aliás, normalmente as mães estão sempre prontas a agir.
“O nosso estudo demonstra precisamente a forma como um instinto maternal é gerado no cérebro do mamífero”, apontou.
Assim, a investigadora considera que estas conclusões ajudam a explicar comportamentos humanos, como o ato de embalar um recém-nascido, por exemplo. Por conseguinte, concluiu, isto poderá conduzir a tratamentos para mães humanas que tenham dificuldades com amamentar ou estabelecer laços com os seus recém-nascidos.