Um estudo recente revelou que uma em cada dez crianças em isolamento social potenciado pela pandemia, apresenta níveis de ansiedade acima do que é considerado funcional. Pais e cuidadores que sofram com depressão, ansiedade e stress contribuem para a situação.
Os dados resultam de uma investigação levada a cabo pelo Instituto de Apoio à Criança (IAC), do qual fizeram parte Mara Chora e Fernanda Salvaterra, investigadoras na área.
“O que pensar e o que sentem as famílias em isolamento social” teve em conta dados recolhidos de 807 famílias com filhos com idades entre os 4 e os 18 anos. Os dados foram recolhidos entre abril e maio de 2020. A motivação para este estudo foi perceber o impacto do isolamento causado pela pandemia de Covid-19 nas crianças, sobretudo tendo em conta os dados da Linha SOS-Crianças que viu os pedidos de ajuda mais que duplicarem de 2019 para 2020.
Uma das grandes conclusões do estudo é a influência que pais e cuidadores que sofrem de ansiedade, stress e depressão, têm nas crianças e seu cargo. Na maioria dos pais “estudados”, os níveis estavam de acordo com a média nacional.
Num grupo de mais de 100 pais, estes níveis de ansiedade, stress e depressão forem determinados como severos ou muito severos. Comparando com as crianças, concluiu-se que quase 10% apresentam “um nível de ansiedade acima do considerado funcional”.
As investigadoras perceberam que existia uma relação entre dados de crianças e adultos, concluindo que “pais mais ansiosos, deprimidos e stressados têm, também, filhos mais ansiosos”. Algo que se aplica também em casos de stress.
O estudo do IAC refere também que nem sempre os pais conseguiram perceber exatamente o que se passava com as crianças. Sintomas como medo, dificuldade em dormir, tristeza ou insegurança também foram mais sentidos pelas crianças do que aquilo que foi percecionado pelos pais.
Segundo as investigadoras, “as crianças não manifestam as suas preocupações, transmitindo uma aparente serenidade face à situação que estão presentemente a viver ou que os pais as desvalorizam.”
Para combater o aumento da ansiedade nas crianças, 166 das famílias inquiridas sentiram necessidade de demonstrar mais afeto do que o habitual, sendo que 179 limitaram o acesso das crianças às notícias.
Outro dado importante neste estudo é o de 83,1% dos pais e 79,6% das crianças viram o isolamento como algo positivo, oferecendo a oportunidade para passarem mais tempo juntos. 89,5% das crianças apontaram o facto de não poderem estar com os amigos como algo negativo.
8 de fevereiro 2021