Um estudo canadiano encontrou uma associação entre níveis de ansiedade nas crianças e o aumento do tempo de ecrã que se te vindo a verificar desde o início da pandemia.
Sejam telemóveis, computadores ou consolas, o aumento de tempo passado em frente ao ecrã está definitivamente associado ao agravamento de problemas do foro da saúde mental, como ansiedade, irritabilidade ou hiperatividade. Os resultados deste estudo levado a cabo no Canadá foram publicadas na revista académica Journal of the American Medical Association (JAMA).
O estudo foi realizado por uma equipa do hospital pediátrico da Universidade Avenue, na província de Ontário, Canadá, com o objetivo de perceber o impacto das diferentes formas como as crianças utilizam ecrãs durante períodos de confinamento /pandemia.
Ao Jornal Público, Catherine Birken, uma das investigadoras revelou que os resultados trouxeram conclusões inesperadas. “Pensávamos que o tempo gasto em videochamadas estaria associado a menos sintomas negativos de saúde mental, mas percebemos que as videochamadas não conferem qualquer tipo de proteção. (…) Não estávamos à espera da associação generalizada entre o aumento do tempo de ecrã e sintomas de ansiedade, depressão, desatenção e hiperatividade”.
Ao todo, a equipa de investigação acompanhou 2036 crianças entre os dois e os dezoito anos, entre maio de 2020 e abril de 2021. Pais, tutores e outros encarregados de educação foram preenchendo inquéritos sobre os hábitos das crianças em casa em relação ao tempo de ecrã.
Das crianças participantes, 53% já estavam a ser acompanhadas devido a problemas de saúde mental e 16% tinham perturbações do espetro do autismo.
As conclusões foram claras: as crianças mais novas (com cerca de seis anos) que passavam mais tempo em frente ao ecrã demonstravam mais sintomas de desatenção e hiperatividade. As crianças mais velhas que passavam mais tempo em frente a ecrãs demonstravam maiores níveis de ansiedade, irritabilidade e depressão e desatenção, mesmo que a utilização dos ecrãs fosse feita em contexto escolar.
As crianças que estão no espetro do autismo não registaram uma agravação de sintomas de depressão após o tempo de uso dos ecrãs aumentar. Este facto pode estar relacionado com a diminuição das exigências sociais durante os períodos de pandemia e confinamento.
Além das questões relacionadas com o tempo passado em frente ao computador ou smartphone, os investigadores reconhecem que a saúde mental das crianças pode ser impactada pela redução do exercício físico e atividades sociais.
Apesar de este estudo não se focar em combater os efeitos menos bons da exposição excessiva a ecrãs, Catherine Birken aconselha encarregados de educação que estabeleçam regras em relação aos períodos em que as crianças o possam fazer.
3 de janeiro 2022