O açúcar deixa as crianças hiperativas? Festas infantis, doces e excitação em demasia é uma trilogia familiar a todos os pais. Assim, terá mesmo o açúcar este efeito estimulante e poderá transformar inocentes crianças em diabinhos à solta?
O açúcar deixa as crianças hiperativas?
À partida, não. Não podemos ser demasiado conclusivos nesta afirmação uma vez que, para além da evidência científica não ser totalmente clara, também do ponto de vista fisiológico se podem encontrar mecanismos que corroborem dois efeitos distintos.
Se, por um lado, a ingestão de açúcar pode levar à produção de serotonina, hormona da “felicidade e bem-estar” que tem um efeito relaxante, por outro, uma eventual hipoglicemia reativa (“quebra” dos níveis de açúcar no sangue desencadeada por uma forte produção de insulina em resposta ao açúcar ingerido) pode também aumentar a irritabilidade e diminuir os níveis de concentração.
Enquadrando esta hipótese num contexto prático como uma festa de aniversário com várias crianças, há que reconhecer que, independentemente da composição nutricional dos alimentos presentes na mesma, esta simples convivência é altamente excitante – e saudável diga-se – para as crianças (anormal seria se assim não fosse!).
Para além disso, nestas festas as crianças têm ainda a atenuante de, nas múltiplas corridas e brincadeiras, gastarem parcial ou totalmente as calorias ingeridas nesses bolos, bolachas e refrigerantes, algo bastante diferente do que acontece se o fizerem em casa, sozinhos em frente a uma televisão ou computador.
Neste contexto, até porque não há festas todos os dias, seria mais importante que esta preocupação parental fosse mais focada nos dias “normais” do que nos dias de festa – até porque nas festas os graúdos são bem capazes de se exceder mais do que os próprios filhos…
Um bom princípio passará então por reconhecer à partida que estes produtos coloridos e altamente açucarados podem não ter nada de “comida a sério”, mas têm um grande problema principalmente para as crianças: sabem bem e comem-se com os olhos!
Se até muitos adultos têm na sua lista de guilty pleasures as gomas, cereais infantis e refrigerantes, não se pode pedir às crianças que não delirem com este tipo de alimentos.
Como tal, mais do que tentarmos ser mais papistas que o papa e proibi-los (até pelos efeitos que esta palavra/ação costuma ter nas crianças), seria uma boa ideia enquadrar a ingestão destes alimentos de forma equilibrada e razoável.
Permitir por exemplo o seu consumo apenas ao fim de semana – onde se deseja que exista a prática de exercício físico e as exigências do ponto de vista intelectual não costumam ser tão grandes como as da semana – seria uma excelente alternativa.
Já com alguns aditivos alimentares que também se encontram neste tipo de alimentos (particularmente o benzoato de sódio – E211) a conversa pode ser outra, uma vez que podem potenciar comportamentos hiperativos em crianças, independentemente do seu diagnóstico com síndrome de hiperatividade e défice de atenção.
Convém por último (mas talvez o mais importante) não esquecer que alguns refrigerantes à base de cola, chá e guaraná possuem cafeína, esta sim bastante estimulante sem sombra de dúvidas!
Assim, seja pelo açúcar em excesso ou pelos aditivos, a ingestão diária de refrigerantes, cereais açucarados, bolachas, rebuçados e gomas não faz bem a ninguém, qualquer que seja a idade. Comece por não os comprar para casa e depois nas festas deixe o seu filho ser “hiperativo” à vontade.
Em resumo:
- Apesar de não haver relação direta entre alimentos açucarados e hiperatividade, a ingestão destes deve ser na mesma limitada ao mínimo razoável, principalmente em crianças;
- Uma vez que muitos alimentos direcionados a crianças são simultaneamente ricos em açúcar e aditivos, o melhor mesmo é matar dois coelhos de uma cajadada e evitá-los (principalmente durante a semana);
- Não se esqueça que, mais do que o açúcar e os aditivos, a cafeína presente em algumas bebidas é o maior estimulante ao qual o seu filho está exposto.