Uma recente investigação, que envolveu mais de 21 mil mulheres, concluiu que, em Portugal, a prevalência de parto instrumentado é três vezes superior à média europeia (11%).
O questionário foi aplicado, entre março de 2020 e março 2021, a 21 027 mulheres de 12 países europeus, sendo que destas 1685 eram portuguesas. Considerou mulheres que tiveram trabalho de parto (18 063), tal como mulheres que tiveram os bebés por cesariana (2 964).
No grupo de mulheres que tiveram trabalho de parto, 31% das portuguesas afirmaram terem tido um parto instrumentado, com a utilização de fórceps ou ventosas. Raquel Costa, investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) revelou à Lusa que, apesar destes números, esta é uma prática sobre a qual a Organização Mundial da Saúde (OMS) “não estabelece nenhum princípio de recomendação ou não recomendação”.
Por outro lado, a OMS não recomenda a realização de episiotomias. Em Portugal, este procedimento tem uma taxa de 41%, o dobro da média dos restantes países europeus.
Também a manobra de Kristeller encabeça a lista de práticas não recomendadas pela OMS, técnica que foi realizada em 49% das mulheres portuguesas com partos vaginais instrumentados, que, mais uma vez, representa um valor superior à média europeia (41%).
A investigadora realça que estas práticas têm uma percentagem “ao nível dos países com a pior qualidade de cuidados” e salienta que nao foi possível estabelecer uma relação de causa com a pandemia.
A investigação conclui, ainda, que 63% das mulheres portuguesas afirmaram que não lhes foi pedido consentimento para a realização do parto instrumentado. “Uma em cada cinco mulheres reportou que tem a perceção de que foi vítima de abusos físicos, emocionais ou verbais. Isto é um indicador que nos preocupa porque provavelmente são problemas de comunicação evitáveis, existem estratégias de comunicação que podem ajudar profissionais de saúde e as mães”, afirma Raquel Costa.
Os resultados do questionário confirmam este gap na comunicação entre as duas partes: 28% das mulheres portuguesas afirmaram não existir uma boa comunicação por parte dos profissionais de saúde, sendo que 41% partilharam que não foram envolvidas nas escolhas durante o parto e 32% sentem que não foram tratadas com dignidade.
10 de fevereiro de 2022