Sofia Ravara, pneumologista e coordenadora Comissão de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, alertou para os perigos do “fumo em terceira mão”: as substâncias libertadas pelo fumo do tabaco que podem estar presentes nas paredes, na mobília, em objetos da casa e até no hálito dos fumadores. Algo que é particularmente prejudicial para as crianças.
Em declarações à Agência Lusa, Sofia Ravara explica que “o fumo do tabaco tem partículas em suspensão que são muito finas e invisíveis aos nossos olhos e que acabam por depositar-se nas superfícies”. Crianças mais pequenas e bebés estão mais expostas, já que gatinham, tocam em tudo e levam as mãos à boca.
A especialista acrescentou ainda que anteriormente, “tínhamos só esta ideia do fumo em segunda mão [fumo passivo], mas do ponto de vista biofísico, existe também esta nova forma de exposição, que acontece sobretudo nos locais em que as pessoas fumam, e depois não há arejamento e ventilação que sejam eficazes”.
A organização não-governamental Smoke Free Partnership, alerta para o facto de o “fumo em terceira mão” conter substâncias químicas tóxicas que se tornam mais tóxicas com o tempo à medida que os seus compostos químicos se alteram.
Esta organização dedica-se a trabalhar na implementação das políticas de controlo do tabagismo na União Europeia. Os produtos químicos podem-se transformar em outras substâncias perigosas com efeitos desconhecidos.
“O fumo de terceira mão deve ser sistematicamente contabilizado na recomendação revista sobre a proibição do fumo, a fim de controlar e alcançar eficazmente a ambição da Comissão Europeia de um ambiente livre de substâncias tóxicas”, pode ler-se num documento divulgado pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia.
Destacam, em particular, o caso das crianças, pelo facto de o ambiente em que circulam e vivem ser mais difícil de controlar. Sofia Ravara defende que o novo diploma, que entra em vigor a 1 de janeiro, deveria proibir fumar em todos os locais públicos, tanto exteriores como interiores.
A especialista salientou que está a começar um forte movimento europeu, com a revisão da diretiva da União Europeia sobre a exposição ao fumo de tabaco, no qual Portugal vai participar através da sociedade civil e que “vai ajudar os portugueses a perceberem” a importância da sua participação na sociedade.
30 de dezembro 2022