Portugal é o país com o maior número de mães com filhos até aos seis anos a trabalhar a tempo inteiro e um dos países em que os avós cuidam mais dos netos, revela um estudo europeu.
Trabalhar a tempo inteiro
O estudo A prestação de cuidados pelos avós na Europa faz uma análise comparativa sobre as políticas familiares e a sua influência no papel dos avós enquanto prestadores de cuidados infantis na Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Grécia, Itália, Holanda, Espanha, Suécia, Suíça, Portugal, Espanha Itália e Roménia.
Segundo o estudo, a que a agência Lusa teve acesso, mais de 40% dos avós dos países europeus analisados prestam cuidados aos netos sem a presença dos pais, sendo que os países do sul da Europa — Portugal, Espanha, Itália mas também a Roménia — são os que apresentam uma maior percentagem de avós a cuidar de netos a tempo inteiro.
Os autores do estudo explicam que nestes quatro países “as prestações sociais pagas aos pais e às mães que ficam em casa são limitadas” e “há pouca oferta de estruturas formais de acolhimento de crianças e poucas oportunidades das mães trabalharem a tempo parcial”.
Entre os países estudados, Portugal apresenta “a mais elevada percentagem de mães com filhos com idades inferiores aos seis anos que trabalham a tempo inteiro”.
Em Portugal, Espanha, Itália e Roménia, as mães trabalham frequentemente mais de 40 horas por semana, adianta o estudo financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, que será apresentado na terça-feira, em Lisboa.
O estudo atribui esta “maior dependência dos cuidados intensivos prestados pelas avós” há pouca oferta de estruturas formais de acolhimento de crianças a preços acessíveis.
Com excepção da Roménia, nestes países há menos avós a prestar cuidados ocasionais ou menos intensivos sem a presença dos pais.
Os países com maior recurso a estruturas formais de acolhimento de crianças (Suécia e Dinamarca) são os que apresentam as percentagens mais reduzidas no que se refere à prestação de cuidados infantis intensivos pelas avós.
A investigação adverte que, tendo em conta que as avós entre os 50 e os 69 anos “que não exercem empregos remunerados são as que apresentam maiores probabilidades de prestar cuidados infantis, os planos dos governos europeus para o aumento das idades de reforma e da participação feminina na vida profissional em idades mais avançadas são susceptíveis de entrar em conflito com o papel dos avós no que se refere à prestação de cuidados infantis”.
Para os autores do estudo, “isto terá implicações significativas ao nível da participação das mães mais jovens no mercado de trabalho e na obtenção de pensões e de segurança financeira por parte das mulheres de meia-idade”.
O estudo refere também que Portugal tem assistido a um aumento dos agregados familiares de avós com três gerações, enquanto a Inglaterra e o País de Gales, França e Alemanha Ocidental têm assistido a uma diminuição da percentagem de adultos com 35 ou mais anos a viver neste tipo de família.
“Tanto os agregados familiares de avós com três gerações como os sem continuidade geracional estão associados à pobreza e falta de recursos socioeconómicos em todos os países estudados”, salienta.
Os adultos que vivem em agregados familiares com avós apresentam maiores probabilidades de serem mulheres, divorciadas, viúvas ou separadas, com níveis de instrução mais baixos e economicamente inactivas, “o que é particularmente notório nos que vivem em agregados familiares de avós sem continuidade geracional”.