Espera-se que durante esta semana, todas as escolas do país abram portas, depois de seis meses a funcionar a meio gás. Como se sentem os pais, com este regresso às aulas? O Mãe-Me-Quer falou com Joana Santos, mãe de duas crianças em idade escolar.
O regresso às aulas e o âmbito em que o retorno ao ensino presencial está a ser feito, tem sido o assunto em cima da mesa, há alguns meses. A pandemia de Covid-19 obrigou a que desde março, as escolas portuguesas passassem a funcionar de forma diferente.
Se para as crianças e jovens, o ano letivo passado foi disruptivo, para os pais, ainda mais. Depois de meses de gestão de tarefas, entre trabalho, parentalidade e as obrigações do dia-a-dia, como estarão os pais a encarar este regresso?
Joana Santos é médica, tem duas filhas. Uma de quatro anos, a frequentar o jardim-de-infância e outra de sete, a começar o 2º ano do 1º ciclo.
Como foram os meses de confinamento em família? Sobretudo, tendo em conta a sua profissão.
O confinamento, no início, apesar de tudo, começou muito bem. As crianças estavam entusiasmadas por estar em casa com o pai (que estava em teletrabalho). Havia muito entusiasmo em poderem passar algum tempo juntas com os pais.
Após algumas semanas, começaram a dar mostras de fadiga e cansaço. Principalmente a mais velha, que estava no 1º ano. Mesmo com todo apoio, todos os materiais que nos deram, ela começou a ficar cansada de estar em casa. Cansada por estar em casa significar também trabalhar e fazer coisas da escola.
As suas filhas frequentam o Colégio do Forte [anterior entrevista na série Regresso às Aulas]. Tiveram oportunidade de frequentar as atividades de férias?
Sim, tanto uma como a outra. Mal foi possível frequentar o campo de férias “Forte em Férias”, quando o Colégio abriu, elas foram de imediato. A mais velha passou um mês e pouco, a outra entrou na escola logo em junho, quando foi possível.
Portanto, este regresso está a ter mais impacto na menina mais velha?
Sim, foi o regresso à sala de aula. Algo que já não vivia desde março.
Neste momento, como mãe e como médica, quais são as principais preocupações ao deixar as suas filhas na escola?
Para ser sincera, neste momento não me preocupo especificamente com essa questão. Sinto-me perfeitamente segura e a nível de saúde mental das crianças, é essencial.
Os riscos que existem, porque obviamente existem, é necessário corrê-los. Não sabemos quanto tempo mais vamos estar nesta situação.
Não podemos continuar todos fechados em casa. As crianças precisam de alguma sensação de normalidade na sua vida. Uma normalidade ainda à custa de máscaras, viseiras e outras proteções, mas uma normalidade no sentido de poder interagir com colegas e divertirem-se.
Serem felizes, serem crianças. Os riscos acabam por ser um bocadinho esquecidos quando vemos uma criança a chegar extremamente feliz a casa, por ter estado na escola.
Perante a idade das suas filhas, elas não são obrigadas a usar a máscara. Mas como é que elas lidam com as medidas de higiene e segurança do Colégio?
O Colégio sempre promoveu muito a higienização das mãos às crianças, a limpeza das superfícies sempre que necessário e portanto é algo a que elas já estão habituadas. A mais nova estranha bastante a questão da máscara.
Pergunta muitas vezes “quando é que o vírus desaparece para estarmos todos juntos”? Eu digo-lhe que já estamos todos juntos, tento perceber o que ela quer dizer. Ela responde “juntos na escola, sem máscara”. Lida bem, mas estranha, porque quer que estejam sem elas.
A mais velha já está numa idade em que as coisas são explicadas e compreendidas. Não tenho notado qualquer problema.
Como tem sido o regresso da mais velha à sala de aula?
A única coisa que ela nota é no recreio, porque há menos interação direta entre grupos. Dentro do grupo dela, tudo normal. Sinto que o Colégio está a pôr em prática tudo o que é necessário. São muito cuidadosos, sempre atentos ao bem-estar das crianças e cumprem sempre as regras.
Se for necessário um eventual regresso a casa para as crianças, seja qual for a razão, tem algum cenário preparado?
No nosso caso, como a mais velha já teve aulas em casa, temos a parte informática preparada, assim como um espaço com secretária.
No meu caso, eu não posso deixar de trabalhar, não consigo dar apoio às crianças a tempo inteiro. Assim, o apoio virá da parte do pai, seja enquanto ele está em teletrabalho, ou perante as medidas de apoio para os pais estarem em casa.
Tendo em conta a sua profissão, como tem sido feito este equilíbrio entre ser médica e mãe? A parte dos afetos, conjugada com cuidados e segurança?
Eu tenho a particularidade de na minha especialidade não fazer urgência. Só isso já faz muita diferença. Portanto, tenho os cuidados normais: tirar sapatos e despir a roupa que vem do trabalho, lavar mãos, tomar duche…
Mas é importante estar com elas. Como disse, a situação é prolongada e a família não consegue estar separada por um tempo infinito. Não é saudável. Temos todos os cuidados necessários e incuto-lhes os hábitos, mas nada além disso.
Este regresso às aulas está a ser encarado de forma positiva e necessária. Todos precisávamos de ter de volta o nosso espaço. Também precisava de vir trabalhar e não estar constantemente preocupada com a parte doméstica. Fico mais tranquila, sem dúvida.
O risco existe sempre, mas vale a pena.
14 de Setembro 2020