Até ao próximo sábado, dia 30 de abril, a Organização Mundial da Saúde (OMS) promove a Semana Mundial da Imunização, uma ação com o objetivo de alertar para a importância da vacinação a nível universal.
A pandemia COVID-19 veio demonstrar a importância de estarmos protegidos e, especialmente, a necessidade de proteger as crianças e a população mais vulnerável. Segundo a OMS, a imunização salva milhares de vidas e é reconhecida como uma das intervenções mais bem-sucedidas e eficientes para proteger contra doenças potencialmente fatais.
Portugal regista uma cobertura vacinal superior a 90% na população, mas não é esta a realidade de todos os países. Tem-se assistido a uma estagnação da cobertura global das vacinas ao longo dos anos e, segundo a OMS, mais de 20 milhões de crianças não receberam as vacinas de rotina em 2020.
Rita Sousa Gomes e Sara Aguilar, pediatras e responsáveis pelo projeto Bê-à-bá da Pediatria, explicam que esta diferença na taxa de vacinação deve-se, sobretudo, às interrupções globais dos serviços de saúde devido à pandemia. Os confinamentos dispararam ainda mais as desigualdades que já eram visíveis no acesso a vacinação, pois “muitas das crianças que não estão vacinadas vivem em lugares de conflitos ou lugares remotos, com pouco ou nenhum acesso a cuidados básicos”.
As pediatras destacam ainda as “crescentes correntes de grupos anti vacinas em países desenvolvidos que apresentam comunidades com níveis totalmente insuficientes de vacinação”. Tudo isto contribui para que, a nível mundial, tenha havido uma estagnação e até decréscimo dos níveis de vacinação.
A importância de vacinar as crianças
Para a Rita Sousa Gomes e Sara Aguilar, existem dois motivos fundamentais para vacinar as crianças:
A proteção individual de cada criança
Apesar de algumas doenças, como o sarampo, a poliomielite e as meningites, já serem muito raras em Portugal, qualquer pessoa e criança que não devidamente protegida pode, facilmente, contrair a doença. “Mesmo que a doença seja rara no seu país, se viajar para outro onde é endémica, vai ter uma forte probabilidade de a contrair, correndo não só risco pessoal, mas também o de trazer a doença para a sua comunidade”, explicam.
Imunidade de grupo
Quando a cobertura vacinal numa população é elevada, estamos perante o que chamamos – e ouvimos agora falar muito – de imunidade de grupo. Aqui, toda a “comunidade está protegida, uma vez que os microrganismos estão “impedidos” de se propagar e contaminar, por exemplo, aqueles que ainda não atingiram idade para se vacinar, ou por qualquer outra razão clínica não se puderam vacinar.”
Portanto, há um grande risco de não vacinar as crianças: estamos a “deixá-las expostas ao risco de doenças graves e devastadoras, mas que podem ser facilmente prevenidas pela vacinação”.
“A vacinação permite erradicar doenças que podem ser letais na população, portanto, quanto maior o número de crianças vacinadas no mundo, menor será o risco e a taxa de mortalidade por doenças que podem ser evitadas”.
As vacinas são seguras para um bebé?
De acordo com as pediatras, a resposta a esta pergunta é muito simples: “As vacinas são super seguras”.
É importante reforçar que, antes de ser administrada a um bebé ou a uma criança, o fármaco passou “por um processo enorme de investigação, de ensaios e estudos clínicos.” Aliás, os números mostram que a mortalidade infantil tem reduzido substancialmente à medida que se vão adicionando mais vacinas ao Programa Nacional de Vacinação (PNV).
“As vacinas são administradas em bebés muito pequenos, como, por exemplo, a vacina da hepatite B, que é administrada logo ao nascer, e, com elas, o sistema imunitário está apto a fabricar anticorpos para se proteger contra bactérias e vírus, que antigamente atacavam e causavam a morte dos bebés logo nos primeiros meses de vida”, acrescentam.
“A vacinação é um dever”
Segundo as pediatras, a história de sucesso das vacinas fala por si. Antes das vacinas, era comum a maior parte das crianças morrer na infância e era frequente contraírem poliomielite, ficando com sequelas motoras graves para toda a vida. Graças às vacinas, já não há casos de de poliomielite no nosso país.
Um outro exemplo refere-se ao sucesso da implementação das vacinas da meningite C e B no PNV. Antes, era habitual surgir casos de meningite nas urgências e cuidados intensivos e, “felizmente, hoje em dia esses casos são raríssimos”.
Rita Sousa Gomes e Sara Aguilar alertam para a importância de vacinar contra o tétano, que impede uma infeção bacteriana grave – causada pela toxina do bacilo tetânico Clostridium tetani – e que entra no organismo pelas feridas ou lesões da pele.
A vacinação é, por isso, um dever. As pediatras deixam um apelo aos pais: “mais vale vacinar, levar uma injeção e ter um ou outro pico febril, do que correr o risco de ter a criança internada, em risco de vida, onde, em vez de uma injeção, levará várias e será submetida a exames e tratamentos invasivos. É inimaginável o que é ter uma destas doenças, que podiam ser evitadas pela vacinação.”