A UNICEF, na Ucrânia, alerta para a situação dramática vivida por metade das mais de 3 milhões de crianças que permanecem no país, em situação de conflito. Além do risco permanente de abusos e tráfico, e das consequências do encerramento das escolas, correm risco de fome e falta de água, especialmente em cidades como Mariupol e Kherson.
Manuel Fontaine, diretor de Programas de Emergência do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), salienta a situação precária vivida na Ucrânia. “Voltei na semana passada de uma missão na Ucrânia. Nos meus 31 anos como funcionário humanitário, raramente vi tantos danos causados em tão pouco tempo”.
Fontaine relembra que as famílias estão em constante situação de ataque. “Ataques à infra-estrutura do sistema de água e cortes de energia deixaram cerca de 1,4 milhões de pessoas sem acesso à água na Ucrânia. Outras 4,6 milhões de pessoas estão com acesso limitado. A situação é ainda pior em cidades como Mariupol e Kherson, onde as crianças e as suas famílias passaram semanas sem serviços de água canalizada e saneamento, sem fornecimento regular de alimentos e cuidados médicos”, afirmou.
Quase duas centenas de crianças já perderam a vida no conflito, desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, a 24 de fevereiro. A UNICEF alertou também para o encerramento de escolas em toda a Ucrânia, que está a afectar a aprendizagem de 5,7 milhões de crianças em idade escolar e 1,5 milhões de estudantes do ensino superior.
O responsável dá o exemplo da região de Donbass, que sendo uma zona já fustigada por oito anos de conflito, tem uma geração de crianças que “viu as suas vidas e educação desmoronarem”.
A UNICEF mantém-se sob alerta no que diz respeito à possibilidade de abusos e tráfico de crianças, uma realidade cada vez mais visível. Manuel Fontaine conta que “uma assistente social contou-me uma história sobre pais que foram forçados a enviar os seus filhos com um motorista de um camião apenas para afastá-los da linha de fogo. Essas crianças desacompanhadas correm um risco muito maior de violência, abuso, exploração e tráfico”.
18 de abril 2022