A depressão pós-parto é uma perturbação relativamente comum entre as mães, mas do que se trata, quais os sintomas, como tratar e como pode o pai ajudar nesta fase?
O que é a depressão pós-parto?
Depressão ou “blues puerperal”?
Os sintomas costumam aparecer durante o primeiro mês de nascimento do bebé, sendo por isso muitas vezes confundida com outra condição (esta bem mais comum) denominada de “blues puerperal”, que se apresenta com sintomas muito semelhantes à depressão.
Nos primeiros dias após nascimento do bebé, é normal que a mãe apresente sentimentos de melancolia, choro fácil, reacções muito emotivas aos estímulos, mas que geralmente desaparecem rapidamente, à medida que as alterações hormonais provocadas pelo parto e gestação atingem novamente o equilíbrio.
Gravidez, trabalho de parto, pós-parto…
Não estamos a falar única e exclusivamente das emoções e da envolvência que esta experiência propicia do ponto de vista psíquico, mas também de alterações biológicas de grande relevância, já que durante a gestação o seu corpo tem que se adaptar para viver em simbiose com outro Ser.
Assim, o culminar destas alterações com momento do parto é altamente marcante seja do ponto de vista emocional, seja do ponto de vista físico, já que de certa maneira a mãe também corta o “cordão umbilical” que a unia ao bebé.
Neste “mundo novo”, tem assim que lidar com grandes desafios do ponto de vista biológico (com a reorganização hormonal, por exemplo), mas também mental (gerindo as expectativas que tinha antes do nascimento, com o bebé que tem agora nos braços).
Assim, a depressão pós-parto deve ser entendida do ponto de vista biopsicossocial já que existe um sem-número de fatores que têm influência nesta condição.
Sabia que a depressão pós-parto também pode afetar o pai?
Depressão pós-parto
Como já foi referido, a depressão pós-parto é uma perturbação muito comum entre as recém-mamãs.
No entanto, esta perturbação deve ser entendida não só do ponto de vista mental, mas também físico (já que a mãe passa por muitas alterações biológicas durante a gravidez), assim como social e sistémica, pois uma boa estrutura familiar é importante para a manutenção de uma boa saúde mental na mãe, nesta fase de grandes mudanças.
Apesar de não existir uma “fórmula” que nos possa dizer que uma mãe irá desenvolver uma depressão pós-parto, podemos afirmar que existem fatores associados que podem favorecer o aparecimento desta perturbação, tais como:
- genética, já que o historial familiar de depressão;
- doença bipolar.
Estes dois fatores podem favorecer o aparecimento da depressão pós-parto.
O facto de se tratarem de mães de primeira viagem pode também ser relevante nesta condição, assim como uma estrutura familiar e social com défices emocionais e um apoio muito reduzido. Estes podem fazer com que a mãe se sinta isolada e, consequentemente, mais frágil.
Sintomas da depressão pós-parto
A sintomatologia é muito semelhante à depressão, sendo por isso necessário uma atenção especial aos primeiros sintomas.
É importante, portanto, que partilhe essas ansiedades com os especialistas que a acompanham para que, caso necessário, se intervenha precocemente evitando estágios mais desenvolvidos da patologia.
Normalmente os sintomas começam a desenvolver-se durante o primeiro mês de nascimento do bebé.
Os sintomas tendem a aumentar e não a diminuir com o passar do tempo, sendo este um dos primeiros sinais de alerta.
As alterações de humor são o primeiro fator a considerar.
Se a mãe começa a apresentar-se com uma maior negatividade relativamente às situações do quotidiano, ao futuro e ao próprio bebé em si, será importante partilhar esta informação com o seu médico.
No entanto, estas alterações podem não ser suficientes para um diagnóstico de depressão pós-parto.
Outros sinais ou alterações de interesse relevante:
- Tristeza constante;
- Sensação de que o bebé é um estranho;
- Pensamentos negativos sobre si e o bebé;
- Aumento dos níveis de ansiedade;
- Fadiga e falta de energia;
- Dificuldades de concentração;
- Sentimentos de culpa;
- Alterações nos padrões de sono;
- Alterações nos padrões de alimentação;
- Irritabilidade e falta de paciência.
Tratamento da depressão pós-parto
Muitas das vezes, as perturbações mentais devem ser objeto não só da intervenção de um médico, psiquiatra ou psicólogo, mas sim de um conjunto de elementos que podem contribuir (cada um com a sua parte) para uma intervenção eficaz nesta perturbação.
Avaliação da depressão pós-parto
Antes de tudo, é necessário uma boa avaliação por parte de um especialista para que se consiga analisar o grau da perturbação e delinear um plano de intervenção individualizado.
Nesta fase, é importante estar muito atenta aos sintomas que podem surgir e comunicá-los ao médico que a acompanha, de forma a que este consiga compreender se é uma situação normal (ou passageira) ou requer algum tipo de intervenção.
O tipo de intervenção varia segundo o grau de intensidade
Dependendo do grau de intensidade da depressão pós-parto, o tratamento pode passar por uma intervenção simples ou uma abordagem mais multidisciplinar.
O Psiquiatra e o Psicólogo têm um papel de grande relevância neste processo, já que o equilíbrio bioquímico pode ser importante através da prescrição de alguns fármacos. Também a intervenção psicológica permite uma melhor compreensão e aceitação de uma fase emocionalmente muito intensa na vida da mulher e do bebé que agora está presente no seu dia-dia.
A orientação do Psicólogo com intervenção no sistema familiar que acompanha a mãe pode ser também importante, já que o apoio destes elementos mais próximos pode melhorar significativamente as rotinas e a maneira como esta as vivencia diariamente.
Ainda sobre as rotinas é importante que a mãe adote algumas atividades para uma diminuição substancial da sintomatologia, das quais se incluem:
- Uma postura de vida saudável fazendo algum tipo de desporto, favorecendo assim uma melhoria do bem-estar (é importante que fale com o médico e que defina que exercícios pode ou não fazer nesta fase);
- Uma boa higiene do sono (sempre que possível, já que com o bebé é difícil), tentando descansar sempre que possível;
- Uma alimentação saudável.
A depressão pós-parto tem assim muitas possibilidades de tratamento. É importante que partilhe as suas dúvidas, fale com outras mães, com o Médico, com o Psicólogo e com a família.
Compreender que não é a única pessoa a passar por essa situação pode ser um importante alívio (caso se sinta culpada) e permite acima de tudo intervir em fases mais precoces da perturbação, melhorando as possibilidades de eficácia no seu tratamento.
E o pai? Como pode ele ajudar na depressão pós-parto materna?
Nos primeiros meses do pós-parto, a mulher tende a esquecer-se de si. Das suas necessidades, de comer ou de dormir. O seu foco está todo no bebé. Todas as horas do dia são para responder a todas as suas solicitações.
Pouco tempo depois, a mulher fica exausta, irritada, sem paciência e pode mesmo questionar-se sobre a sua capacidade em ser uma boa mãe ou se reúne as competências necessárias para cuidar adequadamente do bebé.
Muitos homens sentem-se excluídos quando nasce um bebé. É verdade que o pai não pode amamentar, mas cuidar de um bebé exige muitas outras tarefas nas quais pode ajudar com igual competência.
Ter uma boa rede de apoio, especialmente do pai, é fundamental para ajudar a mulher a ultrapassar esta fase sem sentimentos de culpa em relação à sua capacidade em cuidar e amar o bebé.
Assim, há muitas coisas que o pai pode fazer para ajudar a superar a depressão materna:
1. Passar tempo com a mãe, fazendo-lhe companhia;
2. Dar-lhe carinho e ser empático em relação aos seus sentimentos;
3. Promover encontros com as amigas e proporcionar-lhe momentos de descontração sem ter que se preocupar a toda a hora com os cuidados ao bebé;
4. Protegê-la contra aquelas pessoas que gostam muito de dar opiniões – mesmo quando ninguém lhas pede – e se acham as maiores especialistas em cuidar de bebés;
5. Ajudar a definir e implementar as rotinas do bebé – do sono e da alimentação – e respeitá-las, mesmo quando há visitas em casa, para salvaguardar dos interesses do bebé e descanso da mãe;
6. Dar à mãe toda a privacidade de que precisa. Algumas mulheres não se sentem confortáveis a amamentar em público, por exemplo, e, apesar disso, há sempre alguém que insiste em estar presente para dar umas dicas ou ficar apenas a olhar;
7. Ajudar nas tarefas domésticas ou contratar alguém para o fazer, nem que seja apenas por algum tempo;
8. Evitar conflitos por situações menores e aliviar o clima em casa com boa disposição e um clima de cooperação;
9. Ir às compras ou usar a internet para fazer as compras e pedir para entregar em casa;
10. Fazer refeições ligeiras e saudáveis, que não exijam passar horas na cozinha;
11. Fazer a gestão das visitas com bom senso, mesmo as dos parentes mais próximos. Promover visitas rápidas e que não impliquem alterar as rotinas do bebé;
12. Elogiar os esforços por ser uma boa mãe e lembra-lhe que todas têm dúvidas, que cada bebé é único e que é necessário tempo para todos se conhecerem e adaptarem;
13. Respeitar a condição da mulher sem a desvalorizar com frases e expressões paternalistas. Ninguém fica deprimido porque “sim” e ninguém gosta de estar deprimido;
14. Procurar ajuda especializada se necessário e acompanhar a sua companheira, se ela assim o desejar;
15. Informar-se sobre os cuidados ao bebé e ser sensível às necessidades da mulher nos primeiros meses após o parto, período muito exigente não só a nível físico mas, também, e sobretudo, emocional;
16. Mostrar-se presente e disponível para ajudar;
17. Incentivar a sua companheira a ter uma postura de vida saudável fazendo algum tipo de desporto (falem primeiro com o médico sobre o tipo de atividade física que pode desenvolver no período pós-parto), facilitando o sono regular (levantando-se à noite para confortar o bebé, por exemplo) e uma alimentação saudável para todos.
Durante a gravidez, sempre que possível, acompanhe a sua companheira às consultas durante a gravidez ou às aulas de preparação para o parto. Viva esta aventura a dois. Partilhem os bons e os maus momentos. As dúvidas e as angústias mas, também, as alegrias e os sonhos. Entusiasme-se com a escolha do nome, nas compras para o enxoval ou a montar o quarto.