Uma mulher a quem foi diagnosticada cancro e cuja probabilidade de conceber naturalmente após o término dos tratamentos era muito baixa foi questionada pela equipa de profissionais de saúde que a seguia se queria retirar os óvulos para poder, mais tarde, engravidar.
Foi desta história de superação e batalha que nasceu o primeiro bebé a partir de ovos amadurecidos e congelados em laboratório.
O primeiro bebé a nascer de ovos amadurecidos e congelados em laboratório
A história é relatava pelo jornal britânico “The Guardian”, ao qual Michaël Grynberg, o responsável pela medicina reprodutiva e perservação de fertilidade do Hospital Universitário Béclère, em Clamart, perto de Paris, prestou declarações:
“Não sabíamos se os óvulos iriam ou não sobreviver e manter o seu potencial de reprodução para gerar uma gravidez e parto. Foi uma ótima surpresa”.
A mulher em questão, cujo nome se mantém incógnito, descobriu que tinha cancro da mama aos 29 anos de idade. Para atacar o tumor, os especialistas em Oncologia aconselharam-na a realizar uns ciclos de quimioterapia. No entanto, antes de prosseguir com a terapêutica, e tendo em conta que estas terapêuticas são conhecidas por diminuir a taxa de fertilidade dos doentes, foi-lhe dada aconselhamento para o caso de querer, mais tarde, engravidar.
Várias eram as hipóteses em cima da mesa. Duas eram as que lhe forneciam uma maior probabilidade de engravidar no futuro:
- Começar um tratamento de Fertilização In Vitro, que consistia na utilização de hormonas com vista a estimular a produção de óvulos, ainda que isso pudesse representar um agravamento no seu estadio de cancro;
- Remover e congelar partes do tecido ovariano da paciente e re-implantá-lo quando o tumor já não se encontrasse presente no seu corpo.
A mulher optou pelo segundo. O tecido foi, então, retirado do corpo da mulher e os óvulos sujeitos a processo de amadurecimento no labotório do hospital e depois vitrificados (processo que congela rapidamente as células em nitrogénio, de forma a diminuir a probabilidade de formação e rutura de cristais de gelo).
Quando venceu o cancro, a mulher tentou conceber de forma natural. Mal se apercebeu de que não estava a conseguir, voltou ao hospital para se submeter a técnicas de reprodução medicamente assistida.
Nessa altura, a equipa descongelou sete ovos, seis dos quais sobreviveram ao processo e que foram, numa segunda fase, alvo de injeções de esperma. Dos seis, um desenvolveu-se num embrião. Começou assim a jornada de uma gravidez desejada que resultou no nascimento de um bebé saudável – James nasceu a 6 de julho de 2019, cinco anos após o diagnóstico de cancro à sua mãe.
Uma nova oportunidade para as mulheres que têm cancro serem mães
O responsável pelo Departamento de Medicina Reprodutiva do Hospital Universitário Béclère, Michaël Grynberg, explicou que este pode ser um novo método de engravidar após ter um tumor maligno.
Nos pacientes oncológicos, a remoção e o congelamento dos tecidos ovarianos antes da realização da quimio ou radioterapia pode representar uma abordagem mais fiável. Contudo, este procedimento pode acarretar riscos a médio-longo prazo. Se as células cancerígenas se tiverem infiltrado no tecido dos ovários e for retirado antes da realização dos tratamentos oncológicos.
“[Esta mulher]Teve muita sorte e nós também”: esclareceu o responsável.
Outras duas mulheres também diagnosticadas com cancro, uma da mama e outra um linfoma (cancro de sangue), não ficaram grávidas após a realização do mesmo procedimento.
O que falta ainda descobrir
A equipa está agora a investigar o que se deverá ser alterado deforma a que o procedimento seja mais eficiente no maior número de mulheres possível.
Atualmente, muitos são os embriões criados a partir de ovos amadurecidos em laborarório e congelados que não resultam em gestações saudáveis.
Outra questão para a qual os médicos procuram resposta é qual a razão pela qual o número de óvulos imaturos que podem recuperar é tão díspar de mulher para mulher.
“Podemos ter duas pacientes diferentes, ambas com 30 anos e obter 10 óvulos de uma e 20 da outra, e não sabemos o porquê”, declarou Grynberg.
Os ovos foram amadurecidos no laboratório antes e usados para criar embriões que produziram nados-vivos.
A história deste bebé é um acontecimento no mundo da medicina pois foi o primeiro nascimento de um ovo amadurecido em laboratório e congelado antes de ser utilizado.
Os detalhes do parto foram publicados no Annals of Oncology.