O consumo de tabaco não deixa de ter efeitos na gravidez, mesmo depois de as grávidas deixarem de fumar e mesmo que o façam antes de engravidar. Um estudo francês prova que o tabaco afeta a placenta.
As conclusões do estudo foram conhecidas hoje, quarta-feira. Cientistas do Inserm, do CNRS e da Universidade de Grenoble Alpes (UGA) estudaram o ADN placentário de quase seiscentas mulheres.
A amostra foi dividida em três categorias: as não fumadoras, as que fumaram antes e continuarão durante a gravidez e as que deixaram de fumar nos três meses anteriores a engravidarem.
No grupo das mulheres fumadoras, foram detetadas alterações “epigenéticas” em 178 regiões do genoma placentário. Isto significa que apesar de a sequência do ADN não sofrer alterações, a maneira como os genes se expressam, sai afetada.
No grupo das ex-fumadoras, as alterações foram registadas menos frequentemente, embora ainda tenha sido detetadas em 26 regiões do genoma placentário. Ou seja, mesmo depois de parar fumar, a placenta conserva algumas consequências da exposição ao tabaco.
A placenta, vulnerável a diversos compostos químicos, desempenha um papel crucial no desenvolvimento do feto. No estudo, os investigadores concluíram que as regiões alteradas correspondem muitas vezes a áreas que controlam à distância a ativação ou repressão dos genes.
O tabaco, ou os efeitos do consumo das substâncias nocivas, afeta a placenta através destas modificações epigenéticas. Por exemplo, a criança pode vir a sofrer, mais tarde, as consequências de ter estado ligada a uma placenta “infetada”.
A placenta é fundamental para o desenvolvimento do feto, estabelecendo a comunicação com a mãe. Durante os nove meses de gravidez, este órgão proporciona nutrição, remoção de resíduos e suporte imunológico, entre outras funções.
Provou-se que o consumo de tabaco durante a gravidez tem consequências nocivas para a saúde da mãe e do bebé. Contudo, segundo os investigadores, os mecanismos através dos quais isso acontece, ainda são desconhecidos.
Este estudo foi conduzido por cientistas do Inserm (instituto de saúde e pesquisa médica francês), do CNRS (centro de pesquisa científica) e da Universidade de Grenoble Alpes, em França. O artigo foi publicado na revista BMC Medicine.
7 de outubro 2020