A distócia de ombros é uma emergência obstétrica que, na maioria das vezes, não é previsível e só se tem conhecimento da situação durante o parto. O tema tem sido alvo de discussão pública devido às suas consequências na saúde materno-fetal.
O diagnóstico de Distócia de Ombros (DO) não é tão fácil quanto possa parecer. Tal facto justifica a ampla variação na sua incidência: vai de 0,2 a 6,1%.
O que é a Distócia de Ombros?
A DO surge na fase de expulsão do bebé após sair a cabeça do bebé, e os ombros ficam obstruídos na pélvis nos 60 segundos seguintes por não ter feito a rotação para que saia um ombro de cada vez. Nesses casos, é necessário aplicar manobras obstétricas auxiliares para ajudar a fazer essa rotação e todo o corpo do bebé saia pelo canal vaginal.
Contudo, estes procedimentos médicos devem ser realizados com muita precaução e cuidado pois podem desencadear complicaçoes maternas e neonatais.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco desta situação são os seguintes:
- Macrossomia fetal (quando o peso fetal é maior do que 4,500 gramas. Mas, é importante frisar que a indicência de distócia de ombros aumenta a partir do momento em que se estima um peso à nascença superior a 4kg, apesar de a maioria destes bebés poder não apresentar esta condição por ser marcado, antecipadamente, o parto por cesariana);
- Diabetes gestacional. Os bebés de mulheres com diabetes gestacional têm os pâramentros de crescimento diferentes dos demais – o diâmetro biacromial é maior do que o biparietal (cabeça). Isso acontece porque a insulina atua no crescimento dos membros e tronco e não no da cabeça.
- Parto instrumentado;
- Prolongamento do trabalho de parto, especialmente na 1ª e 2ª fase do trabalho de parto;
- Gravidez anterior em que se verificou a mesma condição, entre outros que ainda carecem de evidência científica.
De notar que, na maioria dos casos, não existe fatores de risco. Assim sendo, a distócia de ombros pode ser considerada um fenómeno imprevisível.
O que fazer perante o diagnóstico de distócia de ombros?
Na abordagem da distócia de ombros inicialmente deve ser realizada a Manobra de McRoberts, associada ou não a pressão suprapúbica e extensão da episiotomia.
A Advanced Life Support of Obstetrics afirma que perante estes casos, deve acionar-se o protocolo HELPERR (uma mnemónica):
- H (call for help) – chamar ajuda;
- E (evaluate for episiotomy) – avaliar a necessidade de efetuar uma episiotomia;
- L (legs) – efetuar a Manobra de McRoberts;
- P (suprapubic pressure) – aplicar pressão suprapúbica;
- E (enter maneuvers) – fazer manobras de rotação interna;
- R (remove the posterior arm) – extração do ombro posterior;
- R (roll the patient) – realizar manobra de Gaskin.
Estas manobras obstétricas devem ser aplicadas para resolver a distócia de ombros não devem durar mais do que 4 ou 5 minutos, de forma a não comprometer a saúde do recém-nascido.
De frisar que esta abordagem tem limitações para partos noutras posições que não a deitada, nomeadamente as verticais.
Quais as complicações que podem surgir de um parto em que se verifica distócia de ombros?
Qualquer ato médico pode ter consequência mesmo que seja bem realizado. No parto de um bebé com distócia de ombros não é diferente. As
complicações que podem resultar da tentativa da sua resolução são várias e podem abranger não só a mulher como o bebé.
Complicações maternas
- Hemorragia pós-parto;
- Lacerações;
- Rotura uterina;
- Atonia vesical;
- Endometrite;
- Diátese da sínfise púbica;
- Neuropatia femoral cutânea lateral.
Complicações fetais
- Lesão de plexo de braquial, que origina a paralisia dos músculos do braço. Está normalmente associada ao trabalho de parto prolongado e um elevado número de manobras;
- Fraturas ósseas, especialmente da clavícula e úmero;
- Lesões neurológicas, como o caso de hipóxia fetal;
- Morte neonatal.
Apesar de pouco frequente, a distócia de ombros implica um elevado risco de complicações maternas e neonatais.
As recomendações para lidar com uma situação destas são baseadas em estudos com evidências científicas.
De salientar a importância da formação da equipa multidisciplinar que vai assistir a grávida. Através de simuladores humanos, os profissionais de ginecologia e obstetrícia podem treinar as suas aprendizagens, contribuindo também assim para uma redução das morbimortalidades maternas e dos recém-nascidos.
Fontes:
- Acta Med Port 2011; 24: 613-620
- Distócia de ombro, de Ananda Araújo Teixeira, Daniela Lima Gontijo, Flávia Rezende Tinano, Giancarlo Pereira Zille, Juliana Caldeira Correa, Leandro Augusto Barbosa Caixeta, Natália Salgado Cardoso Santos, Roberta Silva Santana, e Regina Amélia Lopes Pessoa de Aguiar