Pela primeira vez foram encontrados microplásticos em quatro placentas humanas. O achado foi o resultado de um estudo conduzido por uma equipa de investigadores italianos, publicado no início de dezembro numa revista científica da especialidade.
Os microplásticos são o resultado da degradação de artigos em plástico de maiores dimensões que tenham sido abandonados no meio-ambiente. As suas dimensões são inferiores a cinco milímetros e têm sido detetados, entre outros, nos oceanos, nos solos, em peixes e mamíferos.
Micropartículas de plástico usado em tintas, tapetes, malas de viagem, cosméticos e outros nas placentas
Para evitar qualquer contaminação externa, durante toda a experiência não foi usado plástico. Durante o parto, as marquesas foram revestidas com algodão e os obstetras e enfermeiros usaram luvas também de algodão.
A análise permitiu detetar 12 partículas de microplásticos em quatro das seis placentas. Cinco das partículas foram encontradas no lado fetal, quatro no lado materno e as restantes três nas membranas corioamnióticas.
Todas as partículas apresentavam pigmentos distintos. Três dos microplásticos foram identificados como sendo polipropileno, um tipo de plástico com inúmeras utilizações, como embalagens, tapetes, malas de viagem e revestimentos interiores dos carros. As outras nove partículas não foram identificadas, mas os pigmentos das mesmas foram identificados como sendo usados em tintas, revestimentos e produtos de higiene pessoal, entre outros.
“As mães ficaram chocadas”, comentou Antonio Ragusa, líder do estudo da Unidade de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital de Fatebenefratelli em Roma.
“Este estudo oferece nova luz sobre o nível de exposição humana aos [microplásticos] e micropartículas em geral”, afirmaram os investigadores.
“Devido ao papel fundamental da placenta no suporte do desenvolvimeno fetal e em funcionar como uma interface entre este e o ambiente externo, a presença de partículas (plásticas) exógenas e potencialmente prejudiciais constitui um assunto de enorme preocupação”, acrescentaram.
Um problema cada vez maior
Os investigadores realçaram ainda que a produção global de plástico é gigantesca, sendo criadas mais de 320 toneladas por ano. 40% deste plástico produzido anualmente é usado em embalagens descartáveis após uma utilização.
Foi ainda sublinhado que a ideia de o plástico ser um recurso renovável não é correta pois uma quantidade muito elevada de plástico acaba em aterros, ou pior, no meio-ambiente. A partir daí acabam por chegar à nossa alimentação e, consequentemente, ao nosso organismo.
O grande problema é que os microplásticos contêm substâncias que perturbam o nosso sistema endócrino, podendo causar problemas de saúde graves como infertilidade e cancro.