Como formar jovens felizes e inteligentes?
No livro “Pais brilhantes & Professores fascinantes”, o psiquiatra e psicoterapeuta Augusto Cury procura responder a esta questão através do contributo que pais e educadores podem e devem trazer para a vida da criança através do desenvolvimento da sua inteligência emocional e do pensamento.
Os sete pecados capitais dos pais/educadores: corrigir publicamente; expressar autoridade com agressividade; ser excessivamente crítico: obstruir a infância da criança; punir quando estiver irado e colocar limites sem dar explicações; ser impaciente e desistir de educar; não cumprir com a palavra; destruir a esperança e os sonhos.
Os sete pecados capitais dos educadores:
1. Corrigir publicamente
“Corrigir publicamente uma pessoa é o primeiro pecado da educação. Um educador jamais deveria expor o defeito de uma pessoa, por pior que ele seja, diante dos outros. A exposição pública produz humilhação e traumas complexos difíceis de serem superados. Um educador deve valorizar mais a pessoa que erra do que o erro da pessoa.”
Os pais ou os professores só devem intervir publicamente no caso de a criança ofender alguém em público. Ainda assim, devem agir com prudência para não humilhar a criança nem agravar a tensão.
A humilhação, quando usada como estratégia para educar, provoca sentimentos de inferioridade e diminuição e, na maior parte dos casos, a criança não sabe como lidar com esses sentimentos negativos. Estes sentimentos prevalecem anos na mente da criança e podem tornar-se num entrave ao desenvolvimento das suas capacidades cognitivas e sociais e à perceção de auto-estima futuros.
A humilhação, a perda de auto-confiança, geram medos e sentimentos de inferioridade que se cristalizam para o resto da vida. Medo de estar com os outros, medo de expor e partilhar ideias, medo de enfrentar as dificuldades e aproveitar os reveses da vida para construir um caminho melhor.
2. Expressar autoridade com agressividade
Muitos pais agridem-se (física ou por palavras) e criticam-se mutuamente na presença dos filhos. Esta não é a melhor estratégia para transmitir à criança o que é partilhar a vida e como resolver conflitos. Os conflitos e problemas entre os pais devem ser resolvidos em privado, sem gritos, sem exaltações e sem criar um clima de tensão e terror emocional na criança. Mas, como não somos perfeitos, se tal acontecer, devemos pedir desculpa. Reconhecer que este comportamento não é aceitável nem serve de exemplo para as relações da criança.
A criança imita o exemplo dos pais e educadores para moldar a sua personalidade. Usar a agressividade para impor pontos de vista, não dialogar e justificar claramente à criança determinadas opções (que envolvam toda a família ou apenas a criança), ser intolerante para com as necessidades ou visão do outro não é uma forma de crescer cultivando a inteligência e a felicidade emocional.
A verdadeira autoridade é conquistada com respeito, inteligência e amor. Com diálogo, com estímulo e dedicação cruzando o mundo dos pais / educadores com o mundo da criança.
3. Ser excessivamente crítico: obstruir a infância da criança
A crítica constante (pública ou não), a comparação com os amigos, a pressão e a chantagem emocionais sobre a criança sobre, a falta de empatia e de compreensão da origem de determinados comportamentos, pode levar a que a criança pense que não é amada pelos pais, levando-a a isolar-se e a não partilhar com os pais / educadores aquilo que a preocupa, a pedir ajuda para os seus problemas e angustias.
A casa deve ser um porto de abrigo, o local mais seguro para onde voltamos sempre que estamos magoados ou precisamos de apoio e esperança. Isto deve ser claro e evidente para a criança. A nossa casa é o sítio onde temos a perceção de que todos os nosso sonhos se podem realizar.
A criança deve ter espaço para errar e, por vezes, sofrer. É impossível preservar os nossos filhos do sofrimento. Colocá-los numa redoma, protegê-los excessivamente em nada vai contribuir para que se sejam adultos bem resolvidos e felizes.
4. Punir quando estiver irado e colocar limites sem dar explicações
“As crianças vão sempre cometer erros e o importante é o que fazer com eles.”
Quando a criança erra, quando tem um comportamento desajustado, o que fazer? Castigá-la ou compreender o que está na origem da sua atitude, demonstrar porque é que determinado comportamento está errado ajudando-a corrigir o erro?
Os momentos difíceis devem ser usados para educar com inteligência. Expressões como “não gosto mais de ti” não devem ser usadas. A agressão (física e verbal) vai perdurar muito mais tempo na mente da criança do que o erro que cometeu e não vai trazer nada de positivo à sua personalidade.
Dê a si próprio 30 segundos para se acalmar e pensar racionalmente na situação. Ajude a criança a compreender o que está certo ou errado, a ponderar antes de agir, a admitir e a corrigir o erro. Só assim o vai evitar no futuro ciente do amor e do apoio dos pais / educadores.
Os limites não devem ser impostos, mas explicados. A criança tem necessidade de compreender o porquê das coisas e o papel do adulto é explicá-lo com afeto e compreensão.
5. Ser impaciente e desistir de educar
É muito mais fácil julgar do que tentar compreender as atitudes dos outros. Personalidades difíceis podem ser o resultados de vivências traumatizantes desconhecidas (especialmente se estamos a falar pessoas que desconhecem a realidade familiar e social da criança).
O desafio está em construir pontes e portas de entrada para o mundo da criança. Perceber a origem e os motivos das suas atitudes. Uma vez mais, o papel do adulto deve ser o de apoiar através do dialogo e da empatia emocional. Não desistir de educar para a felicidade, para a auto-realização proporcionando à criança estimulo e encorajamento.
“Pais brilhantes e professores fascinantes não desistem dos jovens, ainda que eles os dececionem e não lhes dêem retorno imediato. Paciência é o seu segredo, a educação do afeto é sua meta.”
6. Não cumprir com a palavra
“Havia uma mãe que não sabia dizer “não” a um filho. Como não suportava as reclamações, birras e tumultos do menino, queria satisfazer todas as suas necessidades e reivindicações. Mas nem sempre conseguia, e, para evitar transtornos, prometia o que não podia cumprir. Tinha medo de frustrar o filho.”
A frustração, a dor e a perda também são sentimentos importantes para a construção da personalidade. Saber lidar com as emoções negativas e com o que não acontece como planeado é fundamental para crescer com segurança e auto-estima. Não podemos ter sempre tudo, não conseguimos controlar todas as variantes que influenciam a nossa vida mas temos o poder de as mudar a nosso favor.
Saber dizer “não” à criança garante o respeito pelo adulto e educa-a no sentido de que as coisas têm um custo. Devem ser valorizadas e só trabalhando muito se consegue atingir aquilo que se quer alcançar.
Prometer mais do que aquilo que se consegue dar, e não cumprir, gera desconfiança. A palavra dada deixa de ter valor. A criança deixa de acreditar no que ouve e deixa de ter fé nos outros.
“A confiança é um edifício difícil de ser construído, fácil de ser demolido e muito difícil de ser reconstruído.”
7. Destruir a esperança e os sonhos
“O maior pecado que os educadores podem cometer é destruir a esperança e os sonhos dos jovens. Sem esperança não há estrada, sem sonhos não há motivação para caminhar. O mundo pode desabar sobre uma pessoa, pode perder tudo na vida, mas, se tem esperança e sonhos, tem brilho nos olhos e alegria na alma.”
Educar também é acreditar na vida, mesmo nos momentos menos alegres; é ser resiliente, é ter esperança no futuro, mesmo que o presente nos desiluda.
As pessoas que que perdem a esperança têm enormes dificuldades em superar seus conflitos. Quem deixa de ter esperança de que a vida e o mundo podem melhorar, torna-se opaca, passiva, conformada, distante e fria. Quem perde a capacidade de sonhar sente-se permanentemente derrotado, torna-se numa vitima impotente para agir e transformar as dificuldades numa oportunidade para fazer de outra forma, perde força para lutar e o gosto pela vida.
“Sem sonhos não há fôlego emocional.
Sem esperança não há coragem para viver.”
Referência bibliográfica: Pais brilhantes & Professores fascinantes, de Augusto Cury