Alimentação na gravidez em mulheres com obesidade e excesso de peso
A obesidade é um dos problemas de saúde mais comuns e a prevalência de mulheres obesas ou com excesso de peso em idade reprodutiva tem vindo a crescer.
A obesidade materna é agora conhecida como um fator de risco que afeta o desenvolvimento e continuidade de uma gravidez, assim como, a taxa de fertilidade e fecundidade que são mais baixas nas mulheres com obesidade e excesso de peso.
Estudos demonstram que a presença de obesidade materna durante a gravidez cria um ambiente intrauterino inferior ao que é considerado ideal tanto para a mãe como para o desenvolvimento do feto.
A obesidade/excesso de peso na gravidez tem sido correlacionada com um risco aumentado de diabetes e hipertensão arterial (com resultados adversos durante a gravidez, incluindo diabetes gestacional e pré eclâmpsia), macrossomia fetal (bebés com mais de 4 kg), partos por cesariana, com acréscimo da morbilidade materna e perinatal.
Neste sentido, um outro aspeto recentemente muito estudado é a herança epigenética, definida como um conjunto de processos biológicos que regulam mudanças transmissíveis na expressão do gene sem alterar a sequência de DNA. Os mecanismos epigenéticos são afetados por vários fatores, incluindo o desenvolvimento in utero e na infância, químicos, ambientais, drogas e fármacos, idade e dieta.
Hoje em dia está comummente aceite, que a má saúde materna afeta a expressão génica fetal, o ambiente intrauterino e a vida neonatal precoce, podendo induzir uma resposta permanente no feto e no recém-nascido, levando a uma maior suscetibilidade a futuras doenças. Os novos conhecimentos na área da epigenética vieram desta forma alertar para a necessidade de correção da alimentação e nutrição de maneira a criar um ambiente intrauterino positivo para o feto.
Também sabemos que o peso ganho durante a gravidez influencia a saúde da mulher e do seu bebé, sendo que o excesso de peso ganho durante a gravidez é um passo para o desenvolvimento de uma obesidade futura.
De acordo com o Institute of Medicine, consoante a situação nutricional inicial da grávida (baixo peso, normal, excesso de peso ou obesidade) as recomendações de ganho de peso no final da gravidez são diferentes. Por exemplo, uma mulher com Índice de Massa Corporal (IMC) de excesso de peso é recomendo o aumento de 6,8 a 11,4 kg, e já uma mulher com IMC de Obesidade apenas 4,9 a 9,1 kg.
A gravidez pode ser um bom momento para atingir mudanças de comportamento usando a motivação extra que as mulheres tendem a ter neste período de forma a maximizar a saúde do seu filho. Este é um período em que as mães se preocupam mais com sua alimentação e saúde, mudando com frequência os seus hábitos, podendo esta fase ser vista como uma oportunidade excelente para adoção de estilos de vida saudáveis.
Alguns estudos demonstram que mulheres com excesso de peso/obesidade podem ter algumas carências nutricionais durante a gravidez, devido às escolhas alimentares que fazem, sendo por isso importante nesta fase da vida pedirem ajuda a um profissional de saúde, como o nutricionista.
Dicas para uma gravidez saudável
- Primeiro será importante desmistificar que durante a gravidez a mãe não deve comer por dois!
- A alimentação deve ser de acordo com as recomendações da roda dos alimentos, isto é, de acordo com os guias de uma alimentação saudável.
- No primeiro trimestre a alimentação não deve ser diferente da população em geral, apenas deve ser uma alimentação saudável, planeada, completa e variada, distribuída em 6 a 7 refeições durante o dia, sem esquecer que as necessidades estão aumentadas em alguns nutrientes como as vitaminas e minerais (acido fólico, vitaminas do complexo B, vitamina D, iodo, cálcio, ferro, entre outras) – escolha uma alimentação com qualidade (rica em vegetais, fruta, leite e derivados, peixe/frutos oleaginosos) e não em quantidade;
- No segundo e terceiro trimestre as necessidades energéticas e proteicas aumentam ligeiramente pelo que é ainda importante manter as recomendações do primeiro trimestre e reforçar os grupos de alimentos, como o dos cereais e derivados, peixe/carne/ovos e leguminosas.
- Evite excessos às refeições e o consumo regular de alimentos nutricionalmente desequilibrados (doces/bolos/folhados/refrigerantes/fritos).
- Beba cerca de 1.5 a 2 litros de água diariamente.
- Evite o consumo de bebidas alcoólicas, tabaco e outras substâncias nocivas.
- Consuma pelo menos 3 peças de fruta por dia, além de legumes/saladas/sopas ao almoço e jantar.
- Opte por carnes magras e peixes ricos em ómega 3 (salmão/cavala/sardinha/atum)
- Evite alimentos com muita gordura, sal e açúcar.
- Aumente de peso de forma adequada.
- Não se esqueça da suplementação adequada de vitaminas e minerais;
- Faça atividade física de forma a ajudar a controlar o seu peso assim como o aumento excessivo.
Por fim, gostaria de referir a gravidez não é de todo o melhor momento para iniciar uma dieta com o intuito de perda de peso, pois realmente a mãe precisa de assegurar a ingestão de nutrientes adequados para o bom desenvolvimento fetal. Com certeza que o melhor seria a futura mãe alcançar o seu peso recomendado/ideal, antes de engravidar, programando assim uma gravidez futura mais saudável, tanto para si como para o seu filho.
Termino alertando para a importância de uma alimentação saudável e da prática de atividade física durante este período, principalmente nas grávidas obesas, concluindo que a prevenção da epidemia de obesidade juvenil pode começar ainda no útero.