As emoções da mulher na gravidez. A gravidez e os primeiros anos de vida da criança constituem um período crítico e vulnerável para a saúde mental da mãe e do bebé, marcando todo o desenvolvimento futuro.
As emoções da mulher na gravidez
A gravidez introduz transformações profundas (emocionais, relacionais, sociais e económicas) no pai, no casal parental e na família mais alargada.
É um período de crescimento muito rápido do feto e do bebé, em que as experiências então vividas (físicas e emocionais) têm um impacto vital no seu desenvolvimento, repercutindo-se na sua saúde mental ao longo de todo o ciclo de vida.
Quando nasce um bebé nasce também uma mãe
A conceção e a gravidez desencadeiam na futura mãe uma autêntica “revolução” psicossomática: tanto o seu corpo como o seu funcionamento psíquico sofrem profundas modificações e adaptações, todas elas necessárias para receber o bebé e promover o seu desenvolvimento.
A mãe adquire uma nova identidade: passa a ser não só uma mulher, uma filha dos seus pais, mas também a mãe do seu próprio bebé.
Esta mudança é uma conquista que exige uma aprendizagem e uma preparação psicológica em interação com o meio que a rodeia.
Estas transformações iniciam-se logo nos primeiros meses da gravidez. A grávida tende a centrar-se mais em si própria, sente mais necessidade de falar de si, e os seus sentimentos são por vezes ambivalentes e contraditórios: entre o deslumbramento e as expectativas positivas, a insegurança e o medo.
Existe uma organização psíquica particular, característica da gravidez?
Tem sido descrita por vários autores uma organização psicológica particular da futura mãe, que se desenvolve ao longo da gravidez e continua no pós-parto, ao longo dos primeiros meses de vida da criança.
Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, denominou-a “preocupação maternal primária” e descreveu-a como um estado de sensibilidade particular da mãe, focada nas necessidades e vivências do bebé.
Por seu lado, Stern, pediatra americano, denominou este processo de “constelação da maternidade” e caracterizou-o por três aspetos principais:
- Uma preocupação primordial com a proteção do recém-nascido;
- Uma inquietação e uma necessidade intensa de dar e receber afeto, estabelecendo uma ligação profunda com o bebé;
- A criação de uma rede de relações de apoio, constituída por outras mães e pais mais experientes.
Para que este estado psíquico particular se desenvolva, é necessário que a mãe disponha de um ambiente protetor e de suporte afetivo.
Precisa de ser escutada e compreendida por alguém disponível e atento: o seu companheiro, outro familiar ou amigo ou um técnico próximo com quem possa estabelecer uma relação de confiança.
Fonte: Promoção da Saúde Mental na Gravidez e Primeira Infância – Manual de orientação para profissionais de saúde – Direcção-Geral da Saúde Direcção de Serviços de Psiquiatria e Saúde Mental – Lisboa: DGS, 2006. – 46 p. ISBN: 972-675-121-7