A amamentação pode colocar muitas dúvidas, especialmente para as mães de primeira viagem. Neste artigo, damos resposta a algumas das questões mais frequentes sobre a amamentação.
1. O tamanho do peito influencia a produção de leite?
Não, o tamanho do peito não influencia a produção de leite, pelo que não é verdade que mulheres com peito pequeno tenham menor produção de leite.
2. O que fazer para aumentar a produção de leite?
O maior estímulo para a produção de leite é a sucção do bebé e o consequente esvaziamento da mama. A produção de leite funciona segundo um mecanismo designado “feedback positivo“.
Quando o bebé mama há produção, no cérebro da mãe, de uma hormona chamada prolactina que tem como principal função promover a produção de leite para a mamada seguinte. Assim, de uma forma geral, podemos dizer que quanto mais o bebé mamar maior será a produção de leite.
3. É verdade que o stress diminui a produção de leite?
O stress afeta sobretudo a expulsão do leite da mama. Para além da prolactina e do fator inibidor existe uma outra hormona, a ocitocina, que interfere no processo de amamentação. Esta hormona tem como função promover a contração das células musculares em torno dos alvéolos mamários e consequentemente a expulsão do leite.
A ocitocina começa a atuar ainda antes do bebé começar a mamar tendo em conta que a sua libertação depende de estímulos visuais, olfativos, auditivos ou táteis (como por exemplo pegar no seu bebé ao colo ou mesmo ouvi-lo chorar).
Pelo contrário a dor, a preocupação e o stress podem bloquear este reflexo e consequentemente o fluxo do leite. Neste caso o leite é produzido, mas não é expulso da mama.
Muitas mães ficam nervosas por acharem que não estão informadas e preparadas para amamentar os seus bebés. Neste caso é de todo aconselhável que procure apoio do seu médico ou enfermeiro.
4. Porque é que é importante que se esvazie a mama?
Existem dois motivos principais para que seja importante esvaziar a mama.
O primeiro tem que ver com a constituição do leite. O primeiro leite que o bebé mama é mais rico em água e lactose e à medida que vai a mama vai esvaziando, o leite torna-se mais rico em gordura. Só mamando todo o leite é que o bebé irá suprir as suas necessidades e ficar satisfeito.
O segundo é o estímulo para a produção de leite. Para além da prolactina, existe uma outra substância denominada fator inibidor que controla a produção de leite dentro da própria mama.
Se existir leite suficiente na mama, este fator faz com que a produção de leite cesse. Pelo contrário, se o leite for removido e a mama esvaziar, o fator é também removido e ocorre novamente produção de leite para a mamada seguinte.
Por isto, é também importante que a mamada comece pela mama que ficou menos vazia na vez anterior.
5. Quanto tempo é que o bebé deve mamar?
Esta questão não tem uma resposta fixa, porque tudo depende do ritmo do bebé. Como vimos, é importante que o bebé mame até ao esvaziamento da mama. Contudo, será importante que perceba quando é que e o bebé para efetivamente de mamar e passa para uma fase em que muitas vezes usa a mama da mãe como “chupeta“.
Demasiado tempo ao peito pode promover o aparecimento de fissuras e tornar a amamentação mais dolorosa. Ressalva-se contudo que com o crescimento será expectável que o bebé largue a mama quando se sentir satisfeito.
A duração da mamada é algo que deve encarar de forma descontraída e deve ter presente que com o tempo irá conhecer cada vez melhor o comportamento e necessidades do seu bebé.
6. Devo acordar o meu bebé para mamar?
Nas primeiras semanas de vida, sim. Nestas primeiras semanas recomenda-se que o bebé mame a cada 3 horas e meia porque o seu organismo ainda não está preparado para lidar com grandes períodos de jejum.
Com o crescimento, o organismo vai ficando cada vez mais preparado para gerir as suas reservas e gradualmente deve deixar que seja o seu bebé a acordar para mamar, adquirindo o seu próprio ritmo.
7. Devo dar água ao meu bebé?
Quando o bebé é amamentado pela mãe, não precisa de beber água porque o leite materno satisfaz as suas necessidades hídricas (cerca de 80% do leite materno é água).
Contudo, é necessário salvaguardar situações de condições climáticas extremas ou ainda situações em que a amamentação não está a ser feita da melhor forma e consequentemente não está a ser eficiente.
Nestes casos, sempre que der água ao seu bebé tenha atenção à sua quantidade e à qualidade (engarrafada ou esterilizada).
8. Porque é o bebé tem que arrotar depois de mamar?
Quando o bebé é muito pequenino existe ainda alguma descoordenação ao nível da respiração e sucção e como tal ao mamar também “engole ar“. Assim, é conveniente que após mamar o bebé fique numa posição vertical de forma a expulsar este ar e não haver regurgitação do leite. Esta necessidade de por o bebé a arrotar é importante sensivelmente até aos 6 meses.
9. O que pode determinar a necessidade de interromper a amamentação?
Situações de doenças infeciosas como tuberculose, herpes, varicela e a necessidade de terapêutica farmacológica são contra indicações temporárias para amamentação.
De notar que deve retomar a amamentação apenas quando o seu médico assim o indicar.
As contraindicações definitivas são situações muito particulares e graves como mães infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) ou então bebés com doenças metabólicas como a galactosemia e a fenilcetonuria (diagnosticadas no teste do pezinho).
10. O que devo fazer se não puder amamentar o meu bebé durante um determinado período de tempo?
Nestes casos, deverá aconselhar-se com o seu médico/nutricionista sobre qual o melhor leite artificial para o seu bebé. Adicionalmente o seu leite deve continuar a ser removido com recurso a bomba de forma a não interromper a sua produção e permitir que findo o período de restrição possa voltar a amamentar o seu bebé.
11. Se eu tirar o meu leite com a bomba, como é que depois o devo dar ao meu bebé?
A melhor forma será com uma colher apropriada. Bebés que nas suas primeiras semanas de vida têm contacto com o biberão podem experienciar “nipple confusion” (traduzido para português será “confusão do mamilo“).
A tetina do biberão é de mais fácil sucção do que a mama da mãe, sendo o fluxo mais rápido. Assim alguns bebés podem habituar-se à tetina, rejeitando a mama.
12. Se eu retirar o meu leite, posso depois aquecê-lo no micro-ondas antes de o dar ao meu bebé?
Não é aconselhável que recorra ao micro-ondas, por duas importantes questões.
A primeira prende-se com a perda de propriedades do leite. O aquecimento no micro-ondas pode potenciar a destruição de proteínas e de alguns micronutrientes (como vitaminas), o que não é de todo desejável.
A segunda questão relaciona-se com a segurança. No micro-ondas o leite fica rapidamente muito quente, inclusive muito mais quente do que o recipiente onde se encontra. Assim poderá acontecer que não sinta o recipiente quente mas que o leite esteja efetivamente a ferver.
O leite materno deverá sempre que necessário ser aquecido em “banho maria” com água morna (o leite materno nunca deve ser aquecido a temperaturas superiores a 40º).
Sempre que tiver que recorrer ao aquecimento do leite materno, certifique-se quanto à temperatura do leite (ponha uma gota nas costas da sua mão) e certifique-se também que a temperatura está homogénea (ou seja, que não existem partes mais quentes ou mais frias).
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