A introdução dos primeiros alimentos é uma fase que, ainda que muito feliz, é repleta de dúvidas, sendo que a primeira é precisamente “Por onde começar?”
Existem regras para o início da diversificação alimentar?
Em primeiro lugar, é preciso que todos os pais tenham presente que quando falamos da diversificação alimentar, não existem regras rígidas, mas sim algumas orientadoras que devem ter sempre em conta as características do bebé (por exemplo a sua maturidade) e também as da família (culturais e também socioeconómicas).
Durante muito tempo, as papas de fruta foram as eleitas para o primeiro alimento do bebé, contudo as recomendações atuais tendem a mudar um bocado. Esta mudança tem por base conceitos bastante importantes relacionados com a nossa genética e com o desenvolvimento das crianças e que vão condicionar inclusive o seu crescimento.
Sopa ou puré de fruta: o que introduzir primeiro
O ser humano nasce com o paladar geneticamente condicionado, com uma preferência inata para o doce e uma aversão ao amargo, os sabores que reconhecemos à nascença.
Desta forma, é normal que o bebé aceite mais facilmente alimentos adocicados quando inicia a diversificação alimentar (4–6 meses), e como tal a papa tem sido tradicionalmente o alimento escolhido para iniciar pela papa.
Contudo, hoje sabe-se que é crucial a estimulação precoce da aceitação do sabor amargo (inato, mas menos apetecível), que vai condicionar a aceitação dos alimentos não doces, como os vegetais, o que se revela essencial para uma alimentação saudável.
Os hábitos alimentares e a obesidade infantil
Adicionalmente esta mudança nas recomendações do “primeiro alimento” relaciona-se também com o aumento da prevalência da obesidade infantil e com o padrão de crescimento desejável durante o 1º ano de vida.
É particularmente importante iniciar a diversificação alimentar com as sopas no caso de bebés com excesso de peso, tendo em conta as sopas são nutricionalmente tão completas como as papas e apresentam menor valor energético.
Ao começar pela sopa, lembre-se que um ponto essencial é não desistir à primeira…
O bebé tem um reflexo normal denominado extrusão, que leve a que este rejeite todos os alimentos que lhe são colocados na parte anterior da língua. Este reflexo tende a desaparecer por volta dos 4/5 meses, e que como tal pode ainda estar presente quando o bebé inicia a diversificação alimentar.
Assim é importante que os pais percebem que se o bebé “cuspir” a sopa, isso pode não significar que não gosta ou não quer, mas que simplesmente ainda não adquiriu a maturidade requerida para tal e a introdução deve ser lenta e progressiva.
Será também importante que mesmo que o bebé consiga comer mas rejeite, estudos têm mostrado a necessidade de tentar cerca de 8 vezes até se certificar que o seu bebé não gosta (e que não é apenas uma reação a algo novo) e que mesmo após estas tentativas, poderá sempre experimentar uma nova vez alguns meses mais tarde.
Bibliografia: Breda, J. Peças, MA. 1, 2, 3, Uma Colher de Cada Vez. Marcador. 2011; Harris, G. Coulthard, H. Early Eating Behaviours and Food Acceptance Revisited: Breastfeeding and Introduction of Complementary Foods as Predictive of Food Acceptance. Curr Obes Rep. 2016; 5: 113–120; Government of West Australia. Department of Health. Child and Antenatal Nutrition Manual General information. Section 7 – Introduction to solids. 2007 (Reviewed June 2014).