Portugal continua a ser um dos países da União Europeia com uma das mais elevadas taxas de parto por cesariana. Apesar de ser uma intervenção segura, há muitos aspetos a ter em conta após um parto por cesariana, nomeadamente a cicatriz.
Esta cicatriz resulta da pequena incisão na pele (2 a 3 cm) com uma extensão de, aproximadamente, 10 cm. Numa cesariana, são cortadas sete camadas de tecidos – pele, gordura, fáscia muscular, músculo, peritónio parietal (sob o músculo), peritónio visceral (sobre a parede do útero) e o útero.
Todas estas camadas estão interligadas e funcionam de forma dependente, pelo que, após a operação, esta ligação perde-se devido ao corte e à costura. Para além disso, os próprios tecidos acabam por ganhar aderências e perdem a mobilidade entre eles.
Estas aderências podem ter vários efeitos no corpo da mulher.
Algumas das queixas mais comuns são:
- Dor lombar;
- Dor pélvica;
- Alteração do funcionamento da bexiga;
- Dor durante a relação sexual.
Segundo Catarina Sobral, fisioterapeuta e especialista em Osteopatia Infantil, Saúde Pélvica e Sexualidade, estes sintomas “podem manifestar-se durante um curto espaço de tempo, mas há casos em que podem prevalecer durante meses ou até anos”.
Por isso, à semelhança de outras cicatrizes, a cicatriz de uma cesariana deve ser muito bem cuidada e tratada. É fundamental a mulher apostar “na prevenção e procurar ajuda especializada, mesmo que não apresente qualquer sintoma”.
Há ainda que ter em conta que a recuperação após uma cesariana pode ser mais demorada quando comparada com um parto normal, pois é realizada uma cirurgia.
Como tratar da cicatriz?
Catarina Sobral explica que não existem receitas ou tratamentos específicos. “Quando avaliamos uma recém mamã, há muitos outros fatores a avaliar para além da cicatriz da cesariana. Como tal, não existem frequências de tratamento nem protocolos que possamos aplicar a todas as pacientes”.
Para a fisioterapeuta, o mais vantajoso é “trabalhar em equipa”. É extremamente importante dar dicas e apresentar estratégias para a mulher conseguir fazer os “trabalhos de casa”. Quero que a mulher aprenda a relacionar-se mais com o seu corpo. “O meu objetivo é ter uma mulher independente e dona do seu corpo”, acrescenta.
- Até às 6 semanas: Colocar creme à volta da cicatriz (nunca por cima, pois pode atrasar o processo de cicatrização) e massajar de forma bem leve;
- Após as 6 semanas: É normal notar uma diferença de sensibilidade na zona da cicatriz. Experimente estimular a zona com alguns utensílios como, por exemplo, com uma escova de dentes, algodão ou uma esponja. Após aval do médico, pode iniciar a massagem em cima da cicatriz:
- Primeiramente, com movimentos de pequenos círculos de forma superficial;
- Pressionar ligeiramente a cicatriz e fazer círculos de forma mais profunda;
- Apertar para formar uma prega, deslizando até ao fim da cicatriz;
- Apertar e fazer pequenos movimentos sem largar a pele (sentido horizontal e vertical) e/ou no sentido giratório.
Lembre-se que a massagem não tem que ser dolorosa, mas deve existir alguma pressão para quebrar algumas aderências. Insista nas zonas onde sente mais resistência. Pode ver aqui como fazer a massagem.
Alguns conselhos da fisioterapeuta:
- Evitar carregar pesos e fazer esforços nos primeiros tempos. Não se esqueça que a cesariana não deixa de ser uma cirurgia;
- Tenho atenção à sua postura e a movimentos bruscos. Por exemplo, para se levantar da cama, vire de lado, coloque as pernas fora da cama e só depois se deve sentar com a ajuda dos braços;
- Uma boa alimentação e hidratação são importantes e vão ajudar na recuperação.
Procurar ajuda com especialista em saúde pélvica
Por volta das 6 a 8 semanas, deve consultar o seu médico obstetra. Se a recuperação estiver no bom caminho, é aconselhável marcar consulta com um fisioterapeuta especialista em saúde pélvica.
E porquê? É importante que as mulheres sejam avaliadas, pois “o corpo preparou-se para um parto vaginal“, o que acarreta significativas mudanças.
Para além disso, o pavimento pélvico carregou um bebé durante 9 meses, pelo que as mães devem rever a sua postura, a respiração – a nível de diafragma -, a parte abdominal e os órgãos pélvicos.