Ainda grávida, longe, muito longe de saber o que sei hoje e atendendo que não tenho mãe, tia, sogra, prima, ou parente afastada disponível para me olhar pela criança, pensei que o Lourenço haveria de ir para a creche logo que completasse os quatro meses de vida, que é quando a maioria dos berçários começa a receber bebés.
O Lourenço nasceu, os primeiros meses de vida passaram e, quando a criança fez quatro meses de idade, bem, o caso mudou de figura, olhei eu para o meu pequeno texuguinho, indefeso e carente e reparei que aos quatro meses o bebé ainda precisa muito de mãe.
Incapaz de me afastar do meu filho por uma horinha, adiei o momento da ida para o colégio para os seis meses. Chegados os seis meses pensei que, se era o início do Verão, porque não esperar pelo fim do Verão?! Vá lá, em Setembro, que é a época universal (ou quase universal) da reentré escolar, o Lourenço vai para a escola. E de Setembro não passa.
Sofri horrores por antecipação. Foram nove meses de Mãe e Lourenço e Lourenço e Mãe agarrados que não se largam de amor e paixão a toda a hora do dia.
Temi que eu não aguentasse de saudade e temi que, lá na forma de sentir de bebé, o Lourenço se fosse sentir zangado e abandonado por mim (não tenho lá grande interesse em decepcionar o meu filho), que o ia deixar num sítio novo e estranho.
Temi que o pobrezito achasse que eu havia deixado de gostar dele e que me pudesse pagar com a mesma moeda (que ingenuidade minha, pensar que os bebés têm estes pensamentos mesquinhos!).
A verdade é que o Lourenço precisa de imensa atenção durante todo o dia e por mais que eu a queira dar tenho imensa tarefas a competir gritantemente pelo meu tempo, e passar o dia em multitasking com o bebé, para além de ser pouco produtivo, ainda faz crescer em mim um sentimento de culpa por não estar a dar ao meu filho toda a atenção que merece. Uma mãe neurótica e stressada não é de todo o que o Lourenço precisa. O panorama era negro e dramático.
A noite da véspera antes do Lourenço ir para o colégio passeia-a em claro. Um tormento que nem vos digo, nem vos conto. Eu estava num pranto. Na hora H valeu-me a santa e infinita paciência da equipa do berçário do meu filho que nos ajudaram na adaptação, que é como quem diz que me deixaram enfiar durante uma semana na creche a verificar se o miúdo estava fino.
Não sou eu que sou um ser estranho e intrometido, é mesmo política do colégio deixar os bebés ambientarem-se à escola com os pais por perto. O facto de me ter inserido, durante uma semana, na rotina do berçário permitiu-me ganhar confiança nas cuidadoras e transmitir ao meu filho essa confiança.
Enche-me o coração ver o Lourenço gargalhar para as educadoras quando as vê (quem meus filhos beija minha boca adoça!). Tudo tem fluido com imensa naturalidade, como, já eu topei, a própria maternidade flutua também.
Tenho conseguido ir buscar o Lourenço ao colégio relativamente cedo, por volta das três e meia da tarde, mesmo depois de ele acordar da sua sesta reparadora da beleza e das boas graças. E à quarta-feira a minha cria passa o dia inteirinhoooo comigo, sua progenitora, a namorar.
Bem vistas as coisas, apesar das saudades de mãe, não se deu um corte horrível e drástico como imaginei que se daria, em boa verdade não se deu corte nenhum, diria que nem eu nem o Lourenço perdemos coisa alguma.
Ganhámos rotinas favoráveis às nossas necessidades de mãe e filho, o Lourenço pode desfrutar de brincadeiras e actividades dirigidas à fase desenvolvimento em que está (de onde eu destaco as actividades com música, que é cá uma graça!) com toda a atenção que precisa durantes as horas que eu cá faço o que precisa de ser feito.
Passadas as cinco horas diárias que o Lourenço passa na escola, toda eu estou disponível para encher o meu filho de amor.
Acho que nisto de criar um pequeno infante para um bom desempenho não é preciso um mestrado em pedopsicologia, basta a boa e funcional intuição de mãe, que, diga-se de passagem, de muito me tem valido. O truque é dançar conforme toca a música.
Filipa Marques autora do blog O Meu Querido Diário