A alimentação praticada nos primeiros anos de vida da criança é fundamental para assegurar o normal desenvolvimento mental e físico infantil.
Os pais e restante família devem estar devidamente informados para que neste conturbado período de adaptação que todos vivem, a criança receba a quantidade e qualidade de alimento adequado para suprimir as suas necessidades energéticas e nutricionais.
Simultaneamente, impedir que o seu imaturo sistema imunitário seja exposto a evitáveis infeções microbiológicas já que, pela sua extrema vulnerabilidade, é considerado um consumidor de risco.
Aos 12 meses, o que pode comer o bebé?
Até cerca dos 3 anos de idade, a criança exige cuidados alimentares redobrados onde impere, sobretudo, o equilíbrio que contribua para o adequado desenvolvimento emocional e cognitivo que acompanha o seu acelerado desenvolvimento físico, e único em toda a sua vida.
E, se por um lado, e segundo a Organização Mundial de Saúde, até aos 6 meses, o leite materno deve ser considerando o alimento exclusivo que integra a dieta infantil, a partir daquela idade, a alimentação complementar deve ser gradualmente diversificada (em sabores, consistências e texturas).
Aos 12 meses, a criança deve estar pronta para se adaptar à rotina alimentar da família, assim os respetivos hábitos estejam integrados num estilo de vida saudável e equilibrado.
Importante chamar a atenção para que a alimentação complementar não induza erroneamente o desmame: o leite materno deve continuar a ser oferecido e considerado sempre um alimento de excelência na dieta do bebé.
Por volta do ano de idade, e com o devido apoio pediátrico, a criança já deverá estar apta a*:
- Beber com mais frequência água e infusões de ervas calmantes, sempre sem açúcar. Evitar sumos e nunca beber chás. Com o início da alimentação complementar, a criança tem necessidade de se hidratar mais devido à presença natural de sódio, em vários alimentos (ex. carne, peixe, ovos).
- Consumir leite de vaca e seus derivados (ex. iogurte, queijo). Recomenda-se, contudo, que seja realizado um período de adaptação a este alimento, após o desmame, recorrendo preliminarmente ao leite de vaca hidrolisado (modificado), presente em leites de fórmula e outros derivados à venda no mercado (ex. iogurtes, papas) para testar a intolerância à lactose e a alergia ao leite de vaca.
Ovo completo
O consumo de ovo completo (gema e clara) caso a criança não apresente histórico de alergias já que a clara tem carácter alergénico. Tratando-se de um alimento proteico evite complementar uma mesma refeição com carne ou peixe para não resultar em excesso alimentar que sobrecarrega o organismo.
Carne
O consumo de carne deve ser vigiado e reduzido, preferindo-se as carnes brancas e magras. A carne de porco, de carácter alergénico, não deve ser ainda oferecida. Cozinhar bem a carne, removendo toda a gordura visível, é fundamental.
Peixe
O peixe, pela sua riqueza em ácidos gordos essenciais e iodo, deve abundar na dieta infantil salvaguardando-se métodos de confeção com pouca gordura e da máxima qualidade.
Os peixes magros podem nesta idade ser complementados com as variedades mais ricas como o salmão, a sardinha e até mesmo os cefalópodes (polvo, lulinhas). Marisco é totalmente proibido pelo seu carácter alergénico e por vezes tóxico.
Cereais
As papas, e outras formas de cereais (ex. pão, arroz) devem ser parcialmente refinados e encarados como uma fonte de excelência, e necessária, de energia.
Cuidado com as doses e sobreposição com outros alimentos e evitar o mais possível, variedades muito ricas em açúcar ou mel e ainda demasiado ricas em açúcar.
Fruta
Grande parte das variedades de fruta já podem nesta idade ser oferecidos, salvaguardando-se os frutos vermelhos que poderão ser agressivos para a criança. Igualmente os frutos tropicais devem também ser oferecidos só depois dos 18 meses.
Hortofrutícolas
Os hortofrutícolas devem abundar na dieta infantil sendo que a sopa deve apresentar, nesta fase, um sabor individual e uma textura irregular para uma mais rápida adaptação e estímulo da mastigação.
A quantidade de sopa deve agora ser menor para dar lugar ao segundo prato e aos legumes crus (higienizados!) em salada e ao aumento do alimento no prato principal. Os legumes de cor verde escura, e as leguminosas, sendo de digestão mais difícil podem ser oferecidos regularmente mas em doses pequenas.
Sal
Considerar ainda que é desadequado a ingestão de sal dado que o sistema renal da criança ainda se encontra imaturo. Evite a adição de sal em todas as preparações culinárias já que o sódio está, naturalmente, presente em grande parte dos alimentos.
Hábitos alimentares saudáveis desde o primeiro dia
É importante não descurar que a qualidade da alimentação dos primeiros anos se repercutirá para sempre na vida de um indivíduo razão pela qual vale a pena encarar esta necessidade vital com respeito e bom senso, e com base numa gestão informada dos recursos alimentares existentes versus cultura alimentar da família.
A alimentação tem que ser encarada como uma medida profilática de evitar a doença, criando robustez metabólica, e não somente como um hábito de prazer que, descontrolado, pode levar a quadros clínicos de resolução comprometedora, do ponto de vista físico mas sobretudo emocional, e por vezes de carácter irreversível.
Por último, chamo a atenção aos Pais para a necessidade de prolongarem hábitos alimentares saudáveis para toda a vida da criança, promovendo o exemplo no seio familiar, e não apenas nos seus primeiros anos, onde a exigência é efetivamente mais crítica mas nem por isso possa ser descontinuada…Portanto, há que manter sempre ainda que com alguma flexibilidade!
As orientações fornecidas neste artigo não substituem de forma alguma o diagnóstico ou as indicações que lhe tenham sido dadas pelo seu médico de família ou especialista que acompanha a criança que tem a seu cargo. As recomendações deste profissional, e únicas para cada criança, deverão prevalecer sobre quaisquer outras.
*Feeding and Nutrition of Infants and Young children, Organização Mundial de Saúde, 2003.