Na educação das crianças é transversal ao género a importância do estabelecimento claro de regras e de limites, assim como, é essencial assegurar o seu cumprimento ao longo do tempo.
É importante compreender que não é apenas através do “sim” que os pais conseguem demonstrar o amor pelos seus filhos. Para conquistá-los a longo prazo (principalmente enquanto adultos), é necessário ter a coragem de dizer que “não” (sugestão de leitura: Como lidar com as birras?).
Dizer “não” é um acto de amor, é querer saber o suficiente… E embora, na altura, as crianças possam refilar, mais tarde percebem que ter alguém que se dá ao trabalho de lhes dizer que não é ter alguém que se interessa e que as ama verdadeiramente.
O estabelecimento destas regras e limites (ou as suas tentativas), que no fundo, é a concretização de um estilo parental, é desde muito cedo captado pelas crianças, independentemente do seu género.
A forma como este é implementado, isso sim, poderá variar consoante o género da criança.
As diferenças entre criar rapazes e raparigas são bastante reais, como tal, torna-se essencial educá-los de formas diferentes.
Desde muito cedo que rapazes e raparigas valorizam de diferentes formas o que os rodeiam: as raparigas parecem tender a valorizar mais as relações; já os rapazes surgem mais interessados a tudo o que se ligue à acção.
Apesar de as diferenças entre rapazes e raparigas não se aplicarem a todos, quando aqui se descrevem estas diferenças, são baseadas nos comportamentos da maioria.
Vários estudos indicam que as raparigas adquirem aptidões verbais muito mais cedo do que os rapazes, razão pela qual não é de surpreender que o estilo parental baseado na comunicação seja mais adequado com raparigas.
No extremo oposto, encontram-se os rapazes. Estes respeitam mais os actos do que as palavras, pelo que se deve mostrar-lhe as coisas por via da acção e não tanto pela explicação. O que quero dizer com isto? Por exemplo, na minha prática clínica tenho observado como as raparigas muitas vezes verbalizam o sentimento de tristeza e como os rapazes vão fazê-lo através de jogos de “faz de conta”.
Quando tentamos motivar os rapazes, explicando um conceito abstracto eles rapidamente perdem o interesse. Mas se o fizermos com recurso a um quadro de parede (com desenhos ou diagramas), se lhes atribuímos autocolantes (em vez de explicar, simplesmente dizer: “ok, assim não te dou um autocolante; ok, assim ganhas um autocolante”), utilizando estratégias que recorrem a meios concretos, em oposição a algo abstracto e verbal, pode fazer uma grande diferença no que respeita o manter a atenção e fazer com que seja cumprido o que é pedido.
Estas estratégias podem não ser muito interessantes para os adultos que dão mais valor a estratégias de comunicação (razão pela qual muitas vezes deixam de ser utilizadas), mas são realmente muito atractivas para as crianças, principalmente para os rapazes.
Com as raparigas o funcionamento é diferente. Por exemplo, quando os pais se zangam, elas podem tentar utilizar as suas capacidades verbais, argumentando com os seus méritos, culpando os outros irmãos ou amigos pelos seus erros. Mas no fim, se os pais mantiverem a sua posição, elas vão cooperar, pois manter as relações é muito importantes para elas.
Os homens, no geral, utilizam uma abordagem muito mais orientada para a acção, razão pela qual poderão conseguir melhores resultados de obediência com os seus filhos.
Já as mulheres intuitivamente utilizam uma abordagem muito mais ligada à comunicação, o que resulta francamente melhor com as raparigas.
Alertam-se, assim, os pais para o facto de muitas vezes tenderem a guiar-se somente pelo estilo parental que mais se adequa à sua maneira de ser.
Se o objectivo é fazer cumprir um tipo de educação, sejam rapazes ou raparigas, temos de nos adaptar ao que estes consideram mais importante e ao que funciona melhor para cada um, tendo em conta não só as suas subjectividades, mas também o seu género.
*Este artigo não se encontra redigido ao abrigo do acordo ortográfico.