Na verdade, o que se pretende é encontrar o equilíbrio e, sobretudo, não entrar em exageros.
Questionamo-nos, em vários momentos, quanto será demais ou quanto é muito pouco.
Importa compreender que a qualidade se sobrepõem à quantidade quando falamos do desenvolvimento da autoestima das crianças.
A magia do elogio: excessivo ou adequado
Sim, mas afinal qual é a medida certa?
Atualmente encontramos pais que elogiam os filhos em qualquer momento, situação ou lugar. Consideram que desta forma estarão a construir-lhes uma boa autoestima e, na verdade, o que poderá estar a acontecer é precisamente o oposto.
O elogio repetido tem um efeito contrário na medida em que é percebido pela criança como pouco verdadeiro ou mesmo forçado e até não merecido.
Quando se elogia uma criança é necessário ser autêntico e encontrar algo particular, específico que tenha realizado adequadamente ou com sucesso. É importante reforçar o que fez que permitiu atingir o resultado desejado (reforço positivo) e que a criança se dê conta das suas capacidades.
O elogio excessivo ou repetitivo tem consequências negativas, uma vez que a criança sente que no que quer que realize, deverá ter sempre aprovação / validação dos pais. A criança começa a sentir medo de experienciar algo novo com receio de não conseguir e dececionar os pais e as suas expetativas.
Este comportamento compromete a capacidade de iniciativa, independência e a sua autonomia.
Elogio, autoestima, autoconfiança e motivação
Não raras vezes as famílias questionam-se sobre o que poderá estar na origem dos problemas comportamentais e, sobretudo, no que não está a resultar.
Durante muitos e muitos anos o elogio foi considerado desnecessário ou até mesmo prejudicial.
Em consultório, verifico que, os pais insistem repetidamente na crítica do que consideram não adequado ou então fazem apreciações ou comentários como:
- “És uma boa menina porque arrumaste todos os teus brinquedos”;
- “És um mau menino porque não fizeste os trabalhos de casa”;
- “És uma má menina porque não comeste tudo”.
As crianças perante estes comentários sentem-se e assumem-se como más ou boas apenas porque fizeram ou não, ou terminaram ou não algo pedido.
Para além dos pais, outras pessoas (familiares, amigos e professores) que convivem e interagem com a criança devem usar o elogio e o incentivo (motivação).
As crianças vão crescendo e percebendo o prazer e orgulho que sentem quando realizam algo que consideram que está bem conseguido.
A autoestima, autoconfiança e motivação desenvolve-se através da perceção dos seus sucessos e também, com os outros, quando as incentivam e motivam.
Não existe qualquer dúvida de que elogiar tem benefícios no bem-estar das crianças e em toda a dinâmica relacional da família, com repercussões positivas, inclusivamente, na escola.
Numa família e escola em que existe espaço para elogiar e ser elogiado, todos se sentem valorizados, admirados, acarinhados e amados.
Uma criança que não recebe elogios pelo que vai conquistando, mais tarde, em adulto não valorizará os seus próprios sucessos.
A investigação mostra-nos que o elogio terá mais impacto se for direcionado ao esforço e processo e não tanto aos resultados.
Não elogiar. Consequências
Do lado oposto, está não elogiar simplesmente, que tem um efeito nocivo, às vezes até devastador e acarreta sentimentos de inferioridade relativamente aos outros.
Na verdade, o elogio é essencial. A criança gosta de saber que a valorizamos, no entanto, apenas resulta eficazmente se o elogio for natural, espontâneo, sincero, verdadeiro, franco, autentico e que se foque no esforço da criança e não no resultado do que realizou.
Do meu ponto de vista, o elogio é uma espécie de recompensa agradável e desejável e, sim, os pais devem ser generosos no seu uso.
Claro está, que não o devem fazer em qualquer circunstância. Na realidade, é necessário encontrar um parâmetro de julgamento, minimamente, coerente. Quando os pais hipervalorizam a criança, e de forma sistemática, mais tarde terá dificuldades em compreender porquê que na escola também não acontece, e a sua autoestima e autoconfiança fragilizará.
Encontrar o equilíbrio é essencial e será sempre a melhor solução.
Elogios exagerados e adequados
Elogios exagerados
- “És incrivelmente bom nisto“.
- “És perfeito”.
- “És o melhor da turma”.
- “És o melhor em matemática”.
- “És o melhor jogador”.
Elogio adequado
- “És bom nisto”.
- “És bom aluno”.
- “Gosto das cores que usas nos teus desenhos”.
- “Gosto do teu esforço e desempenho quando jogas futebol”.
- “Mostraste persistência no estudo para o teste de inglês. Estás de parabéns!”
Elogio em crianças com autoestima e baixa autoestima
Importante referir que encontramos crianças com boa autoestima e com baixa autoestima, de modo que os efeitos dos elogios serão necessariamente diferentes.
As crianças que revelam autoestima elevada não se preocupam com o fracasso e procuram, isso sim, oportunidades para mostrar o seu valor e capacidades. Para elas o elogio funciona como um incentivo para demonstrar como são capazes de dar resposta a situações complexas (escolares, sociais ou pessoais).
Por outro lado, crianças com baixa autoestima preocupam-se com o fracasso e procuram evitar, sempre que possível, situações que poderão eventualmente revelar ou expor as suas dificuldades.
Encontramos crianças que apresentam maiores dificuldades que outras no desempenho escolar, no desporto, e outras atividades, no entanto, alguns professores e pais insistem que todas as crianças deveriam obter os mesmos resultados, e não compreendem que não progridam da mesma forma e ao mesmo ritmo.
Estas críticas têm consequências negativas no desenvolvimento, sobretudo pela forma como lhes são dirigidas.
É fundamental perceber que as crianças aprendem muito mais facilmente através de elogios do que com criticas negativas.
Na minha prática clínica, verifico que muitos pais focam as suas estratégias educacionais no que a criança não deve fazer e esquecem-se de mostrar e dizer, diretamente e objetivamente, à criança o que querem que faça e de elogiar quando o realiza bem.
Não esquecer que focar nos comportamentos indesejados contribui para a manutenção dos mesmos, porque as crianças entendem que assim terão mais atenção. A atenção positiva ou negativa continua a ser atenção.
Recompensa material? Sim ou não?
Não.
Os pais prometem várias atividades ou presentes quando os filhos têm um bom resultado escolar “Se tiveres Muito Bom a matemática, ofereço-te o jogo que pediste para o computador”.
Cria-se uma ligação direta à motivação pela recompensa material e esquece-se de valorizar o sentimento positivo associado aos bons resultados. No entanto, é minha opinião, que perante o esforço e um bom desempenho, é relevante presenteá-la com um passeio interessante ou um espetáculo que goste, etc. Celebrar o que conquistou é importante.
Importa deixar claro que, as crianças sentem-se amadas, adequadas e competentes, quando as práticas educativas parentais têm uma abordagem positiva.