Medos e fobias nas crianças
O que é o medo?
É fundamental salientar que existe, de facto, diferença significativa entre medo e fobia, ainda que muitas vezes sejam confundidos.
O medo é uma reação que surge, quando nos encontramos em situações que consideramos perigosas. É uma emoção comum a todo ser humano em determinados momentos da sua vida.
Aproximadamente 50% das crianças sentem algum medo, e é mais evidente nas meninas do que nos meninos. Os meninos também os têm, no entanto, como são mais reservados na forma como se expressam, os medos nem sempre são observados pelos pais ou outros elementos significativos na vida da criança.
O medo é uma emoção saudável, na medida em que aumenta a nossa capacidade de sobrevivência. Se o medo não existisse, seria difícil manter a espécie humana, facilmente estaríamos próximos de situações que colocariam a nossa vida em risco.
O medo tem uma função protetora e adaptativa, na medida em que permite que as crianças reajam a estranhos, não se afastem dos pais em locais desconhecidos, não se aproximem de certos animais considerados perigosos, evitem entrar em locais escuros ou procurem os adultos para se protegerem.
Nesta fase, os pais têm um papel determinante, uma vez que podem e devem ajudar as crianças a enfrentar os seus medos, procurando aumentar de forma efetiva a sua confiança, assim como evitar que os medos evoluam para reações fóbicas.
O que é a fobia?
Geralmente o medo é passageiro e próprio da idade e vai desaparecendo, mas quando o medo se torna exagerado, excessivamente intenso, persistente e desproporcionado, resulta necessariamente em sofrimento para a criança.
E neste caso, estamos perante um quadro fóbico, em que a criança tem um medo persistente e irracional que a leva a evitar e também a suportar com enorme sofrimento determinadas situações, lugares, pessoas, animais e objetos que considera assustadores.
A fobia define-se como um medo patológico, especifico, intenso e desencadeado por uma situação que normalmente não apresentaria qualquer perigo.
Caracteriza-se por um aumento de ansiedade a limites que impedem a criança de funcionar “normalmente”, causando um mal-estar enorme.
Existem inúmeras fobias nas crianças, em diferentes idades, que tornam as suas rotinas diárias bastante complexas.
As crianças inseguras e com pouca autoestima desenvolvem mais frequentemente fobias.
Sintomas
Os medos irracionais e desproporcionados da fobia são muitas vezes acompanhados de sintomas físicos, nomeadamente, dificuldade em respirar, palpitações, suores, vómitos, diarreias e dores de estômago, e também de sintomas cognitivos, como, preocupações excessivas e dificuldades de atenção e concentração.
As alterações de humor, especialmente, comportamentos de irritabilidade, também, se verificam. Revelam, igualmente, variações no sono e pesadelos.
Frases ou expressões proibidas
Proibido usar:
- “Claro que não existem monstros no armário”; “Que medo ridículo”; “Não tens vergonha?” “És sempre o mesmo”; “Que medroso”.
- “Se não te portas bem vai aparecer um monstro”; ” Se não fizeres os trabalhos de casa vais para um quarto às escuras”; “Se não comeres, vem uma bruxa e leva-te”; “Se não te vestires, chamo o homem mau”, etc.
- “O teu irmão não tem medo, porquê que tu tens?”, ” A tua prima Joana não tem medos”, “És a única na família que tem medos”.
Não esquecer:
- Grande parte dos medos desenvolvem-se em casa. Este não é um bom modelo de educação. Não é assim que se impõem limites.
Atitude negativa dos pais
- Não deve comparar a criança com outras crianças que não têm medo e, também, falar à frente de outras pessoas próximas ou não, sobre os medos da criança e como a situação o preocupa.
- Não subestime, nem desrespeite os medos da criança. Nunca a ridicularize sozinha ou em frente a terceiros.
- Não obrigue a criança a enfrentar de forma desagradável e brusca os seus medos.
- Não lhe lembre os medos que tem, atribuindo-lhes demasiada importância.
Atitude positiva dos pais
Importa por parte dos pais, desdramatizar a situação, mas tendo sempre em atenção que o medo que a criança sente a assusta verdadeiramente.
Os medos na infância acontecem com alguma frequência, variam de criança para criança, e estão relacionados com as suas características individuais e os contextos. Enquanto, que um estímulo pode ser ameaçador para uma criança, noutra, não tem qualquer impacto.
Claro que, as aprendizagens que a criança vai fazendo estão associadas a algum medo. Quando conhece uma nova escola, novas pessoas, se aproxima de uma animal que não conhece, entre outras, ou seja, perante situações desconhecidas, a criança pode sentir medo.
Os pais devem estar atentos aos sinais que a criança emite, e ajudá-la a desenvolver a confiança para enfrentar os seus medos com serenidade, e a acreditar que os pode dominar, antes que evoluam para reações fóbicas.
É essencial, também, que os pais aprendam a relacionar-se de forma descontraída com os medos dos filhos.
Pais e a autonomia das crianças
Todos conhecemos pais que não permitem que as crianças desenvolvam a sua autonomia, e que de dois em dois minutos, indicam o que podem ou não fazer, e “Cuidado” é a palavra de ordem. Com esta atitude, por parte dos pais, as crianças aprendem que o mundo é hostil, inseguro e ameaçador, o que impedirá a criança de sentir prazer na exploração do meio que a envolve, e ainda, entenderá que não é capaz de lidar com o que a rodeia.
Assim, a autonomia, independência, autoestima e confiança da criança não é desenvolvida, muito pelo contrário, promovem sim, o medo da exploração e um baixo auto conceito.
Quando as crianças sentem medo de algo, geralmente, gritam ou choram. Se, eventualmente, a criança manifestar medo, nomeadamente, de um trovão, os pais podem e devem serena-la e ajuda-la a enfrentar o medo, mostrando-se tranquilos. A criança percebe que não está em perigo e acalma.
Evidente que, quando estamos perante situações efetivamente perigosas, importa ensiná-las a serem cautelosas, no entanto, evitar sempre a superproteção.
Educadores de infância e professores
Os educadores de infância e professores tem um papel bastante importante na identificação das fobias, uma vez que em casa as crianças nem sempre as revelam, ou melhor, nem sempre com a mesma frequência.
Os educadores, professores e pais em conjunto, encontram mais facilmente sinais, sintomas e comportamentos que indiciam algum problema, aumentando a probabilidade de procurarem com mais brevidade um especialista para Avaliação Psicológica.
Quando procurar um Psicólogo?
Se estivermos perante um episódio isolado, os pais, educadores e professores não devem torná-lo mais significativo do que na realidade é, no entanto, se passar a existir um padrão que é persistente e muito intenso, necessitam de procurar apoio psicológico especializado.
Se a criança não beneficiar de Intervenção Psicológica, a fobia continuará a afeta-la com consequências graves no seu processo de desenvolvimento, nomeadamente, na autonomia, independência, rendimento escolar e socialização.