Cerca de 20-30% lactentes e crianças pequenas apresentam perturbações do sono, causadas por: problemas perinatais, temperamento, amamentação, alimentação durante a noite,”co-sleeping” (dormir acompanhado), stress familiar, modos de adormecer, resistência ao sono.
O acordar de noite só deve ser considerado um problema se os pais o considerarem. Contudo, a privação prolongada de sono nos pais tem consequências precoces e é muitas vezes a sensação de ?atingimento do limite? que os leva a procurar ajuda.
O esgotamento, a indisponibilidade, a violência familiar, e a sensação de impotência e fracasso como pais são o culminar de uma situação na qual uma intervenção precoce é possível e desejável.
1. Terrores noturnos
Ao contrário do pesadelo, os terrores noturnos ocorrem no início da noite, 1 a 4 horas (média 1,5 horas) depois de a criança ter adormecido. Os pais encontram o filho sentado na cama gritando, gesticulando, mas não totalmente acordado. Com palpitação, olhos bem abertos. Pode estar a falar, mas não responde ao que é perguntado.
Durante o episódio a criança não tem consciência da presença dos pais. Pode empurra-los e soluçar mais forte, se for tocada. Fica inconsolável, às vezes até 30 minutos. Finalmente, relaxa e volta a dormir. No dia seguinte não se lembra do acontecido.
Episódios de terrores noturnos são comuns dos 2 aos 6 anos de idade. E uma condição quase sempre herdada, pelo que existem antecedentes de terrores noturnos noutros familiares. Não produzem maiores danos e desaparecem com o crescimento.
Os pais não devem procurar consolar a criança durante o episódio. Ela está só parcialmente acordada.
É suficiente fazer companhia, até que ela volte a dormir em segurança. Em alguns casos, a criança pode ser acordada cerca de 15 minutos antes da hora previsível de ocorrência dos terrores durante uma semana.
2. Pesadelos
Como ocorre com os adultos, as crianças também têm sonhos assustadores que as fazem acordar amedrontadas. Embora não se saiba a razão, considera-se que os pesadelos surgem na medida em que afloram medos e ocorrem conflitos internos na criança, acontecimentos naturais no processo de desenvolvimento.
Situações da vida real, tais como filmes de terror ou cenas de violência mostradas pela televisão também podem desencadear pesadelos.
Os pesadelos acontecem com frequência na segunda metade da noite (sono REM), quando os sonhos são mais intensos e em idade pré-escolar.
Acordada por pesadelo, a criança assustada precisa de contacto físico, de apoio e de carinho. É possível que seja capaz de relatar o que ocorreu no pesadelo, permitindo aos pais mostrarem ter sido unicamente um sonho.
É aconselhável permanecer junto a criança algum tempo, até que ela se acalme e volte a dormir.
No dia seguinte, procure verificar se há alguma coisa a perturbar seu filho. Os pesadelos são mais comuns em crianças que passam por situações de stress.
Quando frequentes, os pesadelos podem ter implicações na qualidade do sono e no desempenho diário pelo que deve procurar ajuda no Pediatra.
3. Sonambulismo
Ao contrário do que se imagina, o sonambulismo (caminhar dormindo) é comum. Cerca de 30% de todas as crianças na faixa dos 5 aos 12 anos tem pelo menos um episódio e em 6% delas o sonambulismo é persistente. E Mais comum em meninos do que em meninas é muitas vezes herdado de um dos pais.
O quadro típico ocorre cerca de 2 horas após a criança começar a dormir. Ela acorda e senta-se abruptamente na cama. Olhos bem abertos, olhar vítreo e fixo. Mesmo encarando os pais, não demonstra reconhece-los. Responderá a perguntas com murmúrios. Pode realizar atos mecanicamente, vestir-se, despir-se, abrir ou fechar portas, acender ou apagar luzes e, quando caminha, consegue evitar quase todos os objetos do percurso.
Normalmente o episódio dura de 5 a 15 minutos e pode ocorrer mais de uma vez na mesma noite. Não se consegue despertar o sonâmbulo e ele não lembrará do ocorrido no dia seguinte.
A maioria das crianças com o problema irá superá-lo na adolescência. É importante que os pais assegurem aos filhos que se trata de uma ocorrência normal e mantenham-se vigilantes em relação à segurança. Em lugar de tentar acordar criança, o melhor a fazer é reencaminhá-la para a sua cama.
Última atualização em 31-03-2020
Artigo publicado no Mãe-Me-Quer com autorização do autor, Dr. Armando Fernandes, Pediatria do Desenvolvimento. Centro Pediátrico de Telheiras