A importância da música no desenvolvimento da linguagem
Cantar músicas infantis ao bebé prepara o seu cérebro para o desenvolvimento da linguagem, contribuindo ainda para a prevenção de problemas de linguagem no futuro, afirma Sally Goddard Blythe, diretora do Institute for Neuro-Physiological Psychology.
O bebé nasce com a capacidade de distinguir a voz humana
Logo ao nascimento, o bebé já é capaz de distinguir a voz humana de outros sons, mostrando preferência por vozes familiares, nomeadamente a da mãe.
Passado pouco tempo, o bebé começa a ser capaz de distinguir vozes associadas a determinados estados emocionais, distinguindo uma voz que traduz ternura, de uma voz que expressa zanga.
De referir ainda que o bebé reage preferencialmente a sons caracterizados por variações de intensidade (sons altos/baixos), frequência (sons graves/agudos) e duração (sons curtos/longos) (Sim-Sim, 1998).
Estas características sonoras possibilitam, por exemplo, atribuir um significado diferente a um mesmo enunciado apenas pela variação da entoação da voz de quem o diz: “A Maria está no carro” (é uma afirmação) e “A Maria? Está no carro?” (traduz uma pergunta).
A melodia da voz e as emoções
A melodia que empregamos na voz permite também traduzir as nossas emoções e o bebé também está sensível a esse facto. Aliás, quando o bebé está triste ou aborrecido, cantar uma melodia num tom de voz mais suave e baixo poderá ajudá-lo a regular-se e a ficar mais tranquilo.
Cantar melodias desenvolve a capacidade de comunicação e acalma o bebé
A perceção dos sons da fala que o bebé demonstra é o primeiro passo na compreensão da linguagem oral (Sim-Sim, 1998).
Portanto, se associarmos a preferência do bebé às variações dos sons, à sua capacidade e interesse para reagir a sons de fala, a música alia o melhor destes dois “mundos”, tornando-se assim uma estratégia indispensável ao desenvolvimento da comunicação e da linguagem compreensiva e expressiva logo no primeiro ano de vida da criança.
Sally Goddard Blythe acrescenta ainda que cantar melodias ao bebé, mesmo antes de este ser capaz de falar, contribui para o bem-estar emocional e o sucesso educacional futuro, pela estimulação cerebral que está a ser proporcionada ao bebé.
Como posso cantar com e para o meu bebé?
- Cantar de frente para o bebé, para que este consiga ver as expressões faciais e gestos que o adulto realiza;
- Cantar num local sem ruídos de fundo, nomeadamente de rádio ou TV;
- Começar por cantar músicas com poucas palavras, cujas melodias e palavras sejam repetidas para que sejam previsíveis para o bebé;
- Ao longo do desenvolvimento da criança, é possível utilizar músicas mais longas e com mais palavras;
- Enquanto se canta uma determinada música, utilizar variações na voz que sejam consistentes. Isto significa que, se exageramos uma determinada palavra numa canção, devemos fazê-lo também da próxima vez que a cantarmos;
- Utilizar um contacto visual apelativo e expressões faciais exageradas consistentes enquanto se canta;
- Associar gestos às melodias que também devem ser usados de forma consistente;
- A consistência das estratégias é importante para o bebé aprender as canções e participar. Gradualmente, as variações na voz, expressões faciais, gestos e palavras vão tornar-se previsíveis numa mesma música, o que permite ao bebé começar a imitar e a produzir um determinado som e/ou realizar um determinado gesto durante a canção;
- Mais tarde, quando a criança estiver muito familiarizada com determinadas músicas, pode-se utilizar o nome da criança ou dos familiares, tal como acontece na canção “A galinha põe o ovo e o/a _________ (nome da criança) come-o todo”;
- Associar uma determinada música a uma rotina ou momento de dia também é importante para o bebé, ajudando-o a antecipar e a compreender o que está ou vai acontecer.
Gradualmente, poderá inventar novas melodias para e com a criança. Tenho a certeza que será um momento muito divertido para ambos!
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Referências: https://www.theguardian.com/lifeandstyle/2011/may/08/singing-children-development-language-skills; Sim-Sim, I. (1998). Desenvolvimento da linguagem. Lisboa: Universidade Aberta.