Como pensam os bebés? Como é ser um bebé? A que ponto as nossas experiências como crianças moldam as nossas vidas adultas?
Jean Piaget, conhecido e reputado teórico do desenvolvimento infantil julgou os bebés e as crianças muito novas como seres irracionais, individualistas, ilógicos e amorais, incapazes de perceber a perspetiva de outros ou de perceberem a causa-efeito.
Mas, através de novas técnicas científicas foi possível perceber que, mesmo as crianças mais novas têm um grande conhecimento acerca de objetos, pessoas e linguagem, são capazes de aprender muito mais.
Descobriu-se, até, que têm implícito métodos de aprendizagem tão poderosos e inteligentes como os mais destacados cientistas.
Na última década, deu-se uma revolução na nossa compreensão sobre as mentes dos bebés e das crianças. A recente pesquisa científica e psicológica revelou que os bebés aprendem mais, criam mais, preocupam-se mais e experimentam mais do que alguma vez imaginamos.
Alison Gopnik, professora de Psicologia e de Filosofia na Universidade da California, em Berkeley, explica no seu livro “O Bebé Filósofo – O que as mentes das crianças nos dizem sobre a verdade, o amor e o sentido da vida” que os inovadores desenvolvimentos psicológicos, neuro científicos e filosóficos transformaram a nossa compreensão de como os bebés vêem o mundo e, por sua vez, proporcionando uma apreciação mais profunda do papel dos pais.
Numa palestra TED Talk, Alison Gopnik explicou que as crianças “Experienciam a vida de uma forma muito mais intensa do que nós”.
Um dos maiores problemas para os adultos é tentarem perceber o que é que as outras pessoas querem, pensam e sentem. “E é algo especialmente difícil quando o que os outros querem não coincide com o que queremos”, afirma Alison Gopnik.
Tradicionalmente, os psicólogos consideram que as crianças até aos oito anos não conseguem perceber a perspetiva das outras pessoas.
Contudo, estudos recentes referem que, as crianças de 18 meses já são capazes de perceber e agir em conformidade com o que acham ser a perspetiva dos outros.
A experiência de Alison Gopnik
Durante a sua palestra, Alison Gopnik partilhou a experiência que, juntamente com uma das suas alunas, fez com crianças de 15 e de 18 meses.
Distribuíram duas taças às crianças, uma cheia de brócolos, a outra cheia de bolachas. Todas preferiram as bolachas aos brócolos.
Depois, e com as crianças a verem, a estudante que participou no estudo, provou a comida de cada uma das taças, fazendo no final uma cara de agrado ou de desagrado no final de cada uma das provas.
As taças foram devolvidas às crianças, às quais a estudante estendeu a mão pedindo: “Podes dar-me um bocadinho?”. Os bebés de ano e meio, que mal conseguem andar ou falar, deram-lhe bolachas, no caso em que antes demonstrou gostar mais dos doces, e brócolos, quando mostrou preferir o legume.
“Estas crianças muito pequenas tiveram um profundo conhecimento que outra pessoa – neste caso a estudante – podia ter uma perspetiva diferente do mundo, ou pelo menos, dos brócolos, e ajudaram-na a obter o que ela queria”, constata a investigadora.
Os bebés de 15 meses apenas entregaram as bolachas. “E isto revela algo ainda mais notável, é que os bebés aprendem de alguma forma, entre os 15 e os 18 meses, este factos tão profundos da natureza humana”, acrescentou Alison Gopnik, que atribuiu essas aquisições “a análises estatísticas e à experimentação a que chamamos brincar”.
A investigadora conclui “É surpreendente como, ao estudarmos bebés e crianças pequenas, podemos encontrar respostas para estas grandes questões. Do ponto de vista evolucionário, parece que a nossa excecionalmente longa infância pode desempenhar um papel crucial em muitas das habilidades que nos distinguem enquanto humanos”.
Palestra de Alison Gopnik na TEDTalks “Babies and young children are like the R&D division of the human species“.
Bibliografia consultada:
- “O Bebé Filósofo – O que as mentes das crianças nos dizem sobre a verdade, o amor e o sentido da vida” de Alison Gopnik. Editor: Temas e Debates, edição ou reimpressão: 2010
- TEDTalks “Babies and young children are like the R&D division of the human species” Alison Gopnik.