Não, não é uma gralha. O QE, ou quociente emocional, é algo muito diferente do QI, o conhecido quociente de inteligência. O QE exprime o índice de inteligência emocional e é uma ferramenta fulcral para que o seu filho tenha sucesso na vida.
Quantas vezes não dá consigo a rolar os olhos, ao ouvir um pai ou uma avó a descrever os infinitos atributos da sua criança? Como ela é boa em tudo, aliás, provavelmente um caso de super-inteligência?!
Nas últimas décadas tem sido dada uma enorme ênfase ao QI das crianças. Com a generalização da alfabetização, muitos pais procuram que os seus filhos sejam os melhores em tudo. Quantas crianças conhece com o seu tempo totalmente preenchido com um sem número de atividades?
Será isto suficiente para dotar o seu filho de ferramentas para o sucesso?
David Goleman e a “Inteligência Emocional”
Na verdade, muitos pais poderão estar a apostar demasiado no desenvolvimento académico. É que, ao que parece, o QI apenas perfaz até 20% dos fatores que determinam o sucesso na vida. Quem o defendeu foi Daniel Goleman, um dos primeiros mentores do QE.
Segundo o autor da obra “Inteligência Emocional”, o sucesso na vida é determinado pelo QE, nível académico da família, temperamento, fortuna e pura sorte. O QI será, então, um dos fatores que contribuem para esse sucesso, e não o fator diferencial. Por outras palavras, as aptidões cognitivas como a memória e a compreensão verbal e escrita, irão ajudar academicamente, mas não são por si uma garantia de sucesso.
Em que consiste a inteligência emocional?
Para a criança ter sucesso mais tarde na vida, precisa de trabalhar o seu QI com aptidões socio-emocionais. Segundo Goleman, precisamos da inteligência emocional para aplicar o nosso QI. Estas aptidões incluem, entre outras:
- Perceber as suas próprias emoções
- Saber expressar as suas emoções
- Sentir empatia para com os outros
- Possuir motivação intrínseca
- Criar bons laços sociais
- Saber acalmar-se
- Saber lidar com os problemas
Uma criança com inteligência emocional tem a capacidade de sentir empatia para com os sentimentos dos outros. Isto é, em parte porque esta criança sabe identificar e expressar as suas próprias emoções. Esta criança tem ainda a capacidade de regular e controlar as suas reações às emoções que experiencia. Por exemplo, face à frustração, uma criança com um elevado QE irá pensar em formas de a ultrapassar, em vez de dar um pontapé nos brinquedos.
Possuir inteligência emocional permite gerir situações sociais porque a criança tem a capacidade de se rever e sentir empatia para com as outras.
O jovem com inteligência emocional
Anos mais tarde, a criança com um QE elevado irá ter maior tendência para possuir motivação intrínseca e autorregulação. O QE elevado irá ajudá-la na tomada de decisões, a alcançar objetivos e lidar com situações mais difíceis. Perante a adversidade, a criança ou jovem irá levantar os braços e tentar resolver os seus problemas. Na escola ou universidade irá provavelmente ter tempo para estudar, ter uma vida social e até trabalhar algumas horas semanalmente para ir de férias.
O QE elevado pode proteger do “bullying”
O problema do “bullying” é infelizmente uma realidade bem presente no quotidiano de muitas crianças e jovens. E aqui entra a questão da empatia, de sermos capazes de nos pormos na pele do outro.
Uma criança que possui um QE elevado consegue colocar-se no lugar das que a rodeiam. Por isso, provavelmente irá conseguir adivinhar o que sentiria um colega se o tratasse de forma abusiva. Sendo assim, mais improvável será de perpetrar “bullying” nos pares.
Vantagens de um QE elevado, demonstradas pela ciência
Após a publicação da “Inteligência Emocional” de Goleman, em 1995, vários têm sido os estudos científicos a demonstrarem as vantagens de se desenvolver a inteligência emocional nas crianças. A saber:
- Maior sucesso académico
- Maior sucesso nos relacionamentos
- Escolhas mais saudáveis (por exemplo, menor propensão a fumar)
- Maior sucesso na carreira
- Maior qualidade de vida
Como se mede o QE?
É simples. O QI mede o vocabulário, compreensão verbal, capacidade de raciocínio e outros, pois avalia as capacidades cognitivas. Devido ao facto de o QE avaliar a inteligência emocional, aqui são testadas a literacia emocional, a motivação intrínseca, a empatia e a forma como se lida com as emoções. Existem vários testes para medir o QE.
É possível desenvolver o QE?
Sim, é possível. Contudo, são necessárias algumas técnicas e prática para que a criança possa realmente desenvolver as suas aptidões neste campo.
O desenvolvimento da inteligência emocional deve começar em casa, desde muito cedo. Os pais devem procurar ajudar as crianças a:
- perceberem as suas próprias emoções
- expressarem verbalmente as emoções em vez de agirem,
- usando situações de comunicação agressiva da criança para a ensinar a perceber e expressar as emoções e
- usando situações de brincadeira para ajudá-las a relacionarem-se com outras crianças
Mas não se esqueça: procure sempre valorizar as expressões de emoções no seu filho, orientando-o no sentido de as gerir.