Poderá ter ficado curioso relativamente ao título deste artigo. 2 tipos de birras? Como é possível? As birras não são todas uma e a mesma coisa?
Não. Segundo o neuropsiquiatra Daniel Siegel e a especialista de parentalidade Tina Payne Bryson, autores de vários livros pioneiros sobre o desenvolvimento infantil, existem dois tipos de birras.
Estes dois tipos distintos de birras têm duas bases: um tipo é como uma reação ao cansaço ou emoções extremas; o outro tipo, aquele que nós costumamos entender como birra em si, tem o objetivo de a criança manipular para conseguir os seus objetivos.
Mas antes de mais…porque é que as crianças fazem birras?
Segundo Daniel Siegel e Tina Payne Brison, as crianças fazem birras devido ao facto de o cérebro estar em desenvolvimento.
O cérebro das crianças e adolescentes é diferente do dos adulto pois há partes em processo de desenvolvimento e amadurecimento.
Isso explicará o facto de se comportarem dessa forma, consideram os especialistas.
2 tipos de birras no “andar de cima” e no “andar de baixo”
A distinção estre estes dois tipos de birras, reflete-se ainda ao nível da parte do cérebro que as origina. Distinguem-se, pois, duas partes no cérebro da criança. Os autores chamam a estas partes do cérebro “o andar de cima” e o “andar de baixo”.
Imaginemos uma casa em construção. Primeiro construímos o andar de baixo e só depois o andar de cima. Apesar de essa casa ser um todo, ambos os andares têm finalidades totalmente diferentes.
Agora vamos ver como isto de aplica ao cérebro e às birras. É que saber em qual das 2 partes do cérebro originou a birra, vai permitir-lhe entender a causa da birra e ajudá-lo s reagir (ou não) de forma acertada.
As birras do “andar de baixo” do cérebro
O “andar de baixo” do cérebro é o primeiro a ser desenvolvido, sendo responsável pelas emoções e tomadas de decisão. Desde que o nascimento, esta parte do cérebro ajuda a controlar as funções e emoções mais básicas. Exemplos disto são a raiva, tristeza, decisão de reagir ou fugir (flight or fight).
Esta parte do cérebro é, pois, bastante influenciada pelas condições externas.
Um exemplo de uma birra originária no “andar de baixo” do cérebro
Vamos ver um exemplo para perceber melhor as birras originárias na parte de baixo do cérebro:
O seu filho de 4 anos acordou várias vezes durante a noite com pesadelos. De manhã, custa-lhe levantar-se e saem à pressa de casa só com um iogurte líquido para ele beber pelo caminho. O trânsito está caótico. Por isso, decide parar um pouco no centro comercial até ao trânsito melhorar. O seu filho vê um carrinho onde adora andar e pede-lhe para dar uma voltinha. Você decide que sim para lhe dar uma pequena recompensa. Ao abrir a carteira repara com não tem trocado e diz ao seu filho que não pode ser. O seu filho fica com a cara triste e começam a cair lágrimas pela sua cara abaixo. O choro aumenta, ele soluça e deita-se no chão. Há pessoas a olhar, mas ele não repara. Tenta dar-lhe um abraço para o confortar, mas ele chora ainda mais. Não sabe mais o que fazer, pega nele ao colo para saírem dali…
A criança cede à exaustão e sono acumulados
Esta birra deu-se devido a uma acumulação de exaustão, noite mal dormida, stress, pouca comida. Consequentemente, não poder andar de carrinho foi a gota de água para a birra começar.
Nestes casos, o melhor é abraçar o seu filho, assim como tentar ajudá-lo a acalmar-se.
As birras do “andar de cima” do cérebro
As birras do “andar de cima” do cérebro têm uma motivação diferente. O “andar de cima” do cérebro demora muito mais tempo a desenvolver-se do que o “andar de baixo”. Efetivamente só pelos 20 anos de idade se encontrará totalmente desenvolvida. Esta parte é responsável pelo raciocínio mais elaborado e controlo dos impulsos.
Exemplo de uma birra originária no “andar de cima” do cérebro
Assim, vamos agora ver um exemplo de uma birra originária no nesta parte do cérebro para melhor perceber o conceito:
O seu filho de 4 anos acordou após uma longa noite de sono. De manhã, após um pequeno-almoço delicioso, saem para fazer alguns recados. Pelo caminho, decide passar pelo centro comercial. O seu filho vê um carrinho onde adora andar e pede-lhe para dar uma voltinha. Você decide que sim pois portou-se tão bem. Ao abrir a carteira repara com não tem trocado e diz ao seu filho que não pode ser. O seu filho diz zangado que quer ir e quer ir mesmo. Você diz que naquele dia não é possível. Ele bate o pé e insiste. Você volta a negar explicando o porquê. Ele atira-se para o chão e desata a chorar a plenos pulmões e a bater com as pernas e punhos no chão. Tenta agarrá-lo para irem embora mas ele continua no chão aos berros. Não tem outra solução, senão ficar ali à espera que a birra passe…
A criança procura manipulá-lo
Esta birra deu-se pois o seu filho queria manipulá-lo para que conseguisse o seu objetivo. Ao ver que lho negava, fez uma birra em frente a toda a gente para que se sentisse embaraçado e assim lhe fizesse a vontade.
Nestes casos, o melhor é não intervir pois, assim como não estabelecer contacto direto com o olhar e esperar que ele se acalme.
Artigo baseado em Positive Parenting Solutions