Por vezes, é difícil incentivar as crianças a experimentar coisas diferentes. Nos últimos anos, muito devido à pandemia, o acesso à novidade e ao desconhecido sofreu uma grande alteração – menos exposição a atividades extracurriculares, viagens limitadas, menos encontros com os amigos, menos brincadeiras ao ar livre, entre muitas outras oportunidades perdidas.
A pandemia Covid-19 trouxe, ainda, um sentimento de medo aos mais pequenos e muitos vêm, agora, o mundo como um lugar mais assustador e imprevisível.
Eli Lebowitz, diretor do Yale Child Study Center, nos Estados Unidos, explica que crianças mais ansiosas, preferem “previsibilidade, familiaridade e rotina” e não gostam de “incerteza, imprevisibilidade e mudanças” – constantes na vida de qualquer pessoa durante o período de pandemia.
Já começamos a voltar à normalidade, mas, segundo o especialista, ainda estamos um pouco enferrujados”. As crianças precisam de sair e experimentar o mundo e os pais e cuidadores precisam de ajuda para descobrir como as ajudar, sem fazer os mais pequenos sentirem-se inseguros ou desconfortáveis.
É importante que os pais projetem confiança junto dos mais pequenos
Vamos a umas dicas?
Comece por aquilo que já conhecem e gostam
Pense em algo que os seus filhos já dominam ou gostam, mas leve-os para experimentar essa atividade ou hobby num novo ambiente ou de maneira ligeiramente diferente.
Maurice J. Elias, professor de Psicologia da Rutgers University, nos Estados Unidos, defende que os pais devem ajudar os filhos a sentirem-se confiantes com os seus pontos fortes e usar isso como um “trampolim para tentar algo novo”. Por exemplo, se o seu filho toca um instrumento, porque não o incentiva a ensair num local diferente, com outros estímulos?
As rotinas são amigas
Por vezes, uma coisa nova funciona melhor quando já faz parte de algo antigo. Esta é uma tática particularmente útil com crianças que apresentam dificuldades na aprendizagem e raciocínio, mas, também, para a criança avessa à mudança.
Apesar de contraditório, as rotinas podem ser muito úteis na hora de introduzir um novo elemento ou nova experiência na vida da criança. O segredo passa por manter os rituais que tem com os seus filhos e aventurarem-se a fazer algo ligeiramente diferente num deles, dando à criança o poder de decidir se o quer fazer.
Simpatia e encorajar
Reconheça os medos dos seus filhos e, ao mesmo tempo, confie – e passe essa mensagem – de que são perfeitamente capazes para lidar com a tarefa ou com a nova atividade.
Alguns pais tendem a dizer às crianças que o que elas temem não é assustador, o que pode acabar por invalidar as suas emoções; outros tendem a confortar e a despreocupar a criança, referindo que não há problema se não quiser fazer determinada ação, o que, por sua vez, pode contribuir para validar os seus medos.
Encontre aqui um meio termo: reconheça que algo pode ser assustador, desconfortável ou difícil, mas projete confiança. Diga aos seus filhos que acredita neles, que sabe que têm todas as ferramentas para lidar com o desafio e ultrapassar as preocupações e os sentimentos negativos que podem surgir ao experienciar algo pela primeira vez.
Lembre-se que os pais são como espelhos para as crianças, os seus verdadeiros exemplos, e que estas aprendem por imitação.
Como evitar passar os seus medos e inseguranças aos seus filhos
Façam uma lista
Pergunte ao seu filho o que gostava de experimentar de novo – ou peça-lhe que escreva numa lista. Ajude-o a descobrir com o que está preocupado quando evita coisas novas, seja uma festa do pijama na casa de um amigo ou experimentar um novo prato num restaurante diferente do habitual.
Psicólogos afirmam que o simples ato de identificar e nomear os medos pode ajudar a diminuí-los. É uma forma de colocar as crianças no comando das suas emoções, fazendo-as compreender a ligação entre sentimentos, pensamentos e ações.
Avalie se vale a pena
Também muito importante neste processo, é avaliar se vale a pena forçar algo. Seja encorajador, mas não exagere nem se foque apenas no que a criança não está a fazer. Por vezes, é esta visão que impede os pais de prestar atenção ao que a criança se está a dedicar no momento e a dar o seu melhor.