No seu livro “Ansiedade , Como Enfrentar o Mal do Século”, o psiquiatra, cientista e escritor Augusto Cury afirma “Vivemos numa sociedade urgente, rápida e ansiosa. Nunca as pessoas tiveram uma mente tão agitada e stressada.
Paciência e tolerância para as contrariedades estão a tornar-se artigos de luxo. E quando não estão a dedicar-se a atividades interessantes, facilmente se angustiam.
Estamos na era da indústria do entretenimento e, paradoxalmente, na era do tédio. Estas pessoas conhecem muitas outras nas redes sociais, mas raramente conhecem alguém a fundo e, o que é pior, raramente se conhecem a si próprias.”
Será que esta cultura influencia a forma como educamos e nos relacionamos com os nossos filhos? A pressa de fazer, a pressão de ser o melhor, a prevalência do estudo ao brincar ajuda as nossas crianças a serem felizes e criativas?
Em entrevista, Augusto Cury, fala em sete pontos que nos podem ajudar a refletir sobre a forma como as crianças sentem e vivem na sociedade atual e sobre o nosso papel de pais e educadores.
1. Excesso de estímulos
A sociedade atual está a fazer com que as crianças percam as suas competências sócio emocionais mais importantes: colocarem-se no lugar do outro, pensar antes de agir, expor e não impor as ideias, aprender a arte de agradecer.
As crianças precisam de aprender a lidar com as suas emoções, a ter consciência crítica e a desenvolver a sua capacidade de concentração.
Isso exige acompanhamento e atenção dos pais no dia-a-dia. O excesso de estímulos provocado pela televisão, jogos e computadores (válido para pais e filhos) não permite que a família tenha tempo para crescer em conjunto.
2. Geração triste
“Nunca tivemos uma geração tão triste, tão depressiva. Precisamos ensinar as nossas crianças a fazerem pausas e a contemplar o belo.”
A geração atual precisa de muito para sentir prazer: viciamos nossos filhos e alunos a receber muitos estímulos para sentir migalhas de prazer. Resultado: são intolerantes e superficiais.
“A família precisa de se lembrar que o consumo não faz ninguém feliz. Suplico aos pais: os adolescentes precisam de ser estimulados a aventurarem-se, a ter contacto com a Natureza, a encantarem-se com a astronomia, com os estímulos lentos, estáveis e profundos da Natureza que não são rápidos como as redes sociais.”
3. Partilhar a dor
As crianças precisam de aprender a lidar com os seus sentimentos de perda e frustração e os pais têm um papel fundamental nesse processo.
“Os pais precisam de falar sobre as suas lágrimas, as suas dificuldades, os seus fracassos.”
Os pais que não têm tempo para estar com os filhos, que os deixam passar mais tempo com tablets e smartphones, que compensam as suas ausências com bens materiais não conseguem conhecer verdadeiramente os filhos nem partilhar experiências.
É preciso sentarem-se para conversar: “Filho, eu também fracassei, também tive desilusões, também fui rejeitado. Houve momentos em que chorei.”
Quando os pais compreendem os sentimentos dos filhos e partilham os seus, as crianças aprendem a lidar com as suas emoções, crescem e sentem-se apoiados. Afinal, o que sentem não é assim tão diferente do que os outros sentem em situações parecidas.
4. Intimidade
Para criar empatia com os sentimentos dos filhos, para que pais e filhos se conheçam verdadeiramente, têm que passar tempo juntos. Precisam de desenvolver atividades em conjunto, partilhar valores, contar histórias da família, educar com espontaneidade.
Pessoas felizes relacionam-se positivamente com os outros. Conseguem ver e apreciar as suas virtudes. São emocionalmente equilibradas. Este bem-estar pessoal reflete-se na forma como se relacionam e veem os outros e como educam os filhos.
5. Brincar mais
As crianças têm direito a viver a sua infância livremente. Sem calendário de atividades, sem agenda pré-definida. Brincar só porque sim. Porque faz parte do seu desenvolvimento. Porque as ajuda a descobrir o seu mundo interior e exterior. Porque lhes dá competências para as fases seguintes da vida.
“Hoje em dia, as crianças têm muita informação mas pouco conhecimento.” Passam demasiado tempo inertes em frente à televisão em vez de saírem para o exterior para brincar, conviver com os pares, explorar e aguçar a curiosidade.
6. Elogiar mais
É sempre mais fácil criticar do que elogiar. Em vez de apontar falhas, os pais devem festejar os acertos. Há motivos diários para elogiar. Pequenas conquistas, ações positivas, comportamentos corretos.
Pais que se manifestam só para criticar constrangem, provocam timidez, insegurança e limitam a capacidade empreendedora dos filhos. Felicitar comportamentos positivos através do elogio, incentiva as crianças a fazerem melhor, a acreditar nas suas capacidades e promove a auto-estima.
7. Ter tempo para ter tempo
Há pais que só sabem reclamar, que não sabem ouvir nem trabalhar as perdas. “São adultos, mas com idade emocional não desenvolvida.” Para se tornarem num modelo, os pais precisam de estar emocionalmente equilibrados.
Precisam de dedicar tempo de qualidade aos filhos. Desligar o telemóvel e estar com as suas crianças de modo consciente. Contemplar a vida, deslumbrar-se com os filhos, celebrar as conquistas e estar presente na vida dos filhos. Fazer coisas em conjunto, criar memórias agradáveis, brincar, passear, conversar, trocar ideais e experiências, ter tempo para ter tempo.