Os afetos e o amor são necessidades básicas para todos nós, nomeadamente para as crianças. Vários estudos já comprovaram que é na relação precoce que se estabelece entre o bebé e os pais ou os cuidadores que se encontram as bases para um saudável desenvolvimento cognitivo, assim como para as competências pessoais e socio emocionais da criança.
De certeza que já ouviu comentários dirigidos a alguns pais – ou até mesmo a si – que vão “estragar” o pequeno com mimos. Será esta ideia mesmo verdade ou apenas uma frase cliché?
Para a psicóloga Rita Rendas, “não há excesso de mimos”. Nunca é demais dar um afeto – seja um beijo, um abraço, um carinho, colo -, nem tenha receio de repetir inúmeras vezes o quanto gosta do seu filho. As crianças devem-se sentir amadas e acarinhadas e só assim é que constroem bases que lhes permitem crescer felizes, seguras e realizadas.
Todas as crianças precisam de afeto e de se sentir amadas.
“O problema está na falta de mimo”
No entanto, não devemos confundir nem associar o mimo – a nível afetivo e emocional – a comportamentos como proteção excessiva das crianças, limitação da autonomia ou ausência de regras. Os pais devem acompanhar o crescimento dos filhos mas, ao mesmo tempo, dar liberdade para construírem a sua própria identidade e viverem as suas experiências, mesmo que, muitas vezes, resultem em erros ou falhas.
“Se entendermos o mimo como algo relacionado com afeto, e não com bens materiais, podemos mesmo dizer que a problemática não está no excesso, mas antes na falta dele“, acrescenta a psicóloga. As relações frias ou a ausência de vínculo entre o bebé e os pais ou cuidadores, têm consequências.
Segundo Rita Rendas, é algo “nocivo” e pode manifestar-se na dificuldade da criança em expressar afeto pelo outro, em estabelecer e manter relações afetivas significativas, no desenvolvimento de uma autoestima frágil, e, não raras vezes, dependente da validação e aprovação de outros, levando a criança a desenvolver e a nutrir crenças de auto desvalorização.
Como tal, é cada vez mais importante falar e desmitificar esta ideia que, frequentemente, leva a que se “vede algum afeto às crianças que estas merecem por inteiro e sem medida”.
Construir uma relação sólida e equilibrada
As demonstrações de afeto, o colo, as brincadeiras vão fortalecer a relação entre pais e filhos, dar segurança à criança e transmitir algo muito simples, mas fundamental para o seu crescimento e para toda a vida: “O amor que os pais têm por ela – e ensinar-lhe que este amor não está em causa por nada que ela faça, o que permitirá que se torne mais confiante e segura e com uma vinculação emocional mais sólida.”
A psicóloga afirma ser fundamental trabalhar numa relação saudável e equilibrada para ambas as partes e alerta que este é um trabalho constante e diário, nomeadamente para os pais. “A relação cria-se ao investir tempo de qualidade, sem distrações e focado totalmente na criança”.
Para isso, muito contribuem as atividades lúdicas, os momentos de brincadeira, o colo, as manifestações de afetos, o promover do abraço e, muito importante, recorrer à leitura para melhor compreender as emoções e aquilo que está por detrás e alimenta a relação entre pais e filhos.
Por isso, se voltar a ouvir a célebre frase “Vais estragar a criança com mimos”… Já sabe o que responder: não se “estraga” um bebé com mimos, muito menos com amor!