Todos caminhamos para uma sociedade cada vez mais fraterna e igualitária, onde todos têm os mesmos direitos, mas também as mesmas obrigações.
Na sociedade em geral, atualmente e ao contrário de muitas gerações anteriores onde o filho primogénito tinha mais direito do que os restantes, é de senso comum tratar e cuidar dos filhos de igual forma, com as mesmas oportunidades e com o mesmo carinho.
Apesar de isto estar bem presente, é certo que nas famílias e nas relações entre os seus membros podem existir dissonâncias em relação a este princípio, havendo por vezes inclinações para determinado filho, podendo assumir como o seu preferido.
Por afinidades emocionais, alguns pais atribuem preferência a determinado filho, que pela sua personalidade, parecenças físicas ou até desempenho escolar, recolhe mais afeto de um ou outro membro em detrimento da restante fratria.
Escusado será falarmos do dano que esta situação pode causar a um irmão que durante anos conviveu com a sua “não preferência”, muitas vezes encarnada na célebre frase “olha para o teu irmão e aprende”.
Quando estamos a falar de uma pessoa diferente, temos que contar, obviamente, com necessidades diferentes.
E a preferência emocional deixa muita mágoa a quem não a tem.
Mas e quem a tem, viverá no paraíso?
Muito provavelmente também não.
Se por um lado os filhos que não recolhem a preferência podem viver numa constante frustração e numa busca desenfreada pelo afeto (pelo menos com igual intensidade) ao que é dado ao filho preferido, por outro, o “filho troféu” pode sofrer tanto ou mais pelo tratamento especial que lhe é concedido.
A constante pressão para “agradar” pode retirar a criatividade de que tanto o desenvolvimento saudável precisa e criar uma dificuldade grande na sua própria autodescoberta, pela supressão dos seus desejos e ideais em detrimento daqueles que os pais idealizam por ele.
Como tal, uma deficitária compreensão da sua própria identidade pode originar uma autoestima alta e frágil assim como uma pobre capacidade para tomar decisões, uma vez que depende dessa mesma idealização externa para perceber que caminho deve seguir.
Assim, se por um lado o irmão menos protegido se viu obrigado a crescer internamente no sentido de se tornar seguro para conseguir tomar as suas próprias decisões, o irmão mais protegido pode não ter tido essa oportunidade, podendo o processo inverso ser uma realidade.
Na interação familiar existe sempre um dinamismo de elevada frequência e que no fundo define a sua constante que é a própria família.
É nessa dinâmica que os pais devem olhar para os filhos e para as necessidades individuais ao longo do seu percurso de desenvolvimento.
Não pode haver filhos preferidos e filhos não preferidos.
Cada um, à sua maneira tem capacidades, trejeitos e feitios ora bons, ora maus. Valorizar essa pluralidade é essencial para um crescimento saudável de todos, absorvendo necessidades específicas de cada elemento à medida que o tempo passa.
E é dessa diversidade que brota o conceito essencial de fraternidade e vinculação que podemos definir com a própria expressão: famíla.