Quantos de nós sentimos que estamos a adiar aquele sonho? Quantos dedicamos o tempo a tarefas que não nos fazem sentir realizados?
E entramos na rotina dos dias, acabando por fazer sempre a mesma coisa? Quantas vezes o cansaço toma conta do corpo, da mente e da alma? E sentimos que temos uma idade mais avançada do que a que realmente consta no cartão de cidadão? E esses projetos adiados ficam lá no fundo do horizonte, cada vez mais difíceis de alcançar?
Alguns estudos feitos em Ogimi, uma vila japonesa em Okinawa, conhecida como vila dos centenários, revelam os hábitos que os idosos japoneses adotam para um vida longa, serena e feliz. E que nós, ocidentais, podemos seguir e colocar em prática nos nossos dias.
Primeiro conselho: encontrar o nosso ikigai (um conceito japonês que significa “razão de viver”)
Sabem aqueles talentos de criança – cantar bem, desenhar fora da caixa, escrever textos bonitos de “Era uma vez…” ou “Quando eu for grande quero…”?
Vamos repescá-los e perceber o quão guardados ficaram no nosso baú juntamente com as bolas, as bonecas e os restantes brinquedos.
O nosso propósito na vida passa por fazermos aquilo para que temos um dom especial, e todos nós o temos.
Quando crescemos e passamos a viver esta “vida de adultos” de pagar contas, tratar das lides da casa, escolher roupas para os filhos, etc., podemos esquecer-nos do que realmente nos apaixona fazer.
Mas se pararmos um bocadinho para refletirmos sobre o que realmente nos motiva e faz levantar da cama com toda a garra pela manhã, facilmente chegaremos ao nosso ikigai.
O mestre Kahlil Gibran, na sua obra-prima “O Profeta”, falava deste sentido de missão num belo texto: “Quando trabalhais satisfazeis uma parte do sonho mais profundo da terra, que vos foi atribuído quando esse sonho nasceu, e ao trabalhardes estais, na verdade, a amar a vida.”
Todas as ocupações são igualmente importantes e essenciais para a concretização desse sonho maior do Universo, desde que estejam alinhadas com o propósito de vida de cada pessoa.
Enquanto mães e pais, é fundamental partilharmos estes ensinamentos com os nossos filhos, por dois motivos:
- Primeiro, para que estejamos atentos desde cedo aos talentos dos nossos filhos de forma a podermos ajudá-los a investir e a aprofundar a criatividade nesse sentido;
- Segundo, para que relembremos que temos sonhos antigos a vibrar dentro de nós e nunca percamos a esperança de os concretizar.
Ao seguirmos o nosso propósito estamos, simultaneamente, a dar o exemplo aos nossos filhos e a mostrar-lhes o caminho para uma vida com mais sentido, logo, mais feliz.
Segundo conselho: saber viver em comunidade
Promover o convívio com os amigos é importante, e aqui temos muito a aprender com as crianças que habitualmente são sociáveis, entram facilmente em novos círculos de amigos ou grupos de atividades. As amizades cultivam-se todos os dias, por isso, é essencial reservar um bocadinho de tempo nos dias preenchidos para telefonar aos amigos, para agendar um jantar, um lanche ou uma atividade juntos.
Crie oportunidades de encontros de forma a que os seus filhos possam conviver com os filhos dos seus amigos, com os primos ou com os amiguinhos da escola ou dos grupos de atividades extra.
As pessoas mais velhas do mundo dizem mesmo que falar com as pessoas de quem gostam pode ser o segredo para uma vida longa.
Os centenários japoneses evitam estar sozinhos em casa, horas a fio a ver programas televisivos ou a ler o jornal. Gostam de sair, fazer voluntariado, cuidar de hortas comunitárias ou dedicar-se a atividades de lazer e sociais.
Ao mesmo tempo que combatem um possível vazio que poderiam sentir, adotam um estilo de vida ativo e saudável. Ocupam e distraem o tempo a brincar com crianças, animais de estimação, a caminhar ou a praticar um desporto.
Como pais, podemos seguir o exemplo e promover estes hábitos salutares nos nossos filhos:
- Por um lado, fomentando as relações interpessoais presencialmente numa era em que os jogos online e as redes sociais se tornaram fortemente apelativas para as crianças e os jovens;
- Por outro lado, combatendo a elevada taxa de obesidade infantil provocada pelo sedentarismo, que acarreta outros problemas de saúde, reduzindo a tonicidade muscular e a capacidade respiratória, favorecendo a hipertensão e as doenças cardiovasculares, por exemplo.
Terceiro conselho: celebrar a vida todos os dias
Vivemos todos os dias o que nos pode levar a desvalorizar o milagre que é a vida. Os clássicos tinham por hábito lembrar que ninguém nos pode garantir que o segundo a seguir ao segundo em que vivemos agora nos pertence.
Lembram todos os dias a morte, não num sentido triste ou macabro, mas com a intenção de terem sempre presente que somos mortais. Como tal, celebrar a vida todos os dias deveria ser um compromisso.
Talvez nos estamos a focar sobretudo nas ocasiões “especiais”, nas férias, nas festas de aniversário, nos momentos diferentes como um casamento, uma promoção no trabalho ou um prémio que chegue, quando na verdade todos os dias são únicos e motivo de festa. Os festejos e as comemorações são componentes essenciais do estilo de vida de Ogimi.
Os centenários não precisam de motivos para cantarem, dançarem e se juntarem todos à volta de uma mesa a beber um chá verde e a provarem bolos caseiros.
Incutir nos nossos dias o hábito de olhar para cada um como um evento, agradecendo-o e vivendo-o intensamente, ajuda-nos a manter o foco no que realmente importa para uma vida equilibrada.
E que tal criarmos o hábito diário de, ao começarmos o dia, o agradecermos em família ao pequeno-almoço? Podemos até incluir nesse agradecimento um abraço e um sorriso desenhado na panqueca com um gomo de laranja!