O mundo dos videojogos cresceu exponencialmente e é hoje muito diferente da realidade que os pais conheciam. As crianças já nascem com a tecnologia na ponta dos dedos e há cada vez mais crianças a relatar que se querem tornar gamers profissionais.
Estudos têm demonstrado que nem tudo negativo e que os videojogos têm, na verdade, benefícios para as crianças, estimulando o pensamento estratégico, criatividade e sentido de cooperação. Estas vantagens – como em tudo -, apenas surgem quando esta atividade é usufruída com equilíbrio, e, para isso, não deve haver desinteresse ou desinvestimento das outras áreas da vida dos mais pequenos e jovens.
Quais são os benefícios dos videojogos?
Benefícios cognitivos
- Melhoria da capacidade de atenção, da habilidade de detetar objetos num grande campo de distrações, redução da impulsividade e ajuda na superação da dislexia;
- Melhoria da capacidade de visão;
- Capacidade de realizar mais do que uma tarefa ao mesmo tempo; aumento da flexibilidade mental; prevenção de declínio cognitivo consequente da idade; melhoria da capacidade de resolução de problemas.
Benefícios emocionais
- Melhoria significativa do humor e sentimentos positivos;
- Maior facilidade em regular as emoções e reavaliar situações para lidar com problemas, algo que depois passa para a vida “real”.
Benefícios sociais
- Desenvolvimento de várias competências sociais que se generalizam para as suas relações externas aos videojogos, como cooperação, espírito de equipa, etc.
O mundo dos videojogos
Com este novo mundo, podem surgir inúmeras dúvidas aos pais. Mas, afinal, quantas horas podem jogar? Se jogar mais de 4 horas é considerado vício? Quando o meu filho diz que quer ser jogador profissional,
o que devo fazer? Afinal aquilo não é só um jogo?
De facto, ainda há muitas crenças a desconstruir neste universo dos gamers. Há cada vez mais jogadores a aderir aos videojogos com diferentes valências sociais, económicas e académicas e já é visível um maior número de raparigas a jogar, o que comprova que o mundo dos jogos não é só para rapazes.
Para além disso, há muito tempo que os videojogos deixaram de ser pura diversão e entretenimento. Várias modalidades de videojogos são já encaradas como desporto e, inclusive, já estamos a falar de uma indústria com jogadores profissionais que competem em torneios internacionais. Também é possível ver cursos e pós-graduações focados nesta temática. Mais ainda, os jogos são capazes de abordar temas que influenciam a vida e os comportamentos no dia-a-dia das crianças, sendo uma excelente ferramenta de aprendizagem.
O outro lado da moeda
Porém, o vício ao jogo é real e afeta muitas crianças e jovens. Há relatos de crianças que acordam de madrugada para jogar com os amigos (enquanto os pais estão a dormir), o que tem impacto no seu bem-estar e desempenho na escola. Este vício nos jogos atinge, principalmente, os jovens dos 18-24 anos, mas os mais novos não estão imunes aos perigos.
Sintomas a que deve estar atento
A Associação de Psiquiatria Americana (APA) e Organização Mundial de Saúde (OMS) identificaram nove critérios a que os pais ou cuidadores devem estar atentos:
- Pensamento repetitivo e excessivo com os videojogos;
- Sintomas de abstinência – zanga ou tristeza – quando o indivíduo é privado do jogo;
- Zero tolerância por não estar a jogar;
- Tentar diminuir ou alterar o comportamento face aos jogos, mas sem sucesso;
- Perda de interesse em antigos passatempos em detrimento dos videojogos;
- Uso continuo e excessivo dos videojogos online mesmo conhecendo os riscos (fraco desempenho escolar, perda de amigos, fraca socialização com família, etc);
- Mentir sobre o tempo que passa a jogar;
- Utilização dos videojogos como fuga a determinadas experiências e emoções difíceis de lidar, como ansiedade e depressão;
- Dano ou perda de relações significativas.
Os sintomas não podem ser vistos de forma isolada e devem sempre ser analisados por um profissional de saúde.
É importante relembrar que a causa não é a atividade em si, mas antes o comportamento excessivo e nocivo da mesma que ocorre devido a um conjunto de necessidades psicológicas que não estão a ser cumpridas na vida das crianças e dos jovens. Isto gera sentimentos de falta de competência, liberdade/autonomia, dificuldades nas relações sociais e, por consequência, um mal-estar geral que leva a que os videojogos se tornem num escape à vida real.
Dicas para os pais
- Conversar com o seu filho e conhecer o tipo de jogos que o seu filho mais gosta;
- Conhecer os riscos, benefícios e o contexto dos videojogos do seu filho é importante para compreender os sinais de alerta e prevenir situações de risco. Ao mesmo tempo, ambos podem aproveitar os recursos positivos da atividade;
- Incentivar e acompanhá-lo a eventos de videojogos (por exemplo, Lisboa Games Week) para mostrar apoio e compreensão pelo hobby;
- Negociar (e não impor) regras e rotinas no dia a dia do seu filho. Assim, estamos a promover um atitude de responsabilidade, já que a criança/jovem comprometeu-se a cumprir com uma determinada tarefa;
- Garantir uma comunicação clara e sem barreiras entre pais e filhos e garantir que estão conscientes dos riscos e das consequências da adição aos videojogos;
- Estar atento ao PEGI (fornece informação sobre classificações etárias) no momento da compra dos jogos;
- Obter feedback regular por parte da escola sobre o comportamento, avaliações e vida social do jovem.