Quando uma doença grave surge num dos membros da família, os seus membros irão muito provavelmente sofrer. Esta condição é em grande parte inevitável, porque a doença e a morte mais tarde ou mais cedo acontecerão, provocando uma rutura e também uma reestruturação num sistema que era estável e que se desequilibrou com esta situação.
As crianças também sofrem e a tendência para o silêncio durante estes momentos de doença é grande.
Não devemos julgar quem o faz, uma vez que grande parte deste silêncio é realizado com boas intenções, como uma espécie de proteção dos mais pequenos e de um sofrimento que eles teriam que passar.
Em todo caso, no meio deste silêncio, a criança não é inerte ao mesmo.
Afinal de contas, o silêncio não fazia parte da dinâmica familiar e de repente instalou-se.
Com isto as interações também mudaram: uma maior tristeza e uma diferente comunicação por parte dos pais, imprime uma sensação de estranheza à criança, que com a dificuldade que tem em exprimir as suas emoções, manifesta esse desconforto que sente através de uma birra, da pioria das notas na escola, do mau comportamento ou rebeldia.
Podemos afirmar que todas as crianças são diferentes, mas também podemos afirmar que todas elas sentem.
Um familiar gravemente doente no seio familiar não será assim, por muito que os membros queiram, inerte à criança, que mesmo que lhe ocultem o que se passa, ela ir-se-á aperceber de que algo não está bem de outra maneira.
Mentir não deve assim ser opção, uma vez que dizer que está tudo bem verbalmente mas demonstrar o contrário pelas atitudes, pode trazer mais instabilidade e graus de sofrimento superiores.
Assim, a informação deve ser partilhada com as crianças, embora com o cuidado necessário. Importante lembrar que um adulto dispõe de uma experiência de vida que suporta os seus mecanismos de defesa e que lhe permite ter a resiliência aprimorada quando confrontado com situações de potencial sofrimento.
Ao contrário, a criança não tem essa dinâmica proporcionada pela experiência de vida que lhe permita uma estrutura estável neste sentido quando comparado com um adulto.
Nesse âmbito, devem ser adequadas as informações fornecidas com foco nas fases de desenvolvimento de cada um, adequando também a linguagem à sua idade.
Apesar de ser um processo que considera muitas variáveis, poderíamos afirmar que a criação de uma sensação de segurança estará na base deste tipo de comunicação.
O silêncio, os choros e o desconforto que ela sente e respira em família e que não tinha anteriormente, fazem com que se sinta desconfortável e triste. É importante neste momento que a família proporcione uma sensação de segurança, permitindo que ela se expresse e que sinta que faz parte de algo que não acabou nem vai acabar.
Numa postura dessas, recolherá mais facilmente experiências que contribuirão para um desenvolvimento mais saudável do que simplesmente ser “isolada” de todas as conversas, sentindo-se não como parte de uma família, mas como alguém de fora.
Uma família é a base de uma civilização. E como tal deverá atuar em conjunto para proporcionar o maior bem-estar possível aos seus elementos.
Quando um dos elementos adoece, os restantes apoiam, tratam e ajudam dentro das suas limitações e das limitações que o doente tem.
Compreendendo que todos enquanto família agem em prol dos outros elementos, a criança interage com o doente, expressa as suas emoções e os seus anseios que são recebidos, não ocultados e que encontram espaço onde devem ter espaço: na sua família.